sábado, 15 de agosto de 2020

Livro de Enoque (1ª Parte)

 

            Capítulo 1

            OS ANJOS proporcionaram-me a visão d'Ele, e deles é que eu aprendi tudo; por meio deles também me foi dado compreender as coisas que pude ver, mas não em relação à geração presente, mas sim em relação a uma geração futura.

            2 Dos eleitos eu falo, e sobre eles dou início às minhas alegorias: Eis que o Santo desce da sua morada. O Deus Eterno caminha sobre a terra no alto do monte Sinai (Ele desce da sua posição, Ele se mostra) e, em seu imenso poder, revela a glória do mais alto do céu.

            3 E todos os seres existentes são tomados pelo temor; os Guardiões tremem, possuídos de grande angústia e medo, até os confins da terra.

            4 As mais altas montanhas hão de tremer e os picos mais elevados desabarão, derretendo-se como cera ao fogo. A terra será desmantelada e tudo que sobre ela existe será supresso; e tudo será submetido a julgamento.

            5 Mas com os justos Ele firma a paz, protege os eleitos e concede-lhes sua graça. Eles constituirão a propriedade de Deus e estarão na beatitude e na bênção. Ele mesmo a todos protegerá, e a luz divina brilhará sobre eles. Ele mesmo firmará com eles o pacto da paz.

            6 Em verdade! Ele virá com milhares de Santos, para exercer o julgamento sobre o mundo inteiro e aniquilar todos os malfeitores, reprimir toda carne pelas más ações tão iniquamente perpetradas e pelas palavras arrogantes que os pecadores insolentemente proferiram contra Ele.

 

            Capítulo 2

            1 Observai com atenção como no céu nenhum dos corpos altera o seu curso e como as luzes todas do firmamento nascem e se põem, cada uma no seu tempo preestabelecido, e como jamais transgridem a sua ordem!

            2 Considerai a terra! Vede os eventos que do princípio ao fim sobre ela acontecem, e como nela nada se modifica e como todas as obras de Deus se manifestam aos nossos olhos! Contemplai o verão e o inverno, e como a terra toda está repleta de água e como sobre ela se expandem as nuvens, o orvalho e a chuva!

 

            Capítulo 3

            1 Observai e vede a natureza de todas as árvores, que parecem secas, despojadas de todas as suas folhas, à exceção de quatorze espécies que não se despem da sua folhagem mas que conservam a antiga por dois ou três anos, até que brote a nova!

 

            Capítulo 4

            1 Observai como no verão o sol se encontra por sobre a terra, perpendicular a ela! Então procurais lugares frescos e sombra; a terra está constantemente abrasada, de tal sorte que não podeis pisar no solo ou numa pedra, por causa do seu calor.

 

            Capítulo 5

            1 Observai como as árvores se cobrem de folhas verdes, e como todos os seus frutos proclamam a honra e a glória de Deus! Prestai atenção e vede todas as suas obras! Então reconhecereis que foi Aquele que é o Vivo que assim as fez.

            2 Todas as obras por Ele criadas comportam-se de ano para ano de forma constante; e todas as funções que elas cumprem para Ele não se modificam de forma alguma; ao contrário, tudo se realiza como Deus ordenou. Vede como o mar e os rios igual-mente cumprem a sua função!

            3 Mas e vós? Não tivestes perseverança e não cumpristes a Lei do Senhor. Vós caístes, e com as palavras obstinadas e arrogantes proferidas por vossa boca ultrajastes a Sua Majestade. O duros de coração! Não haverá paz para vós.

            4 Com isso estais a amaldiçoar os vossos dias e pondo a perder os anos da vossa vida; e os anos da vossa maldição serão avolumados por uma condenação eterna. Nenhum perdão estará reservado para vós.

            5 Então emprestareis o vosso nome aos justos para que estes o utilizem constantemente para amaldiçoar. Por vosso intermédio, ó vós todos malditos, eles rogarão pragas; por vosso intermédio, ó vós todos pecadores e pérfidos, eles esconjurarão.

            6 Os eleitos, porém, serão contemplados com a paz, a luz e a alegria; mas vós, sacrílegos, sereis alvo da renegação. Os eleitos serão agraciados com a sabedoria; eles viverão e não pecarão nunca mais, nem por ignorância nem por atrevimento; ao iluminado será concedida mais luz e ao inteligente mais entendimento.

            7 Não pecarão nunca mais nem mais serão julgados por todos os dias da sua vida, e não haverão de perecer pela ira de Deus; ao contrário, o número dos seus dias será completado serenamente. A sua vida crescerá na paz, e muitos serão os anos das suas delícias em que viverão jubilosos e em paz por toda a sua vida.

 

 

Primeira Parte O livro dos Anjos

 

            Capítulo 6

            A queda dos Anjos

            1 Quando outrora aumentou o número dos filhos dos homens, nasceram-lhes filhas bonitas e amoráveis. Os Anjos, filhos do céu, ao verem-nas, desejaram-nas e disseram entre si: "Vamos tomar mulheres dentre as filhas dos homens e gerar filhos!"

            2 Disse-lhes então o seu chefe Semjaza: "Eu receio não queirais realizar isso, deixando-me no dever de pagar sozinho o castigo de um grande pecado". Eles responderam-lhe em coro: "Nós todos estamos dispostos a fazer um juramento, comprometendo-nos a uma maldição comum mas não abrir mão do plano, e sim executá-lo".

            3 Então eles juraram conjuntamente, obrigando-se a maldições que a todos atingiriam. Eram ao todo duzentos os que, nos dias de Jared, haviam descido sobre o cume do monte Hermon. Chamaram-no Hermon porque sobre ele juraram e se comprometeram a maldições comuns.

            4 Assim se chamavam os seus chefes: Semjaza, o superior de todos eles, Arakiba, Rameel, Kokabiel, Tamiel, Ramiel, Danei, Ezekeel, Narakijal, Azael, Armaros, Batarel, Ananel, Sakeil, Samsapeel, Satarel, Turel, Jomjael e Sariel. Eram esses os chefes de cada grupo de dez.

 

            Capítulo 7

            1 Todos os demais que estavam com eles tomaram mulheres, e cada um escolheu uma para si. Então começaram a freqüentá-las e a profanar-se com elas. E eles ensinavam-lhes bruxarias, exorcismos e feitiços, e familiarizavam-nas com ervas e raízes.

            2 Entrementes elas engravidaram e deram à luz a gigantes de 3.000 côvados de altura. Estes consumiram todas as provisões de alimentos dos demais homens. E quando as pessoas nada mais tinham para dar-lhes os gigantes voltaram-se contra elas e começaram a devorá-las.

            3 Também começaram a atacar os pássaros, os animais selvagens, os répteis e os peixes, rasgando com os dentes as suas carnes e bebendo o seu sangue. Então a terra clamou contra os monstros.

 

            Capítulo 8

            1 Azazel ensinou aos homens a confecção de espadas, facas, escudos e armaduras, abrindo os seus olhos para os metais e para a maneira de trabalhá-los. Vieram depois os braceletes, os adornos diversos, o uso dos cosméticos, o embelezamento das pálpebras, toda sorte de pedras preciosas e a arte das tintas.

            2 E assim grassava uma grande impiedade; eles promoviam a prostituição, conduziam aos excessos e eram corruptos em todos os sentidos. Semjaza ensinava os esconjuros e as poções de feitiços, Armaros a dissipação dos esconjuros, Barakijal a astrologia, Kokabel a ciência das constelações, Ezekeel a observação das nuvens, Arakiel os sinais da terra, Samsiel os sinais do sol e Sariel as fases da lua.

            3 Quando os homens se sentiram prestes a serem aniquilados levantaram um grande clamor, e seus gritos chegaram ao céu.

 

            Capítulo 9

            1 Então Miguel, Uriel, Raphael e Gabriel olharam do alto do céu e viram a quantidade de sangue derramado sobre a terra e todas as desgraças que sobrevieram. Eles então falaram entre si: "O clamor da terra deserta de homens bate mais uma vez às portas do céu. Avós, ó Santos do céu, invocam assim desoladas as almas humanas: Levai o nosso lamento à presença do Altíssimo!"

            2 Então eles falaram ao Senhor dos mundos: "Tu és o Senhor dos Senhores, o Deus dos Deuses, o Rei dos Reis. O trono da tua Majestade permanece ao longo de todas as gerações do mundo; o teu Nome é santo, glorioso e louvado em todo o universo.

            3 "Tudo foi por Ti criado e conservas o domínio sobre todas as coisas. Tudo é claro e manifestado diante dos teus olhos. Tu vês tudo e nada pode ocultar-se na tua presença.

            4 "Tu vês o que foi perpetrado por Azazel, como ele ensinou sobre a terra toda espécie de transgressões, revelando os segredos eternos do céu, forçando os homens ao seu conhecimento; assim procedeu Semjaza, a quem conferiste o comando sobre os seus subalternos.

            5 "Eles procuraram as filhas dos homens sobre a terra, deitaram-se com elas e tornaram-se impuros; familiarizaram-nas com toda sorte de pecados. As mulheres pariram gigantes e, em conseqüência, toda a terra encheu-se de sangue e de calamidades.

            6 "Agora clamam as almas dos que morreram, e o seu lamento chega às portas do céu. Os seus clamores se levantam ao alto, e em face de toda a impiedade que se espalhou sobre a terra não podem cessar os seus queixumes.

            7 "E Tu sabes de tudo, antes mesmo que aconteça. Tu vês tudo isso e consentes. Não nos dizes o que devemos fazer."

 

            Capítulo 10

            1 Então o Altíssimo, o Santo, o Grande, tomou a palavra e enviou Uriel ao filho de Lamech, com a ordem seguinte: "Dize-lhe, em meu nome: 'Esconde-te!', e anuncia-lhe o fim próximo! Pois o mundo inteiro será destruído; um dilúvio cobrirá toda a terra e aniquilará tudo o que sobre ela existe.

            2 "Comunica-lhe que ele poderá salvar-se, e que seus descendentes serão mantidos por todas as gerações do mundo!"

            3 E a Raphael disse o Senhor: "Amarra Azazel de mãos e pés e lança-o nas trevas! Cava um buraco no deserto de Dudael e atira-o ao fundo! Deposita pedras ásperas e pontiagudas por baixo dele e cobre-o de escuridão! Deixa-o permanecer lá para sempre e veda-lhe o rosto, para que não veja a luz!

            4 "No dia do grande Juízo ele deverá ser arremessado ao arremedo de fogo! Purifica a terra, corrompida pelos Anjos, e anuncia-lhe a Salvação, para que terminem os seus sofrimentos e não se percam todos os filhos dos homens, em virtude das coisas secretas que os Guardiões revelaram e ensinaram aos seus filhos! Toda a terra está corrompida por causa das obras transmitidas por Azazel. A ele atribui todos os pecados!"

            5 E a Gabriel disse o Senhor: "Levanta a guerra entre os bastardos, os monstros, os filhos das prostituídas e extirpa-os do meio dos homens, juntamente com todos os filhos dos Guardiões! Instiga-os uns contra os outros, para que na batalha se eliminem mutuamente! Não se prolongue por mais tempo a sua vida! Nenhum rogo dos pais em favor dos seus filhos deverá ser atendido; eles esperam ter vida para sempre, e que cada um viva quinhentos anos".

            6 A Miguel disse o Senhor: "Vai e põe a ferros Semjaza e os seus sequazes, que se misturaram com as mulheres e com elas se contaminaram de todas as suas impurezas!

            7 "Quando os seus filhos se tiverem eliminado mutuamente, e quando os pais tiverem presenciado o extermínio dos seus amados filhos, amarra-os por sete gerações nos vales da terra, até o dia do seu julgamento, até o dia do Juízo Final!

            8 "Nesse dia, eles serão atirados ao abismo de fogo, na reclusão e no tormento, onde ficarão encerrados para todo o sempre. E todo aquele que for sentenciado à condenação eterna seja juntado a eles, e seja com eles mantido em correntes, até o fim de todas as gerações.

            9 "Extermina os espíritos de todos os monstros, junta-mente com todos os filhos dos Guardiões, porque eles maltrataram os homens! Purga a terra de todo ato de violência! Toda obra má deve ser eliminada! Que floresça a árvore da Verdade e da Justiça. O sinal da bênção será o seguinte: as obras da Verdade e da Justiça sempre serão semeadas na alegria verdadeira.

            10 "Então florescerão os justos e haverão de viver até gerarem mil filhos, e completarão em paz todos os dias da sua juventude e da sua velhice. Então toda a terra será cultivada com a Justiça, inteiramente plantada de árvores, e cheia de bênção.

            11 "Toda espécie de árvore boa será plantada sobre ela, igualmente videiras; e as videiras produzirão uvas em abundância. De todas as sementes que forem semeadas uma medida produzirá mil outras; e uma medida de olivas dará dez cubas de óleo.

            12 "Purifica a terra de todo ato de violência, de toda injustiça, de todo pecado e impiedade; elimina toda a impudicícia que sobre ela se pratica! Todos os homens serão justos, todos os povos me prestarão honra e glória, e todos me adorarão.

            13 "A terra então ficará expurgada de toda maldade, de todo pecado, de toda praga, de todo tormento; e nunca mais mandarei sobre ela um dilúvio, ao longo de todas as gerações, por toda a eternidade.

 

            Capítulo 11

            1 "Naqueles dias eu abrirei as câmaras dos depósitos da bênção do céu e deixa-las-ei derramar-se sobre a terra, sobre as obras e os trabalhos dos filhos dos homens.

            2 "Então a Verdade e a Paz juntar-se-ão por todos os dias da terra e por todas as gerações dos homens."

 

            Capítulo 12

            1 Enoque havia desaparecido, e nenhum dos filhos dos homens sabia onde ele se encontrava, onde se ocultava e o que era feito dele. O que ocorrera é que ele havia estado junto dos Guardiões e transcorreu os seus dias na companhia dos Santos.

            2 Eu, Enoque, ergui-me e louvei o Senhor da Majestade e Rei do mundo. Então os Guardiões me chamaram, a mim Enoque, o Escriba, e disseram-me: "Enoque, tu, o Escriba da Justiça, vai e anuncia aos Guardiões do céu que perderam as alturas do paraíso e os lugares santos e eternos, que se corromperam com mulheres à moda dos homens, que se casaram com elas, produzindo assim grande desgraça sobre a terra; anuncia-lhes: `Não encontrareis nem paz nem perdão'. Da mesma forma como se alegram com seus filhos, presenciarão também o massacre dos seus queridos, e suspirarão com a sua desgraça. Eles suplicarão sem cessar, mas não obterão nem clemência nem paz!"

 

            Capítulo 13

            1 Então Enoque encaminhou-se até eles e assim falou a Azazel: "Tu não terás a paz. Uma sentença severa recaiu sobre ti: deverás ser acorrentado. Não alcançarás indulgência nem será aceita a intercessão, por causa dos atos violadores que ensinaste a praticar, e por causa de todas as obras blasfemas, da violência e dos pecados que mostraste aos homens".

            2 Então eu dirigi a palavra a todos eles. Todos encheram-se de grande medo e foram tomados de pavor e tremor. Suplicaram-me que lhes escrevesse um rogo intercessório, para que pudessem obter o perdão, e que eu lesse o seu pedido na presença do Senhor dos céus.

            3 Pois a partir de então não lhes era mais permitido falar com Ele, nem levantar os seus olhos para o céu, de vergonha pelos seus delitos, pelos quais foram castigados.

            4 Assim, eu redigi o seu rogo de súplica, falando da sua condição de espíritos e dos seus atos individualmente praticados, e contendo o seu pedido especial de clemência e perdão. Então pus-me a caminho e assentei-me junto às águas do Dan, na terra de Dan, que se situa a sudoeste do Hermon; proferi em voz alta o seu pedido, depois adormeci.

            5 Tive sonhos e sobrevieram-me visões; vi imagens de julgamentos e uma voz falou dentro de mim, dizendo-me que fosse anunciar isso aos filhos do céu e adverti-los.

            6 Quando acordei, encaminhei-me até eles. Encontrei-os todos sentados a chorar, no Jail de Abel, entre o Líbano e o Senir. Relatei-lhes todas as visões que tivera durante o sono; comecei a pronunciar as palavras da Justiça e a advertir os Guardiões celestes.

 

            Capítulo 14

            1 Este é o livro das palavras da Justiça e da advertência aos Guardiões eternos, segundo o que o grande Santo ordenara naquela visão. Eu vi durante o meu sono tudo o que agora vou narrar com a minha língua carnal e com o sopro da minha boca; Deus concedeu os mesmos aos homens para que possam pronunciar as palavras e entendê-las com o coração.

            2 Da mesma forma como Ele criou os homens e deu-lhes o dom de entender palavras de sabedoria, assim também criou a mim e transmitiu-me a incumbência de advertir os Guardiões, os filhos do céu.

            3 Eu havia redigido o vosso pedido, mas na visão que tive foi-me revelado que o vosso rogo jamais será atendido, mas, ao contrário, que a sentença que sobre vós recaiu é definitiva e nada vos será concedido.

            4 Daqui por diante nunca mais havereis de subir ao céu; mas foi determinado que sejais acorrentados aqui na terra por todos os tempos. Antes disso, porém, devereis presenciar o extermínio dos vossos amados filhos. Nenhum deles restará; todos sucumbirão pela espada, aos vossos olhos.

            5 Vosso pedido em favor deles não será aceito, como não o foi o vosso próprio, a despeito de vosso choro e súplicas, e não o seria mesmo que pronunciásseis todas as palavras do escrito por mim redigido.

            6 Na visão foi-me dado presenciar o quadro seguinte: nuvens levaram-me ao interior da imagem, e uma névoa arrebatou-me ao alto; o curso das estrelas e dos raios conduzia-me e me impelia, e ventos transportando-me ao alto daquele panorama. Eles conduziram-me ao céu.

            7 Eu entrei por ele, até defrontar-me com um muro, todo feito de cristal e circundado de línguas de fogo. Isso começou a inspirar-me grande medo. Todavia, eu entrei pelas línguas de fogo adentro e aproximei-me de uma grande casa, toda construída de cristal. As paredes da casa assemelhavam-se a um assoalho assentado em cristal; e de cristal eram também os fundamentos da casa.

            8 Seu teto era como o curso das estrelas e dos raios; e de permeio havia querubins; seu céu era límpido como a água. Mas um mar de fogo circundava as suas paredes, e suas portas flamejavam.

            9 E eu entrei naquela casa, que era quente como o fogo e fria como a neve; dentro dela não existia acomodação alguma; fiquei prostrado de medo e tomado pelo tremor. Caí com a face por terra; e na visão que tive observei o seguinte:

            10 Havia lá uma outra casa, maior ainda do que a primeira; todas as suas portas estavam abertas diante de mim; era feita de línguas de fogo. Em todos os seus aspectos ela revelava brilho, fausto e grandeza, de tal sorte que eu não saberia como descrever-vos sua magnificência e tamanho.

            11 Seu chão era de fogo; suas partes superiores representavam raios e órbitas estelares, e sua cobertura era de fogo flamejante. Olhei, e vi dentro dela um trono muito alto. Sua aparência era como que circular, e as rodas que possuí apareciam-se com o sol brilhante; era a visão do querubim.

            12 Por baixo do trono saíam jatos de fogo flamejante. A grande Majestade assentava-se sobre ele; suas vestes eram mais brilhantes do que o sol e mais brancas do que a neve. Nenhum dos Anjos podia aproximar-se; nem conseguiam encarar sua face por causa do seu esplendor e majestade. Nenhuma carne podia ousar olhá-lo.

            13 Ao redor dele havia fogo flamejante; na frente dele, um fogo poderoso, e ninguém por perto podia aproximar-se. A volta, em círculo, postavam-se dez mil vezes dez mil em sua presença; Ele, porém, não necessitava de conselheiro algum.

            14 Os Seres mais santos, que se encontravam na sua proximidade, d'Ele não se afastavam nem de dia nem de noite; de forma alguma o abandonavam. Até esse momento, eu jazia com a face por terra, a tremer. Então o Senhor por sua própria boca dirigiu-se a mim e disse: "Aproxima-te, Enoque! Escuta a minha palavra!"

            15 Então um dos Santos chegou até onde eu estava e despertou-me do meu torpor; fez-me levantar e conduziu-me até o vestíbulo; eu porém deixei pender minha cabeça.

 

            Capítulo 15

            1 Ele tomou a palavra, e falou comigo; e eu prestei atenção à sua voz: "Não temas, Enoque, homem honesto e Escriba da Justiça! Vem até aqui e escuta as minhas palavras. Vai e dize aos Guardiões do céu que te enviaram como seu intercessor: Sois vós que devíeis interceder pelos homens, não os homens por vós!

            2 "Por que motivo abandonastes o alto do céu, santo e eterno, dormistes com mulheres, vos contaminastes com as filhas dos homens, tomastes a elas por esposas, comportando-vos como os filhos da terra e gerando filhos gigantes?

            3 "'Vós éreis santos, seres espirituais, detentores de uma vida eterna, mas depois vos deixastes corromper pelo sangue das mulheres e gerastes filhos com o sangue carnal, e com isso, desejando o sangue humano, e produzindo carne e sangue, vos igualastes àqueles que são mortais e transitórios.

            4 "`Por isso, eu concedi a essas mulheres, que com eles coabitaram, e que com eles geraram filhos, que nada lhes falte sobre a terra. Vós, porém, fostes anteriormente espíritos eternos, destinados a serdes imortais ao longo de todas as gerações do mundo. Por isso eu não criei para vós mulheres, pois os espíritos do céu possuem no céu a sua morada.

            5 Os gigantes, porém, que foram gerados do espírito e da carne, serão chamados na terra de espíritos maus; eles também terão a sua morada na terra. Do corpo delas procederam espíritos maus; pois, embora nascidos de humanos, é dos Guardiões santos o seu princípio e origem primeira. Eles serão espíritos corruptos sobre a terra. e assim chamar-se-ão.

            6 Os espíritos do céu, no céu têm a sua morada; mas os espíritos da terra, que na terra foram nascidos, nesta terão a sua morada. Os espíritos dos gigantes são cheios de maldade, cometem atos de violência, destroem, agridem, brigam, promovem a devastação sobre a terra e instauram por toda parte a confusão. Pois, embora famintos, não comem; bebem, e continuam a ter sede. E esses espíritos levantam-se contra os filhos dos homens e contra as mulheres, pois destas procederam.

 

            Capítulo 16

            1 A partir dos dias da matança, do extermínio e da morte dos gigantes, quando os Espíritos abandonarem seu corpo carnal sem sofrerem julgamento e condenação, eles continuarão a agir daquela maneira perversa, até o dia do grande Juízo Final, quando então o mundo acabará completamente para os Guardiões e para todos os ímpios.

            2 "Dize agora aos Guardiões, que outrora moravam no céu, e que te enviaram como seu intercessor: 'Vós estáveis no céu. Nem todos os segredos vos foram revelados; contudo conhecíeis um segredo que não convinha passar, e na vossa imprudência o transmitistes às mulheres. Através da revelação desse segredo, homens e mulheres praticam muitas desgraças sobre a terra'. Portanto dize-lhes: 'Vós não tereis nenhuma paz'!"

 

 

As viagens de Enoque

 

Relato da primeira viagem:

 

            Capítulo 17

            1 Tomaram-me então e transportaram-me a um lugar onde as coisas se apresentavam como chamas de fogo, e, quando queriam, podiam transformar-se em formas humanas. Depois levaram-me ao lugar das trevas e sobre uma montanha cujo cume alcançava o céu.

            2 Eu vi o lugar das luminárias, os reservatórios das estrelas e dos trovões e, nas profundidades mais distantes, um arco de fogo com setas e sua alijava, uma espada de fogo e todos os relâmpagos.

            3 Depois transportaram-me ao lugar das águas vivas e do fogo ocidental, que recebe o sol da tarde. Então cheguei a uma torrente de fogo, cuja incandescência fluía como a água, e que se derramava num grande oceano.

            4 Então eu vi as grandes correntes de água, e cheguei até o grande rio e a grande escuridão; depois cheguei aos lugares para onde se encaminha toda a carne. Eu vi as montanhas da escuridão do inverno e os lugares para onde fluem todas as águas das profundezas.

            5 Então eu vi a foz de todos os rios da terra e a desembocadura das águas profundas.

 

            Capítulo 18

            1 Eu vi as câmaras de todos os ventos; eu vi como Ele adornava toda a terra por meio deles; eu vi também os alicerces da terra. Eu vi a cumeeira da terra; eu vi os quatro ventos que suportam (a terra e) o firmamento. Eu vi como os ventos expandiam a abóbada celeste, e como a sua posição se situava entre o céu e a terra; eles constituem as colunas do céu.

            2 Eu vi os ventos que fazem girar o céu e movimentam o disco solar e as estrelas, até o seu ocaso. Eu vi os ventos que sobre a terra transportam as nuvens; eu vi os caminhos dos Anjos; eu vi, nos confins da terra, o firmamento que se sustenta nas alturas.

            3 Depois eu fui em direção ao sul e vi um lugar que ardia todo o tempo; ali encontram-se sete montanhas de pedras preciosas, três delas do lado leste e três do lado sul. Das do lado leste, uma é de pedras coloridas, outra de pérolas e outra de topázio; as do lado sul são formadas de pedras vermelhas.

            4 A montanha do meio alcança o céu; assemelha-se ao trono de Deus, e é feita de alabastro; o ápice do trono é de safira. Vi então um fogo flamejante. Para além daquelas montanhas existe um lugar que representa o fim da grande terra; lá o próprio céu chega ao seu fim.

            5 Então eu vi um abismo com colunas de fogo da altura do céu, e vi depois essas mesmas colunas ruindo; elas são incomensuráveis, tanto em altura como em profundidade. Atrás desse abismo eu vi uma região que por cima não tinha firmamento e por baixo não tinha bases terrestres firmes; sobre ela não havia nem água nem pássaros; era um lugar deserto e horrível.

            6 Lá eu vi sete estrelas, como montanhas grandes e ardentes. Quando perguntei sobre elas, disse o Anjo: "Este é o lugar em que o céu e a terra acabam; esta é a prisão das estrelas e das legiões dos corpos celestes.

            7 "E as estrelas que circulam sobre o fogo são aquelas que no início do seu curso transgrediram as ordens de Deus, não aparecendo no seu devido tempo. Assim, Ele encolerizou-se com elas e prendeu-as por dez mil anos, até o tempo em que estiver expiado o seu pecado."

 

            Capítulo 19

            1 Então disse-me Uriel "Aqui é o lugar onde ficarão os Anjos que se misturaram com as mulheres, como também os seus Espíritos, que assumem formas variadas e que corrompem os homens. Também seduzem a estes, fazendo-os prestar culto aos demônios como se fossem deuses. Aqui eles ficarão até o grande dia do Juízo, quando serão sentenciados à aniquilação completa. As mulheres seduzidas pelos Anjos, serão transformadas em sereias".

            2 Eu, Enoque, vi sozinho essa visão do fim de todas as coisas, e ninguém a verá como eu vi.

 

Relato da segunda viagem

 

            Capítulo 20

            1 As funções dos Anjos vigias são as seguintes:

            2 Uriel, um dos santos Anjos, preside ao mundo e ao tártaro;

            3 Raphael, um dos santos Anjos, dirige os espíritos dos homens;

            4 Raguel, um dos santos Anjos, exerce a vingança no mundo das Luzes;

            5 Miguel, um dos santos Anjos, foi estabelecido sobre a parte melhor dos homens, sobre o povo de Israel e sobre o Caos;

            6 Sarakael, um dos santos Anjos, foi estabelecido como o vigia dos Espíritos que induzem os outros espíritos ao pecado;

            7 Gabriel, um dos santos: Anjos, preside ao Paraíso, às Serpentes e aos Querubins;

            8 Remiel, um dos santos, Anjos, foi por Deus incumbido de presidir aos ressuscitados.

 

            Capítulo 21

            1 Fui levado em frente até a região onde as coisas constituíam um caos. Lá eu vi algo de espantoso; não se via nem um céu por cima nem uma terra firme por baixo, mas tão somente um lugar desolado horrível. Lá eu vi sete Estrelas celestes, aprisionadas àquele lugar, semelhantes a grandes montanhas abrasadas de fogo.

            2 Então eu perguntei: "Em nome de que pecado foram elas aprisionadas e por que foram confinadas neste lugar?"

            3 Então disse-me Uriel, um dos santos Anjos que estavam comigo e era o meu condutor: "Enoque! Por que perguntas e por que pões tanto empenho em conhecer a Verdade? Aquelas são as Estrelas do céu que transgrediram as ordens de Deus; aqui elas permanecem aprisionadas, até que transcorram os dez mil anos, o tempo do seu pecado".

            4 Dali partimos para uma outra região, ainda mais horrorosa do que a anterior. Lá eu vi coisas de causar espanto. Havia um fogo imenso lançando grandes labaredas e o seu âmbito chegava até o fundo do abismo, e era cheio de colunas de fogo que despencavam. Não consegui perceber nem avaliar a sua extensão e profundidade. Então eu exclamei: "Como é medonho este lugar e como é horroroso de se ver!"

            5 Então respondeu-me Uriel, um dos santos Anjos que estava comigo, dizendo: "Enoque! Por que tanto te assustas e te espantas?" Eu disse: "E por causa deste lugar assustador e de horrível aspecto."

            6 Então ele falou-me: "Este lugar é a prisão dos Anjos; aqui eles ficarão reclusos até a eternidade".

 

            Capítulo 22

            1 Dali partimos para um outro lugar, e Ele mostrou-me do lado do Ocidente um conjunto de montanhas imensas e altas, de rocha maciça. Havia lá quatro cavernas, profundas, amplas e lisas; três delas eram escuras e uma clara, tendo no centro dela uma fonte de água. Então eu disse: "Como são lisas essas cavernas! Como são profundas e escuras!"

            2 Respondeu-me então Raphael, um dos santos Anjos que estavam comigo: "Estas cavernas foram criadas para abrigar as almas daqueles que morreram. Foram criadas para reunir todas as almas dos filhos dos homens. Estes lugares foram constituídos para sua morada, até o dia do seu Julgamento, até o final do prazo e do tempo preestabelecidos, quando então ocorrerá sua sentença".

            3 Então eu ouvi os gemidos do espírito de um dos filhos dos homens, que havia morrido, e cujos lamentos chegavam até o céu. Perguntei então ao anjo Raphael, que estava junto de mim: "De quem é este espírito que se lamenta? De quem é esta voz, cujo gemido chega até o céu?"

            4 Então Ele falou-me: "Este é o espírito que saiu de Abel. Ele foi golpeado e morto por seu irmão Caim, e assim emite queixas contra ele, até que os descendentes deste sejam eliminados da terra e a sua raça desapareça dentre os homens".

            5 Em seguida perguntei sobre as cavernas: "Por que estão separadas umas das outras?" Respondeu-me: "Três destes espaços foram preparados para manter segregados os espíritos dos que estão mortos; mas uma seção foi reservada para os espíritos dos justos, onde jorra uma fonte de águas límpidas.

            6 "Dessa forma, há um espaço que foi preparado para os pecadores que, ao morrerem e serem enterrados, não chegaram a sofrer em vida uma sentença. Ali suas almas ficarão isoladas até o grande dia do Juízo, o dia do castigo e do sofrimento reservados aos que foram condenados para sempre, quando então se exercerá a vingança das suas almas; nesse lugar Ele os manterá aprisionados até à eternidade.

            7 "Existe igualmente outra seção que se destina às almas dos queixosos, dos que reivindicam justiça por sua ruína, por terem sido mortos nos dias dos pecadores. E uma outra seção foi feita para aqueles homens que não foram justos, mas sim pecadores, totalmente ímpios e cúmplices dos perversos; suas almas não serão castigadas no dia do Juízo, mas também não serão ressuscitadas."

            8 Então eu louvei ao Deus da Glória, dizendo: "Glorificado sejas Tu, Senhor, Justo Juiz do mundo".

 

            Capítulo 23

            1 Dali eu fui a um outro lugar, no Ocidente, até os confins da terra. Lá eu vi um fogo flamejante que se deslocava constantemente de cá para lá, e que não cessava o seu movimento regular nem de dia nem de noite, mas ao contrário mantinha-se sempre igual.

            2 Eu perguntei: "Que é essa coisa incansável?" Então respondeu-me Raguel, um dos santos Anjos que estavam comigo: "Esse fogo ambulante, que viste no Ocidente, é o fogo que abastece todas as luminárias do céu".

 

            Capítulo 24

            1 Daquele ponto, fui a um outro lugar da terra, e Ele mostrou-me um conjunto de montanhas de fogo que ardiam dia e noite.

            2 Passei por cima delas e observei sete montes magníficos, todos diferentes uns dos outros, cujas rochas eram imponentes e belas, no seu todo, de agradável aspecto e de formas bonitas. Três dos montes situavam-se do lado oriental, sobrepostos uns aos outros; três do lado Sul, também sobre-postos, e entre eles desfiladeiros íngremes e profundos, que não confinavam uns com os outros.

            3 A sétima montanha situava-se entre as anteriores, superava-as em altura e era parecida com a sede de um trono; árvores odoríferas circundavam esse trono.

            4 Entre essas árvores havia uma cujo perfume eu jamais havia experimentado. Nenhuma daquelas árvores, nem qualquer outra, podia comparar-se com ela. Difundia mais perfume do que todos os incensos; suas folhas, suas flores e seu lenho não fenecem nunca, e sua fruta é maravilhosa, parecida com a tâmara.

            5 Eu falei então: "Como é bela esta árvore! Como são perfumadas e bonitas as suas folhas Como são deliciosas para os olhos suas flores!" Respondeu-me então Miguel, um dos santos e honrados Anjos que estavam comigo, o superior deles.

 

            Capítulo 25

            1 Ele falou-me: "Enoque! Por que perguntas e admiras o perfume desta árvore e procuras saber a Verdade?" Então eu, Enoque, respondi, dizendo: "Sobre todas as coisas eu gostaria de saber algo, e de modo muito particular sobre esta árvore".

            2 Ele respondeu-me: "Aquela montanha alta que viste, e cujo cume se parece com o trono de Deus, é de fato o seu trono, sobre o qual o Santo, o Grande, o Único, o Senhor da Glória, o Rei Eterno se assentará quando descer para visitar a terra e agraciá-la com a sua bênção.

            3 "Esta árvore, todavia, não poderá ser tocada por nenhum mortal até o dia do Grande Julgamento, quando Ele tomará as contas de todos até o último ceitil; então essa árvore será entregue aos justos e aos santos. Os seus frutos então servirão de alimento para os escolhidos; ela será transplantada para o lugar santo, no templo do Senhor, o Rei Eterno.

            4 "Então eles se alegrarão sobremodo e caminharão com alegria pelos lugares santos; o aroma da árvore penetrará até os seus ossos. Levarão sobre a terra uma vida mais longa do que os seus Patriarcas, e nos seus dias não sofrerão nem tristezas, nem dores, nem cansaços, nem pragas."

            5 Então eu louvei o Rei da Glória, o Rei da Eternidade, por ter preparado, criado e assegurado tais coisas para os justos.

 

            Capítulo 26

            1 Dali eu parti para o meio da terra e contemplei um lugar abençoado e frutífero, onde havia árvores com galhos que brotavam e floriam dos ramos podados. Lá, igualmente, eu vi uma montanha santa, e ao sopé da mesma, do lado leste, um rio que corria na direção do sul.

            2 Do lado do Oriente vi ainda uma outra montanha, mais alta do que aquela, e, dividindo-se as duas, uma garganta estreita e profunda; ela era o leito do rio que nascia ao pé da montanha.

            3 Do lado ocidental havia outra montanha, mais baixa do que a anterior e de porte menor; entre estas e as anteriores havia um desfiladeiro profundo; outro desfiladeiro, também profundo, e seco, abria-se no extremo da montanha.

            4 Esses profundos desfiladeiros eram estreitos, de rocha dura; nenhuma árvore crescia ali. Admirei-me com as rochas; espantei-me com os desfiladeiros; e tudo aquilo maravilhou-me sobremaneira.

 

            Capítulo 27

            1 Então eu falei: "Para que serve esta terra abençoada, repleta de árvores, e para que estes desfiladeiros malditos no meio dela?"

            2 Respondeu-me então Uriel, um dos santos Anjos que estavam comigo, e disse: "Aquela garganta maldita que viste foi destinada aos eternamente malditos; ali serão agrupados todos aqueles que, com a sua boca, proferem coisas desrespeitosas contra Deus e falam com insolência da sua Glória. Ali eles serão reunidos; será o lugar do seu Julgamento.

            3 "Nos últimos dias, realizar-se-á o espetáculo de um julgamento definitivo sobre eles, na presença dos justos; ali os piedosos louvarão ao Rei da Glória, ao Senhor da Eternidade. No dia do Julgamento dos pecadores os justos O louvarão por causa da sua misericórdia, por Ele manifestada para com eles."

            4 Então eu dei graças ao Rei da Glória, proclamei a sua honra e entoei um cato de louvor a Ele.

 

            Capítulo 28

            1 Dali eu fui (na direção do Oriente) até o meio das montanhas do deserto; lá eu vi uma estepe. Era um lugar solitário, mas palmilhado de árvores e vegetação; e dos pontos altos jorrava água. Esta fluía na direção noroeste, como um rico manancial de águas e formava nuvens e orvalho que se. levantavam de todos os lados.

 

            Capítulo 29

            1 Dali eu fui para um outro lugar do deserto e aproximei-me do lado oriental daquelas montanhas. Lá eu vi plantas aromáticas que reascendiam a incenso e mirra, e elas pareciam-se com a amendoeira.

 

            Capítulo 30

            1 Então eu fui mais adiante, para o Oriente, e vi um outro sítio muito grande, com águas que se precipitavam nos despenhadeiros. Ali havia uma árvore cuja aparência era de planta aromática, semelhante à almécega. A beira daqueles vales eu vi a caneleira olorosa; então eu fui ainda mais adiante, para o leste.

 

            Capítulo 31

            1 Eu vi outras montanhas; sobre elas havia bosques de onde fluía o néctar, o chamado bálsamo ou ungüento.

            2 Atrás daquelas montanhas eu vi outra, ao leste da região; sobre ela havia plantas de aloés, e todas as demais árvores gotejavam resina, semelhantemente às amendoeiras. Ao triturar-se a sua fruta, ela exalava toda sorte de olores.

 

            Capítulo 32

            1 Por sobre as montanhas ao nordeste vi sete montes cheios de nardo precioso, almécegas, nela e pimenta. Dali transportei-me por sobre os cumes de todas essas montanhas, na direção oriental da terra; passei pelo mar da Eritréia e depois, afastando-me dele, sobrevoei o Zotiel.

            2 Então cheguei ao Jardim da Justiça e vi, dentre as demais plantas, muitas e grandes árvores que ali cresciam; e elas eram aromáticas, muito bonitas, altas e majestosas. Entre estas encontrava-se a Árvore da Sabedoria, de cujo fruto comem os Santos e alcançam grande sapiência.

            3 Essa árvore, pela sua fronde, assemelha-se ao pinheiro; sua folhagem é parecida com a da alfarrobeira; o seu fruto é tão delicioso quanto as uvas de vinho; e o seu perfume é percebido a grande distância. Então eu exclamei: "Como é bela esta árvore e como é agradável o seu aspecto!"

            4 Respondeu-me o santo Anjo Raphael, que estava comigo, e disse: "Esta é a Árvore da Sabedoria, da qual o teu antigo pai e tua antiga mãe comeram, antes do teu tempo. Com isso, eles conheceram o saber; os seus olhos se abriram e eles reconheceram que estavam nus. Então eles foram expulsos do Paraíso".

 

            Capítulo 33

            1 Dali eu fui mais em frente, até os confins da terra; lá eu vi animais de grande porte, todos diferentes uns dos outros; também pássaros que divergiam na aparência, beleza e voz, igualmente diferentes uns dos outros. Mais ao leste de onde estavam esses animais eu vi os extremos da terra, sobre os quais repousa o céu da terra; os portais do céu estavam abertos.

            2 Eu vi as estrelas do céu se aproximarem, contei os portões por onde elas apareciam, anotei a saída de todas, e em relação a todas anotei especialmente o número, o nome, as conexões, as posições, os períodos e meses, tudo segundo me mostrava o Anjo Uriel, que estava comigo. Ele mostrava-me tudo, transcrevendo ao mesmo tempo; transcreveu para mim o nome de cada uma e suas leis, bem como as suas acompanhantes.

 

            Capítulo 34

            1 Dali segui na direção do norte, aos confins da terra; lá eu presenciei um grande e majestoso prodígio, nos extremos do mundo. Vi três portais celestes abertos; através de cada um deles procedem ventos do Norte. Quando sopram, vêm o frio, o granizo, a geada, a neve, o orvalho e a chuva.

            2 De um dos portais eles sopram favoravelmente; quando, porém, sopram dos outros dois, é com violência. E soprando com violência eles espalham privações sobre a terra.

 

            Capítulo 35

            1 Dali tomei o rumo do Ocidente, até os confins da terra; nesse lugar vi três portões abertos, semelhantemente aos que vira no Oriente; os mesmos portões, com suas aberturas.

 

            Capítulo 36

            1 Dali parti para o sul, até os confins da terra; lá vi três portões celestes abertos. Deles provêm os ventos do Sul, assim como orvalho e chuva. Dali fui adiante, na direção do Oriente, até os confins da terra; lá vi abertas as três portas celestes orientais; sobre elas havia portões pequenos.

            2 Através de cada um desses portões menores passam as estrelas do céu que caminham para o Oriente, nos seus cursos preestabelecidos. Nesse momento, eu louvei o Senhor da Glória e a toda hora o louvo, por ter Ele criado as obras grandes, magníficas e admiráveis e por mostrar a magnitude da sua obra aos Anjos, aos Espíritos e aos homens, para que todos louvem a sua inteira Criação, ao verem a força do seu poder, possam, assim, proclamar grande obra das suas mãos glorificar o Senhor por toda eternidade.

 

Segunda parte - As Alegorias

 

            1 Segunda visão que ele teve, visão da sabedoria, presenciada por Enoque, filho de Jared e neto de Mahalaleel, filho de Cainan e neto de Enos, filho de Seth e neto de Adão.

            2 Este é o início das palavras de sabedoria que eu desejo transmitir em alta voz aos habitantes da terra: Escutai, vós Patriarcas, e vós, descendentes, as palavras santas que eu vos direi, na presença do Rei dos Espíritos!

            3 Melhor seria fossem elas transmitidas unicamente aos Patriarcas; contudo, desejamos que não fique oculto aos descendentes o início da sabedoria. Até agora, jamais tal saber foi transmitido pelo Senhor dos Espíritos, da forma como eu o recebi, através da minha visão e pelo beneplácito do Rei dos Espíritos, por quem me foi manifestada a explicação da Vida Eterna.

            4 Três visões alegóricas foram-me concedidas, e assim levantei a minha voz para narrá-las aos habitantes da terra.

 

            Primeira Alegoria

            Capítulo 38

            O futuro Reino de Deus

            1 A primeira alegoria. Quando a comunidade dos justos se tomar visível, e quando os pecadores forem castigados pelos seus pecados e expulsos da terra, quando o Justo aparecer diante dos olhos dos justos, cujas obras estão guardadas junto ao Senhor dos Espíritos, e quando a luz dos justos e dos escolhidos brilhar sobre a terra, onde estará então o lugar dos pecadores e onde o lugar de descanso para aqueles que renegaram o Senhor dos Espíritos? Melhor seria para eles se não tivessem nascido.

            2 Quando os segredos dos justos forem desvelados, então o castigo recairá sobre os pecadores e os maus serão banidos da presença dos justos e dos escolhidos. A partir daquele tempo, os senhores da terra deixarão de ser poderosos e grandes; não mais poderão encarar os santos, porque o Senhor dos Espíritos fará brilhar a sua luz na face dos santos, justos e escolhidos.

            4 Então, naquele tempo, os reis e os poderosos serão aniquilados e entregues nas mãos dos justos e dos santos. A partir daquele momento, nenhum deles poderá pedir perdão ao Senhor dos Espíritos, pois a sua vida terá chegado ao fim.

 

            Capítulo 39

            1 Naqueles dias descerão do alto dos céus Filhos eleitos e santos, e sua família juntar-se-á aos filhos dos homens. E, naqueles dias, Enoque recebeu escritos da ira e escritos do desespero e da perdição. "Não haverá misericórdia para com eles", disse o Senhor dos Espíritos.

            2 Naquele tempo, eu fui carregado da terra por um torvelinho de vento e transportado aos confins do céu. Ali eu tive uma outra visão: a morada dos justos e os lugares de repouso dos santos.

            3 Ali eu vi com os meus próprios olhos as suas moradas junto aos Anjos justos e seus lugares de repouso junto aos Santos, e estes pediam, intercediam e rezavam pelos filhos dos homens. A justiça fluía diante deles como a água, e a misericórdia como o orvalho sobre a terra; e assim é a sua vida para todo o sempre.

            4 Naquele lugar os meus olhos viam o Eleito da Justiça e da Fidelidade; a Justiça reina nos seus dias, e inumeráveis eleitos e justos estarão para sempre diante d'Ele.

            5 Eu vi a sua morada sob as asas do Senhor dos Espíritos. Todos os justos e eleitos brilham diante d'Ele como a claridade do fogo; a sua boca é cheia de palavras de bênção; os seus lábios louvam o Nome do Senhor dos Espíritos, e a Justiça nunca mais cessará diante d'Ele (Messias).

            6 Ali eu desejei permanecer, e a minha alma suspirou por aquela morada. Ali já foi outrora a minha herança; pois assim fora decidido a meu respeito diante do Senhor dos Espíritos.

            7 Naqueles dias, eu glorifiquei e exaltei o Nome do Senhor dos Espíritos com palavras benditas e cânticos de louvor, por ter sido escolhido por Ele para a missão de O exaltar e bendizer, segundo o beneplácito do Senhor dos Espíritos.

            8 Os meus olhos contemplaram por longo tempo aquele lugar, e eu O exaltei e glorifiquei com as seguintes palavras: "Bendito e louvado seja Ele desde o princípio e por toda a eternidade". Diante d'Ele tudo persiste. Ele sabe o que é o mundo, desde antes que este fosse criado, e conhece o que vai acontecer de geração em geração.

            9 A Ti louvam Aqueles que nunca dormem; eles estão diante de tua Majestade, e Te glorificam, celebram e exaltam com as palavras: "Santo, Santo, Santo é o Senhor dos Espíritos; Ele preenche a terra de espíritos".

            10 E ali os meus olhos viram como todos Aqueles que não dormem prostram-se na sua presença, louvam e dizem: "Glorificado sejas Tu e bendito seja o nome do Senhor por toda a eternidade!"

            11 Então voltei o meu rosto, pois eu não conseguia mais olhar.

 

            Capítulo 40

            Os quatro Anjos

            1 Depois disso eu vi, prostrados diante do Senhor dos Espíritos, mil vezes mil, dez mil vezes dez mil, uma multidão inumerável e incalculável. Eu vi e observei quatro rostos, nos quatro lados do Senhor dos Espíritos; estes eram diferentes d'Aqueles que nunca dormem. Tomei conhecimento dos seus nomes, pois foram-me comunicados pelo Anjo que estava comigo e que me mostrava todas as coisas ocultas.

            2 Eu escutei a voz daqueles quatro rostos, ao proferirem cantos de louvor diante do Senhor da Glória.

            3 A primeira voz louvava sem cessar o Senhor dos Espíritos.

            4 A segunda voz, segundo eu ouvia, louvava o Eleito, bem como os eleitos que se conservavam junto ao Senhor dos Espíritos.

            5 A terceira voz, segundo escutei, rezava e pedia pelos habitantes da terra, intercedendo por eles em nome do Senhor dos Espíritos.

            6 A quarta voz, segundo eu ouvia, afastava os demônios, não lhes permitindo o acesso diante do Senhor dos Espíritos para acusar os habitantes da terra.

            7 Então eu falei ao Anjo da Paz, que ia comigo e me mostrava todas as coisas ocultas, perguntando-lhe: "Quem são esses quatro rostos que eu vi e cujas palavras escutei e anotei?"

            8 Ele respondeu-me: "O primeiro é Miguel, o Compassivo e Paciente; o segundo, o que cuida de todas as doenças e feridas dos filhos dos homens, é Raphael; o terceiro, o que preside a todas as Forças, é Gabriel; e o quarto, que preside à penitência e à esperança dos herdeiros da vida eterna, é Phanuel".

            9 Estes são os quatro Anjos do Senhor dos Espíritos e as quatro vozes por mim ouvidas naqueles dias.

 

            Capítulo 41

            Segredos astronômicos

            1 Depois disso, eu vi todos os segredos do céu e como o Reino será dividido, e como as ações dos homens serão pesadas na balança. Lá eu vi as moradas dos eleitos bem como a dos Santos. Meus olhos viram como de lá serão expulsos todos os pecadores que renegaram o Nome do Senhor e como serão arrastados para fora. Lá não poderão ficar, em virtude do castigo que lhes foi imposto pelo Rei dos Espíritos.

            2 Lá os meus olhos viram também o segredo dos raios e dos trovões, os segredos dos ventos, e de como eles se distribuem nos seus sopros sobre a terra, bem como os segredos das nuvens e do orvalho. Lá eu vi de que lugares eles procedem e como aplacam a sede da terra. Lá eu vi as câmaras fechadas de onde se origina a distribuição dos ventos, a câmara do granizo e a câmara da neblina, bem como a nuvem que desde os tempos antigos paira sobre a terra.

            3 Eu vi as câmaras do sol e da lua, e de onde eles saem e para onde voltam, o seu retorno magnífico, e como um tem precedência sobre a outra, a sua rota admirável, e como não transgridem o seu curso, não o aumentando nem diminuindo, e como guardam entre si a fidelidade e o juramento pelo qual se comprometeram.

            4 Primeiramente avança o sol e segue o seu curso obedecendo à ordem do Senhor dos Espíritos; e grande é o seu Nome para sempre. Depois eu vi o caminho oculto e o caminho visível da lua, que naquelas paragens segue o seu curso tanto de dia como de noite. Na presença do Senhor dos Espíritos, eles se colocam um atrás do outro, agradecendo e louvando sem cessar; para eles o seu agradecimento é o descanso.

            5 Pois o sol faz muitos giros, ou para a bênção ou para a maldição, e o caminho da lua é luz para os justos, mas trevas para os pecadores, em nome do Senhor, que separou a luz das trevas, dividiu os espíritos dos homens e fortaleceu os espíritos dos justos em nome da sua Justiça.

            6 Nem um Anjo nem uma Potestade poderia impedir isso, pois foi Ele quem estabeleceu para eles todos um Juiz, que os julgará na sua presença.

 

            Capítulo 42

            A morada da Sabedoria Divina

            1 A Sabedoria não encontrou lugar onde pudesse morar; então foi-lhe reservada uma morada no céu. Depois a Sabedoria veio morar entre os filhos dos homens mas não encontrou moradia. Assim, a Sabedoria voltou para o seu lugar e estabeleceu a sua sede entre os Anjos.

            2 Então a iniqüidade saiu das suas câmaras. Ela encontrou aqueles que não deviam procurá-la e baixou entre eles, como a chuva no deserto e o orvalho na terra seca.

 

            Capítulo 43

            Segredos astronômicos

            1 Eu vi também outros relâmpagos e as estrelas do céu; então eu percebi como Ele chamava a todas pelo seu nome e como elas O escutavam. Então eu vi como elas foram pesadas com uma balança justa, segundo a intensidade da sua luz; vi também a profundidade dos seus espaços e o dia do seu aparecimento, e como a sua órbita provocava raios. Eu vi como suas órbitas correspondiam ao número do Anjo e como guardavam fidelidade entre si.

            2 Perguntei então ao Anjo que ia comigo e que me mostrava os segredos: "Que significam elas?"

            3 Então ele disse-me: "O Senhor dos Espíritos mostrou-te o seu significado simbólico. Elas são os nomes daqueles santos que moram na terra e que crêem constantemente no Nome do Senhor dos Espíritos".

 

            Capítulo 44

            Vi também algo mais em relação aos relâmpagos, a forma como nascem das estrelas, convertem-se em raios e não podem afastar-se dessa nova constituição.

 

            Segunda Alegoria

            Capítulo 45

            O Reino do Messias

            1 Esta é a segunda alegoria. Ela trata daqueles que renegam o nome da morada dos Santos e o Nome do Senhor dos Espíritos. "Eles não chegarão ao céu, mas também não permanecerão sobre a terra. Tal será o destino dos pecadores que renegam o Nome do Senhor dos Espíritos; para tanto, eles serão reservados para o Dia da Dor e da Tribulação.

            2 "Naquele dia, o meu Eleito sentar-se-á sobre o Trono da Majestade, e, entre os seus atos, procederá a uma seleção, e serão inumeráveis as moradas dos eleitos. O espírito destes crescerá e florescerá quando, juntamente com aqueles que invocaram o meu Santo Nome, olharem para o meu Eleito.

            3 "Então eu deixarei que o meu Eleito habite entre eles e transformarei o céu, convertendo-o em bênção e luz eternas. E transformarei a terra, convertendo-a em bênção. Então deixarei o meu Eleito habitar sobre ela; mas aos pecadores e malfeitores não será permitido o acesso a ela.

            4 "Pois eu olhei para os meus justos, saciei-os de felicidade e coloquei-os diante de mim; para os pecadores, porém, reservo o Julgamento, para que possa eliminá-los da face da terra."

 

            Capítulo 46

            1 Lá eu vi Aquele que possui uma cabeça de ancião, e esta era branca como a lã; e junto dele havia um outro, cujo aspecto era de um homem, o seu rosto era cheio de graça, semelhante ao de um Anjo Santo. Perguntei ao Anjo que me acompanhava, e que me revelava todos os segredos, quem era aquele filho do homem, de onde procedia, e por que estava com Aquele que tem uma cabeça grisalha.

            2 Deu-me como resposta: "Este é o Filho do Homem, o detentor da Justiça, que com ela mora e que revela todos os tesouros secretos; pois Ele foi escolhido pelo Senhor dos Espíritos, e o seu destino excede a tudo em retidão diante do Senhor dos Espíritos, por toda a eternidade. Esse filho dos homens, que viste, faz os reis e os poderosos se ergueram de suas camas e aos fortes abala nos seus tronos; dissolve o comando dos fortes e tritura os dentes dos pecadores.

            3 "Ele expulsa os reis dos seus tronos e dos seus reinos, porque eles não O exaltam e louvam, nem reconhecem com agradecimento de onde lhes adveio a realeza. Ele derruba a face dos fortes e enche-os de vergonha. A sua moradia se converterá em trevas e sua sepultura estará cheia de vermes; jamais deverão pensar em levantar-se de suas sepulturas, porque não exaltam o Nome do Senhor dos Espíritos.

            4 "E são eles que julgam as estrelas do céu e que erguem as suas mãos contra o Altíssimo, que humilham a terra em que habitam e cujas obras revelam em tudo a iniqüidade; o seu poder apóia-se na sua riqueza e a sua fé volta-se para os deuses que eles criaram com suas próprias mãos; mas renegam o Nome do Senhor dos Espíritos. Eles perseguem as casas das reuniões dos crentes que permanecem fiéis ao Nome do Senhor dos Espíritos.

 

            Capítulo 47

            1 "Naqueles dias, porém, a oração e o sangue dos justos subirão da terra até a presença do Senhor dos Espíritos. Naqueles dias, os Santos que moram no céu rezam a uma só voz, suplicam, louvam, agradecem e glorificam o Nome do Senhor dos Espíritos, pela oração e pelo sangue derramado dos justos, para que não tenham vivido em vão diante do Senhor dos Espíritos, para que se cumpra neles o Julgamento, mas que este não seja para eles uma sentença eterna."

            2 Naqueles dias eu vi como o Ancião assentou-se sobre o trono da sua Majestade, quando diante dele foram abertos os livros dos vivos, e como toda a sua corte, que está no céu e O cerca, prostrou-se na sua presença.

            3 O coração dos Santos exultava de alegria porque foi trazido o número dos justos, porque foi ouvida a sua oração e porque o seu sangue foi vingado diante do Senhor dos Espíritos.

 

            Capítulo 48

            1 Naquele lugar, eu vi o poço da Justiça; ele era inesgotável, e ao seu redor havia muitos poços de Sabedoria. Todos os que tinham sede bebiam deles e eram saciados de sabedoria e moravam junto aos Justos, aos Santos e ao Eleito.

            2 E, naquela hora, o Filho do Homem era mencionado diante do Senhor dos Espíritos,e o seu Nome era referido diante do Ancião. Antes que fossem criados o sol e os signos, e antes que fossem feitas as estrelas do céu, o seu Nome era pronunciado diante do Senhor dos Espíritos.

            3 Ele será um bordão para os justos, para que n'Ele possam apoiar-se e não cair; Ele será a luz dos povos e a esperança dos aflitos. Todos os habitantes da terra prostram-se aos seus pés; e adoram, glorificam, louvam e entoam hinos ao Senhor dos Espíritos.

            4 Para esse propósito Ele foi escolhido e mantido oculto junto d'Ele, antes que o mundo fosse criado; e Ele será para todo o sempre. E a Sabedoria do Senhor dos Espíritos revelou-O aos Santos e aos Justos; pois Ele protege o destino dos justos, pois estes odiaram e aborreceram este mundo de depravação, repudiando todas as suas obras e caminhos, em nome do Senhor dos Espíritos. Em seu nome eles serão salvos, e do seu beneplácito depende sua vida.

            5 Naqueles dias, os reis da terra e os poderosos que possuem esta terra ficarão com o semblante abatido por causa das obras das suas mãos; no dia da sua angústia e privação não poderão salvar a alma.

            6 Eu os entregarei então nas mãos do meu Escolhido; eles arderão como palha ao fogo na presença dos Justos e submergirão como o chumbo na água diante dos Santos, e não se encontrará mais sinal deles.

            7 No dia da sua tribulação, estabelecer-se-á a paz sobre a terra; cairão na presença deles e não mais poderão levantar-se. Ninguém então se apresentará para tomá-los pela mão e reerguê-los, porque eles renegaram o Senhor dos Espíritos e o seu Ungido. Louvado seja o Nome do Senhor dos Espíritos!

 

            Capítulo 49

            1 Pois a Sabedoria derramou-se como água, e a sua Glória não cessará por toda a eternidade. Pois Ele é poderoso em todos os mistérios da Justiça; e a injustiça desaparecerá como uma sombra e não mais subsistirá. O Eleito está diante do Senhor dos Espíritos, e a sua Glória permanece de eternidade em eternidade e o seu Poder de geração em geração.

            2 Nele habita o espírito da Sabedoria, o espírito que dá o entendimento, o espírito da compreensão e da fortaleza; nele se encerra o espírito daqueles que adormeceram na Justiça.

            3 Ele porá à luz as coisas ocultas, e diante dele ninguém poderá apresentar uma mentira, pois Ele está diante do Senhor dos Espíritos, escolhido por seu beneplácito.

 

            Capítulo 50

            1 Naqueles dias acontecerá uma mudança para os santos e os escolhidos: a luz do dia brilhará perenemente sobre eles, e a honra e a glória voltar-se-ão para os santos.

            2 No dia da tribulação, acumular-se-á a desgraça sobre os pecadores, enquanto que os justos triunfarão em nome do Senhor dos Espíritos; e Ele deixará que aqueles presenciem isso, para que façam penitência e renunciem aos atos das suas mãos.

            3 Nenhuma honra alcançarão através do Nome do Senhor dos Espíritos, todavia serão salvos pelo seu Nome. E o Senhor dos Espíritos compadecer-se-á deles, pois grande é a sua misericórdia.

            4 Ele é justo no seu julgamento, e diante da sua Glória nenhuma iniqüidade subsiste. Aquele, porém, que no seu Julgamento não fizer penitência estará condenado. "Desse momento em diante não mais me compadecerei deles", diz o Senhor dos Espíritos.

            (2ª Parte) 


            Enoque (ou Enoch) – חנוך, Chanoch ou Hanokh – é o nome dado a um dos personagens bíblicos mais peculiares e misteriosos das Escrituras. Nasceu, segundo os escritos judeus, na sétima geração depois de Adão, sendo filho de Jarede, e pai de Matusalém.

             Enoque é o assunto de muitas tradições judaicas e cristãs. Ele foi considerado o autor do Livro de Enoque e também chamou Enoque de escriba do julgamento.

             De acordo com a tradição escrita hebraica denominada Tanakh, relatada em Gênesis, capítulo 5, versos 22-24, Enoque teria sido tomado por Deus para que não experimentasse a morte e na certa fosse poupado da ira do dilúvio:

             “E andou Enoque com Deus, depois que gerou a Matusalém, trezentos anos, e gerou filhos e filhas. E foram todos os dias de Enoque trezentos e sessenta e cinco anos. E andou Enoque com Deus; e não apareceu mais, porquanto Deus para si o tomou.”

             Há dois aspectos extraordinários no relato de Enoque, enfocados nesses versículos, que não foram enfocados em outras gerações: as indicações do texto de que ele “andou com Deus” e o fato que, supostamente, ele não teria morrido, pois “Deus para si o tomou”. Estes relatos foram a origem de muitas fábulas e midrashim (estudos rabínicos mais aprofundados) de sábios judeus ao longo de séculos. Muitos deles se incomodaram muito pelo fato que Enoque "só" vivera 365 anos, uma curta duração de vida para sua época, de acordo com o livro de Gênesis.

             Sobre este personagem bíblico existem também os livros apócrifos pseudoepígrafos: “Livro de Enoque I” e o “Livro de Enoque II", que fazem parte do cânone de alguns grupos religiosos, principalmente dos cristãos da Etiópia”, mas que foram rejeitados pelos cristãos, por não terem sido inspirados pelo Espírito Santo e pelos hebreus, por serem particularmente incômodos do ponto de vista político. Todavia, a epístola de Judas, no Novo Testamento bíblico, faz uma menção expressa ao Livro de Enoque, fazendo uma breve citação nos versos 14 e 15 de seu único capítulo. De acordo com O Livro de Enoque: com estudo comparativo das principais traduções, existem vários livros atribuídos a Enoque, sendo três os mais conhecidos: O Livro de Enoque (ou Enoque etíope ou Enoch 1), O Segundo Livro de Enoque (ou Enoque Eslavônico) e O Terceiro Livro de Enoque (ou Enoque hebraico). O mais conhecido é o primeiro deles, que está incluído na bíblia etíope, é considerado autêntico pelos judeus da Etiópia e era considerado autêntico pelos judeus até cerca do ano 200, tendo feito parte do corpus bíblico hebraico até essa época e tendo sido removido por um rabino, por diversas razões, inclusive políticas. Cerca de 200 anos mais tarde, São Jerônimo, encarregado de criar a bíblia cristã, se baseou no princípio "verdade hebraica", que significava que os livros considerados autênticos pelos judeus (do Antigo Testamento) eram autênticos. Por essa razão, o Livro de Enoque caiu no esquecimento no Ocidente, até ser reencontrado mais de mil anos depois. O Livro de Enoque (Enoch 1) foi traduzido e publicado no Brasil pela primeira vez em 1982. O Livro de Enoch é extremamente polêmico, por abordar questões sexuais e raciais. Uma das polêmicas é a dos anjos caídos que desceram dos céus para ter relações sexuais com mulheres que consideraram atraentes e geraram gigantes que destruía a Terra. Outra polêmica é que de acordo com uma passagem, Adão e Eva tiveram filhos negros e Adão era branco, o que indica que Eva era negra.

             De acordo com o relato contido em Gênesis sobre a idade dos patriarcas, Sete e seus filhos ainda viviam quando Enoque foi tomado por Deus, bem como Matusalém e Lameque.

https://pt.wikipedia.org/wiki/Enoque_(antepassado_de_No%C3%A9)

NOTA: Em verdade vos digo, que este texto a de ser lido não com os olhos da carne, mais sim com os do espirito, deve-se ler com inspiração, pois aquele que de modo diferente o fizer, mais lhe será a sua confusão. Aquele que  confuso se fizer e boa vontade tiver em seu intendimento, que em busca da verdade saias, porque certamente esta lhe virá a seu encontro...