sábado, 28 de julho de 2018

O Testamento de Gad (Gade)




(Do ódio)

            Capítulo 1
          1 Transcrição do testamento que Gad passou aos seus filhos, no seu centésimo vigésimo sétimo ano de idade: "Eu fui o nono filho de Jacó, e sempre era expedito junto aos rebanhos. Eu os guardava à noite. Quando se aproximava um leão ou um lobo, ou qualquer outro animal selvagem, eu os perseguia, agarrava-os pelas patas e atirava-os à distância de um tiro de pedra, e assim os matava. E José pastoreava conosco pelo período de trinta dias. Mas adoeceu, por causa do calor; ele era delicado.

            2 "Assim, voltou para casa, em Hebron, junto do pai. E este deixou-o descansar junto de si; amava-o tanto! E José contou ao nosso pai que os filhos de Zilpa e de Balla abatiam o melhor dos rebanhos para comer, totalmente contra as recomendações de Rubem e de Judá.

            3 "Acrescentou também que eu havia arrancado um cordeiro dos dentes de uma ursa, matando-a em seguida; e que não podendo o cordeiro continuar vivo, tive de abatê-lo, mas isso contra a minha vontade, e que depois o comemos. Por isso, fiquei com muita raiva de José, até o dia em que foi vendido e levado para o Egito. O espírito do rancor tomou posse de mim. Eu não queria nem ver nem ouvir José. Ele nos acusava frontalmente de subtrairmos animais do rebanho, contra a vontade de Judá, para comê-los. E nosso pai acreditava em tudo o que ele dizia.

            Capítulo 2
            1 "Agora, meus filhos, eu reconheço o meu pecado, por muitas vezes haver deseja domatá-lo. Eu o odiava do fundo de minh'alma. Mais ainda o detestei por causa do seu sonho. Eu queria eliminá-lo da terra dos vivos, da mesma forma como o novilho arranca o capim do chão.

            2 "Assim, eu e Simeão vendemo-lo aos ismaelitas, por trinta peças de ouro; dez escondemos, mostrando apenas vinte aos irmãos. Cegados pela cobiça, preferíamos tê-lo matado. Entretanto, o Deus dos nossos Pais subtraiu-o das nossas mãos, não permitindo que eu cometesse um grande delito em Israel.

            Capítulo 3
            1 "Agora, meus filhos, escutai as palavras da verdade, para poderdes seguir nos caminhos da justiça e cumprir as Leis do Altíssimo! Não vos deixeis seduzir pelo espírito do ódio! Ele perverte todas as obras humanas. O homem possuído pelo ódio detesta tudo quanto os outros fazem. Se alguém cumpre a lei do Senhor, ele não louva; se alguém tem temor a Deus e procura justiça, despreza-o.

            2 "A própria Verdade não lhe serve. Tem inveja do homem que é feliz; agrada-lhe a difamação e compraz-se com a arrogância. O ódio cega-lhe a alma, como eu experimentei em relação a José.

            Capítulo 4
            1 "Guardai-vos portanto do ódio, meus filhos! Pois ele constitui um pecado diante de Deus. Não obedece ao mandamento do amor do próximo; mas sim, transgride a Lei do Senhor.

            2 "Quando um irmão tropeça, propala isso imediatamente a todos, e força para que seja julgado e castigado, e mesmo que sofra a morte. Em se tratando de um escravo, instiga-o contra o seu patrão; e estimula neste todos os motivos para matá-lo.

            3 "O ódio associa-se à inveja contra aqueles que são felizes; quando ouve falar da sua felicidade e a presencia, fica doente. Pois, se o amor deseja ressuscitar os próprios mortos e resgatar os que à morte se destinam, o ódio deseja massacrar os vivos e não permitir que vivam nem os pecadores veniais. O espírito do ódio é pusilânime, e age constantemente aliado a Satanás para atentar contra a vida dos homens; o espírito do amor porém age com benevolência, aliado à Lei divina, para a salvação dos homens.

            Capítulo 5
            1 "O espírito do ódio é péssimo; junta-se constantemente à mentira para pôr obstáculos à verdade. Avoluma o que é pequeno; da luz faz trevas. Chama amargo o que é doce, espalha a calúnia, suscita o rancor, instiga o desentendimento e a violência e todas as paixões, e instila no coração o veneno diabólico. Isso vos digo por experiência própria, meus filhos; fugi do ódio demoníaco e apegai-vos ao amor do Senhor!

            2 "A retidão expulsa o ódio, e a humildade o mata. Pois o justo e o humilde guardam-se de praticar a injustiça; o seu próprio coração os censura, não os outros. O Senhor conhece as suas inclinações. O justo não abre a sua boca contra um homem piedoso, pois está pleno de temor a Deus. Pelo temor de ofender ao Senhor, guarda-se bem de fazer o mal a quem quer que seja, mesmo em pensamentos.

            3 "Isso eu finalmente reconheci, depois de ter feito penitência por causa de José. O arrependimento verdadeiro e divino aniquila a ignorância, dissipa as trevas, ilumina os olhos, proporciona a sabedoria da alma e leva o entendimento ao caminho justo. Assim, aprende do arrependimento o que não aprendeu dos homens.

            4 "Deus mandou-me uma doença do fígado, e não fossem as orações do meu pai Jacó eu teria morrido bem depressa. Na medida em que o homem peca, na mesma medida será castigado. Por ter-se outrora no meu fígado insurgido sem misericórdia contra José, assim padeci do fígado sem piedade, sendo com isso castigado durante onze meses, o exato tempo em que guardei inimizade com relação a José.

            Capítulo 6
            1 "Portanto, meus filhos, ame cada um o seu irmão; e arrancai o ódio do vosso coração! Amai-vos uns aos outros em atos, palavras e pensamentos! Na presença do pai, falei amistosamente com José; mas ao afastar-me, o espírito do ódio obscureceu meu entendimento e excitou minh'alma na intenção de matá-lo. Assim, amai-vos de todo o coração! Se alguém pecar contra ti, retruca-lhe em paz! Afasta de ti o veneno do ódio! Se ele reconhece e se arrepende, perdoa-lhe!

            2 "Se ele renegar, não te batas com ele! Do contrário, voltará a imprecar, e tu serás duplamente culpado. Não ouça uma pessoa estranha o teu segredo numa pendência de justiça, para que não venha a tornar-se teu inimigo pelo ódio, e assim cometa grande pecado contra ti! Tendo-lhe passado o teu veneno, falará contigo ardilosamente e tratar-te-á com má-fé.

            3 "Se ele se retrata e se envergonha da sua mentira, não o censures mais! Pois, ao negar, se arrepende e não te inflige nenhum agravo; ao contrário, honra-te e vive em paz contigo. Mas se ele não se arrepender, fixa-se na maldade. Perdoa-lhe assim mesmo de coração, e deixa para Deus a vingança!

            Capítulo 7
            1 "Se alguém tiver mais sorte do que vós, não vos perturbeis! Rezai por ele, para que desfrute felicidade plena! Isto vos trará recompensa. Se ele for enaltecido ainda mais, não lhe tenhais inveja; mas antes pensai que toda carne sofrerá a morte! Louvai ao Senhor,que provê o útil e o bom a todos os homens! Procurai respeitar os desígnios do Senhor! Então o vosso espírito permanecerá sereno e pacífico.

            2 "Mesmo que alguém enriqueça por meio da iniqüidade, como Esaú, irmão do meu pai, não tenhais ciúme dele! Aguardai tão-somente o final determinado pelo Senhor! Se Ele lhe retirar a mamona injusta, e ele de tudo se arrepende, será perdoado. Quando não, o impenitente será reservado para o castigo eterno.

            3 "O pobre, quando isento de inveja, agrada ao Senhor sob todos os aspectos; não tem intrigas com que ocupar-se com os outros. Afastai a inveja dos vossos corações e amai-vos uns aos outros com sinceridade, diante do Senhor!

            Capítulo 8
            1 "Dizei a vossos filhos que não deixem nunca de honrar Judá e Levi; por intermédio deles o Senhor enviará a Salvação para Israel. Eu sei. Vossos filhos finalmente O abandonarão, comportando-se com maldade, iniqüidade e depravação diante do Senhor."

            2 Nesse momento, ele descansou um pouco. Depois falou-lhes mais uma vez: "Escutai agora, filhos, o vosso pai! Sepultai-me na proximidade dos meus Pais!" Após isso, estendeu suas pernas e morreu em paz. Passados cinco anos, transportaram-no para Hebron e o depositaram junto dos seus Pais.

            Gade (em hebraico: גד, transl. Gad, "sorte") foi, de acordo com o Livro de Gênesis, o sétimo filho de Jacó, primeiro dele com Zilpa, e o fundador da tribo israelita de Gade. O texto da Torá discute que o nome de Gade ("sorte", "fortuna" em hebraico) derivaria de uma raiz que significa "dividiu fora"; a literatura clássica rabínica discute que o nome seria uma referência profética ao maná; isso recorre originalmente a uma deidade adorada pela tribo.

            A tribo de Gade (ou Gad) era uma das doze tribos de Israel. O sétimo filho que Jacó teve de Zilpa, a serva de Leia e irmão de Aser (Gn 30:11-13 e Gn 46:16,18). Em algumas versões, em Gn 30:11, as palavras: "Vem uma turba e chamou o seu nome Gade" deveriam ser traduzidas por: "Com sorte ("afortunado") e chamou o seu nome Gade", ou "Vem a sorte e chamou o seu nome Gade."

            A tribo de Gade, durante a marcha pelo deserto, situava-se, juntamente com Simeão e Rúben, a sul do tabernáculo (Ne 2:14). As tribos de Rúben e Gade, no seguimento da sua história, prosseguiram a actividade dos patriarcas (Ne 32:1,5).

            A porção atribuída a Gade ficava a leste do Jordão e incluía metade de Gileade, uma região de grande beleza e fertilidade (Dt 3:12), que a este fazia fronteira com o deserto árabe, a oeste com o Jordão (Js 13:27) e a norte com o rio Jaboque. Incluía, assim, todo o vale do Jordão até ao Mar da Galileia, onde, então, estreitava.

            Esta tribo era cruel e dada à guerra; eram "varões valentes, homens de guerra para pelejar, armados com rodela e lança; e seus rostos eram como rostos de leões e ligeiros como corças sobre os montes" (1Cr 12:8 e 1Cr 5:19-22). Barzilai (2Sm 17:27) era desta tribo. Foram levados em cativeiro por Tiglate-Pileser III ao mesmo tempo que as outras tribos do norte (1Cr 5:26) e no tempo de Jeremias (1Cr 49:1), os amonitas habitavam nas suas cidades.