domingo, 3 de fevereiro de 2019

O Testamento de Judá


(Da valentia, da cobiça material e da luxúria)





            Capítulo 1
            1 Transcrição das palavras de Judá aos seus filhos, antes da sua morte. Após haverem-se reunido, vieram para junto dele. Então ele falou-lhes:

            2 "Eu fui o quarto filho do meu pai, e minha mãe Lia deu-me o nome de Judá. Ela disse: `Sou agradecida ao Senhor, por ter-me dado um quarto filho'. Na minha juventude eu era muito veloz e obediente a toda palavra do meu pai. Eu honrava minha mãe e a irmã de minha mãe. Ao tornar-me homem, meu pai assegurou-me: 'Tu serás um rei, e em tudo terás sorte'.

            Capítulo 2
            1 "O Senhor deu-me a sua bênção em todas as minhas obras, tanto nas lides do campo como em casa. Eu sabia que podia correr como uma corça; de fato, apanhei-a, preparei-a para o meu pai, e este regalou-se. Na corrida, eu alcançava as gazelas e tudo o mais que se movia em campo aberto. Assim, cheguei a capturar uma égua selvagem, e amansei-a. Matei um leão e arranquei um cabritinho dos seus dentes. Agarrei um urso pelo pé e arremessei-o num abismo, onde caiu e arrebentou-se.

            2 "Corri par a par com um barrão selvagem, sobrepujei-o,agarrei-o e fi-lo em pedaços. Um leopardo atacou meu cão, em Hebron. Agarrei-o pelo rabo e atirei-o contra as rochas, partindo-o em dois pedaços. Agarrei pelos chifres um touro bravio, que pastava nos campos, sacudi-o em círculo, atordoei-o, atirei-o ao chão e matei-o.

            Capítulo 3
            1 "E quando os dois reis cananeus, acompanhados de grande número, vieram armados sobre os nossos rebanhos,. eu corri sozinho contra o rei de Hazor, agarrei-o, golpeei-o nas tíbias, arremessei-o ao chão c o matei. Da mesma forma acabei também com o outro, rei de Tappuach, que vinha montado a cavalo. E assim dispersei toda a multidão, e outro rei encontrei pela frente, um gigante, que montado a cavalo disparava os seus projéteis para frente e pari trás. Arremessei uma pedra df sessenta libras no cavalo, matando-o.

            2 "Depois lutei por duas horas. Quebrei o seu escudo em dois, amarrei-lhe os pés e o trucidei. Arranquei lhe a armadura; então vieram nove dos seus companheiro; para me enfrentar. Segurei minha roupa com uma mão e comecei a alvejá-los com pedras matando quatro deles. Os demais fugiram.

            3 "E nosso pai Jacó matou Beelesath, o rei de todos os reis; este tinha a força de um gigante de doze côvados. Foram acometidos de tremor; então desistiram de lutar contra nós. Por esse motivo, quando eu estava ao lado dos meus irmãos, nos combates, meu pai ficava livre de preocupações. Ele tivera uma visão a meu respeito que um Anjo forte me acompanhava por toda parte, não permitindo que eu fosse batido.

            Capítulo 4
            1 "No Sul, enfrentamos uma batalha ainda maior do que a de Siquém. Preparei-me para a luta, ao lado dos meus irmãos. Persegui mil homens e eliminei cerca de duzentos deles, bem como quatro reis.

            2 "Depois escalei os muros e matei quatro heróis. Invadimos Hazor, saqueando-a completamente.

            Capítulo 5
            1 "Num outro dia, marchamos contra Aretan, cidade fortificada, circunvalada e inacessível, que nos ameaçava de morte. Eu e Gad aproximamo-nos da cidade pelo lado norte, enquanto que Ruben e Levi aproximavam-se pelos lados sul e oeste. Os que se encontravam sobre os muros imaginavam que nós estávamos completamente sós, e avançaram contra nós.

            2 "Os irmãos, porém, escalaram sorrateiramente a muralha com escadas, a partir de dois pontos diferentes, e assim tomaram a cidade de assalto. Subjugamo-la com o fio das nossas espadas; aprisionamos os que se refugiaram na torre, e em seguida incendiamos a mesma.
3 "Retiramo-nos. Homens de Tappuach avançaram sobre os prisioneiros. Vimos isso e atracamo-nos com eles. Foram batidos, e nós retomamos o nosso espólio.

            Capítulo 6
            1 "Eu me encontrava junto às águas de Kozeba, quando os de Jobel avançaram contra nós em pé de guerra. Enfrentamo-los e os derrotamos, e também os de Silo, seus amigos. Não passaram por nós. No quinto dia, moveram-se contra nós os de Machir; queriam apossar-se dos nossos prisioneiros. Avançarmos contra eles e vencemo-los numa grande batalha, pois havia entre eles grande número de heróis. Derrotamo-los quando ainda se preparavam para o encontro.

            3 "Assim, chegamos à sua cidade. As mulheres deles jogaram pedras contra nós do topo do monte sobre o qual se assentava a cidade. Então eu e Simeão ocultamo-nos na sua retaguarda. Assim, galgamos a elevação, e depois arrasamos a cidade completamente.

            Capítulo 7
            1 "Num outro dia, foi-nos comunicado que se levantava contra nós o rei de Gaas, com um numeroso exército. Então eu e Dan disfarçamo-nos de amoreus, e assim entramos na cidade como amigos. Nossos irmãos aproximaram-se na calada da noite, e nós abrimos os portões para eles. Eliminamos a todos, juntamente com seus bens, espoliamo-los completamente, e pusemos abaixo o muro triplo da sua cidade.

            2 "Chegamos depois a Thamna, onde se encontravam todos os fugitivos dos reis adversários. Percebendo que zombavam de nós, entrei em grande furor e avancei uma vez mais contra eles no topo; alvejavam-me com pedras e com flechas, e se meu irmão Dan não me tivesse socorrido, ter-me-iam matado. Nós porém avançamos corajosamente contra eles, e todos fugiram. Foram procurar o meu pai, por outro caminho, com o pedido de paz. E ele firmou-a com eles.

            3 "Não lhes fizemos mal nenhum; pagaram-nos tributo; e nós lhes devolvemos o espólio. Depois eu completei a construção de Thamna; meu pai construiu Pabael. Por ocasião daquelas batalhas, eu tinha vinte anos de idade. Mas os cananeus tinham medo de mim e dos meus irmãos.

            Capítulo 8
            1 "Eu possuía muitos rebanhos. O chefe dos meus pastores chamava-se Iram, natural de Adullam. Chegando para junto dele, encontrei lá o rei de Adullam, Parsaba. Este ofereceu-nos um banquete. Estando eu em grande ardor, ele deu-me sua filha Batsua por mulher.

            2 "E ela gerou-me os filhos Her, Onan e Sela. Dois deles o Senhor retirou. Apenas Sela permaneceu em vida, e vós sois seus filhos.

            Capítulo 9
            1 "Por dezoito anos o nosso pai Jacó manteve a paz com o seu irmão Esaú, e assim também os filhos dele conosco; voltamos da Mesopotâmia, das terras de Labão. Decorridos outros dezoito anos, no quadragésimo ano de minha vida, Esaú, irmão de meu pai, marchou contra nós com poderoso e forte exército. Jacó acertou Esaú com uma flecha. Ferido, foi transportado ao monte Seir; chegou lá, e morreu em Anoniram.

            3 "Nós perseguimos os filhos de Esaú. Eles porém tinham uma cidade com muros de ferro e portões de bronze, e assim não conseguimos penetrar nela. Acampamos ao seu redor e a isolamos completa-mente. Dado que, passados vinte dias, não abriam as portas, eu, sob os seus olhos, aproximei uma escada dos muros e, protegendo a cabeça com o escudo, subi. Choviam sobre mim pedras de quase três talentos de peso. Mas lá cheguei e matei quatro dos seus valentes.

            4 "Ruben e Gad eliminaram outros seis. Eles pediram-nos a paz. Seguimos então o conselho do nosso pai, e aceitamos a sua sujeição. Davam-nos 500 medidas de trigo, 500 litros de óleo e 1.500 litros, até o tempo em que nos transferimos para o Egito.

            Capítulo 10
            1 "E o meu filho Her tomou por esposa Thamar, uma filha de Aram, da Mesopotâmia. Mas Her foi um homem ruim. Vivia em grande turbação por causa de Thamar, por não ser ela oriunda da terra de Canaã. E, durante a noite, foi golpeado pelo Anjo do Senhor.

            2 "Por intrigas da sua mãe, ele não se deitava com Thamar; não queria ter filhos com ela. Então, na semana de núpcias, dei-a por esposa ao seu cunhado Onan. Mas também este, na sua maldade, não se deitou com ela, embora já tivessem um ano de convivência.
            3 "Fiz-lhe ameaças. Então ele passou efetivamente a juntar-se com ela, mas derramava sua semente ao chão, segundo a recomendação de sua mãe. Também ele morreu, por sua perversidade. Eu quis então dá-la a Sela, mas sua mãe não o permitiu. Esta tinha um mau relacionamento com Thamar, por não ser das filhas de Canaã, como ela própria.

            Capítulo 11
            1 "Eu sabia que a raça de Canaã era uma raça ruim, mas a impetuosidade juvenil cegou meu coração. Eu vi Batsua, quando servia o vinho, e estando ébrio do vinho fiquei transtornado e deitei-me com ela, contrariando as recomendações do meu pai.

            2 "Aproveitando-se da minha ausência, Batsua foi a Canaã e trouxe de lá uma mulher para Sela. Quando soube o que ela havia feito, amaldiçoei-a na tristeza do meu coração, e ela morreu pela sua maldade, como seus filhos Her e Onan.

            Capítulo 12
            1 "Passados dois anos, a viúva Thamar soube que eu estava de partida para a tosquia das ovelhas. Então ela enfeitou-se como uma noiva e foi assentar-se às portas da cidade de Enaim. E costume entre os amoreus que uma recém-casada se coloque por sete dias às portas da cidade, para fins de fornicação. Dado que eu tinha bebido muito vinho, não a reconheci. Iludiu-me a sua beleza, com o adorno das suas vestes:

            2 "Então encaminhei-me até ela e disse: "Quero deitar-me contigo". Ela retrucou-me: "O que me darás em troca?" Dei-lhe o meu bastão e o meu cinto, juntamente com o diadema real. Deitei-me com ela, e ela engravidou. Não tive consciência do que fiz; desejei matá-la. Então secretamente ela mandou entregar-me os penhores; fiquei profundamente envergonhado. Mandei chamá-la e ouvi dela as palavras intimas que lhe dissera enquanto embriagado me deitava sobre ela.

            3 "Eu não podia matá-la; eram coisas de Deus. Mas perguntei-lhe se por acaso não agira ardilosamente, colocando outra mulher em seu lugar. Nunca mais a procurei, em toda a minha vida. Pratiquei uma coisa abominável em Israel. As pessoas da cidade esclareceram que não existia nenhuma prostituta às portas; ela viera de outro lugar, e só esteve assentada por pouco tempo junto ao portão. Eu imaginava também que fosse desconhecido o fato de eu ter estado com ela.

            4 "Depois, por causa da fome, dirigimo-nos a José, no Egito. Eu tinha quarenta e seis anos de idade, e lá permaneci por setenta e três anos.

            Capítulo 13
            1 "Agora, meus filhos, prestai atenção ao que vou dizer-vos! Guardai todas as minhas palavras! Observai todos os mandamentos do Senhor! Não sigais os vossos desejos e não vos comporteis, na leviandade do vosso coração, segundo os vossos apetites! E não vos vanglorieis dos atos de bravura da vossa juventude! Também isso é um mal aos olhos do Senhor.

            2 "Eu me gabava que, nas batalhas, jamais deixei-me transtornar pelo rosto de uma mulher bonita. Cheguei a injuriar o meu irmão Ruben por causa de Balla, mulher do meu pai. Depois despertou em mim o espírito da volúpia e da luxúria, a ponto de juntar-me com a Cananéia Batsua, e depois com Thamar, esposa dos meus filhos! Eu dizia ao meu sogro: `Desejo primeiro consultar-me com o meu pai; só depois tomarei a tua filha'.

            3 "Com isso ele ficou contrariado. Mostrou-me então um tesouro imenso de ouro, no nome de sua filha; ele era um rei. Mandou que ela se enfeitasse de ouro e pérolas, e que no banquete o vinho fosse servido pela beleza das mulheres. O vinho esgazeou os meus olhos; o desejo obscureceu o meu coração.

            4 "Levado pelo amor e pela paixão, fui a ela e tomei-a por mulher, transgredindo o Mandamento do Senhor e do meu pai. Mas o Senhor retribuiu-me na medida dos ardores do meu coração; não tive alegria com os filhos que ela me deu.

            Capítulo 14
            1 "Não vos embriagueis com o vinho, meus filhos! O vinho desvia o entendimento da Verdade, suscita cóleras e deixa os olhos transtornados. O espírito da luxúria tem no vinho um servidor para a sensualidade; juntos, roubam as forças do homem. Quando alguém toma vinho até embriagar-se, dirige o seu espírito para a volúpia, por meio de pensamentos impuros, excita o corpo para o coito, e estando ao alcance o objeto do desejo, comete o pecado sem sentir vergonha.

            2 "Assim é com o vinho, meus filhos; pois o embriagado não tem temor. Também a mim ele seduziu; não me envergonhei perante o povo da cidade. Aos olhos de todos, afastei-me com Thamar para deitar-me com ela, cometi um grande pecado, revelei a vergonha dos meus filhos.

            3 "Após ter bebido vinho, não temi o Mandamento de Deus; tomei por mulher uma Cananéia. Quem toma vinho, meus filhos, deve ter muito discernimento. O discernimento no prazer de beber vinho consiste em que só se o tome enquanto se conserva o senso de vergonha. Quando se ultrapassa esses limites, o espírito da perversão acomete o entendimento. Faz com que o ébrio pronuncie palavras indecentes e se comporte escandalosamente, sem pejo algum; ao contrário, gaba-se do vexame e imagina estar fazendo boa figura.
            Capítulo 15
            1 "Aquele que fornica não tem consciência do que está a perder, e incorrendo na desonra, não se envergonha. Em se tratando de um rei, priva-se ele da realeza. Passa a ser um escravo da luxúria, segundo eu mesmo experimentei. Entreguei o meu bastão, isto é, o suporte da minha estirpe; entreguei o meu cinto, isto é, o meu poder; entreguei o diadema, isto é, a glória da minha realeza.

            2 "Por isso, eu fiz penitência. Não bebi mais vinho, nem comi mais carne até a minha velhice, e privava-me de qualquer alegria. E o Anjo do Senhor revelou-me que, desde sempre, as mulheres não dominam apenas o rei; não, dominam também o mendigo. Ao rei tiram a glória, ao varão o poder, ao mendigo o ínfimo apoio na sua pobreza.

            Capítulo 16
            1 "Tende cuidado, meus filhos, com o limite do vinho! Nele residem quatro espíritos maus: o espírito do desejo, o espírito da volúpia, o espírito do descomedimento e o espírito da vantagem vergonhosa. Ao beberdes vinho com alegria, permanecei reservados e no temor de Deus! Pois no momento em que o temor de Deus se afasta da vossa alegria, sobrevêm a embriaguez, depois a perda da vergonha.

            2 "Se quereis viver com sobriedade, guardai-vos do vinho! Então não pecareis por palavras grosseiras, brigas, difamação e desprezo pelos Mandamentos de Deus. Caso contrário, morrereis antes do tempo. O vinho faz revelar os segredos humanos e divinos. Eu mesmo outrora revelei os segredos divinos e os segredos do pai Jacó à Cananéia Batsua, não obstante a proibição divina. O vinho também é a base da guerra e da subversão.

            Capítulo 17
            1 "Agora, meus filhos, exorto-vos a não amar o dinheiro e a não olhar para a beleza das mulheres. Eu fui seduzido pelo dinheiro e pela beleza, ao desposar a Cananéia Batsua. Eu sei que a minha descendência cairá em pecado por ambas essas coisas, pois inclusive os sábios dentre os meus filhos deixar-se-ão transtornar no seu pensamento. Assim, ficará apequenado aquele reino de Judá que me foi outorgado pelo Senhor, por ter sido eu desobediente ao meu pai.

            2 "Na realidade, eu nunca contrariara o meu pai sequer por uma palavra; eu cumpria tudo o que ele dizia. E Isaac, pai do meu pai, deu-me esta bênção de ser rei em Israel. E Jacó abençoou-me da mesma forma. Eu sei que de mim procede a realeza.

            Capítulo 18
            1 "Eu li nos livros de Enoque, o Justo, todos os males que havereis de cometer naqueles tempos derradeiros. Guardai-vos, meus filhos, da luxúria e da cobiça do dinheiro! Escutai o vosso pai Judá! Pois tais coisas afastam da Lei de Deus, subvertem as energias da alma, introduzem a arrogância e não permitem ao homem ter sentimentos de bem-querer para com o seu próximo.

            2 "Elas roubam a bondade da alma, oprimem o homem com desgastes e fadigas, tiram-lhe o sono, trituram-lhe as carnes. O homem, presa desses males, prejudica o serviço divino, não faz caso da bênção de Deus, não escuta as palavras dos profetas e mostra má vontade em face de palavras piedosas. Pois aquele que serve a estes dois vícios, não pode seguir a Deus; eles obnubilam a sua alma. Pensa andar na luz do dia, quando na realidade anda na noite.

            Capítulo 19
            1 "A cobiça do dinheiro, meus filhos, conduz ao culto dos ídolos; o homem seduzido pelo dinheiro chama de Deus aquilo que de forma alguma o é. Aquela cobiça enlouquece quem a possui. Foi por causa do dinheiro que eu perdi meus filhos, e se não fossem a mortificação da minha carne, a penitência da minha alma, as orações do meu pai Jacó, eu teria morrido sem nenhum filho.

            2 "Contudo, o Deus dos meus Pais teve misericórdia para comigo, pois fiz tudo aquilo sem saber. O Príncipe do mal cegou-me; eu pequei como um homem, como carne, totalmente corrompido pelo pecado. Aprendi a conhecer a minha própria fraqueza, eu que me considerava invencível.

            Capítulo 20
            1 "Sabei, meus filhos! Existem no homem dois espíritos, o espírito da verdade e o espírito do erro, e entre eles se situa o discernimento da inteligência. Ele pode inclinar-se para onde quiser.

            2 "No coração do homem serão inscritas as obras da verdade e as obras da mentira; e ambas as coisas são do conhecimento do Senhor. Em tempo algum as obras dos homens podem ficar ocultas, pois estão registradas em seu coração, na presença do Senhor. O espírito da Verdade dá testemunho de tudo, tudo acusa, e diante do seu próprio coração o pecador enrubesce, e não pode erguer o seu rosto para o Juiz.

            Capítulo 21
            1 "E mais vos digo, meus filhos, amai Levi! Não vos insurjais nunca contra ele! Do contrário, caireis na desgraça, pois Deus concedeu a mim a realeza, e a ele o sacerdócio. Ele submeteu a realeza ao sacerdócio, e a mim Ele outorgou todas as coisas da terra, a ele todas as coisas do céu. Assim, da mesma forma como o céu é mais alto do que a terra, assim também o sacerdócio de Deus supera a realeza da terra, a menos que se afaste do Senhor pelo pecado e seja dominado pela realeza terrestre.

            2 "O Anjo do Senhor falou-me: 'Eis que o Senhor escolheu a ele primeiro do que a ti, para que d'Ele se aproximasse, comesse da sua mesa, e Lhe oferecesse em sacrifício as primícias dos filhos de Israel. Mas tu deverás ser rei em Jacó. Tu serás para eles como o mar. Pois assim como o mar tanto os justos quanto os injustos são golpeados pela tempestade, uns são lançados à prisão, outros enriquecem, assim também haverá em ti homens de toda sorte. Uns serão completamente espoliados e irão para o cativeiro; outros enriquecerão com a pilhagem de outrem.

            3 "Os reis são como os monstros marinhos; engolem igualmente peixes e homens. Fazem de filhos livres e de filhas livres escravos, e roubam casas, campos, rebanhos e dinheiro. E com a carne de muitos saciam perversamente abutres e gaviões, seguem imperturbáveis o caminho do mal, recrudescem sua cobiça, são falsos profetas e cheios de corrupção, perseguem todos aqueles que são justos."

            Capítulo 22
            1 "O Senhor permitirá que haja divisões entre vós; em Israel sempre haverá lutas. O meu reino será destruído por povos estranhos, até que chegue a Salvação para Israel, até que apareça o Deus justo e Jacó possa descansar em paz juntamente com todo o mundo dos pagãos.
2 "Ele conservará o poder do meu reino para sempre. O Senhor jurou-me que jamais tiraria a realeza da minha estirpe.

            Capítulo 23
            1 "Grande é minha tristeza, meus filhos, pela luxúria, feitiçaria e culto dos ídolos que havereis de praticar, contrariamente à realeza. Seguireis os ventríloquos, as vozes e os demônios da ilusão. Fareis de vossas filhas dançarinas e prostitutas, e misturar-vos-eis com as perversidades dos pagãos.

            2 "Por isso o Senhor mandará sobre vós a peste, a fome, a morte e a espada, o cerco inimigo, o insulto dos amigos, o assassinato de crianças, o rapto de mulheres, a pilhagem dos bens, a redução do Templo a cinzas, o bloqueio do país, a vossa escravização pelos pagãos. Estes farão diversos de vós eunucos a serviço das suas mulheres, até voltardes para o Senhor com um coração puro e cheio de arrependimento, cumprindo todos os seus Manda-mentos. Então o Senhor vos procurará, cheio de misericórdia, e vos tirará dos cárceres dos pagãos.

            Capítulo 24
            1 "Então sairá de Jacó uma estrela que vos trará a paz. Surgirá um Homem da minha estirpe que será como o sol da justiça; Ele habitará entre os filhos dos homens em mansidão e justiça, e nenhum pecado será encontrado n'Ele. Eis que os céus se abrem sobre Ele, derramando o espírito e a bênção santa do Pai.

            2 "Ele mesmo derramará sobre vós o espírito da graça; vós sereis seus filhos em verdade, e seguireis os seus Mandamentos, da manhã à noite. Este é o Rebento do Deus altíssimo, fonte de vida para toda carne.

            3 "Então luzirá o cetro da minha realeza; o Rebento florescerá da vossa raiz. d'Ele procederá um cetro justo para os pagãos, para julgar e salvar todos aqueles que invocam o Senhor.

            Capítulo 25
            1 "Então Abraão, Isaac e Jacó ressuscitarão para a vida, e eu e meus irmãos seremos príncipes de nossas estirpes. Levi o primeiro, eu o segundo, José o terceiro, Benjamim o quarto, Simeão o quinto, Issachar o sexto, e assim todos sucessivamente.

            2 "O Senhor dará a Levi a bênção, a mim a proteção do Anjo, a Simeão os poderes da glória, a Ruben o céu, a Issachar a terra, a Zebulon o mar, a José as montanhas, a Benjamim saturno, a Dan as estrelas, a Nephtali Vênus, a Gad o sol, a Aser a lua. E vós sereis o povo do Senhor, com uma só língua. Aqui não existirão os espíritos fraudulentos de Belial; ele será lançado ao fogo por todos os tempos.

            3 "E aqueles que morreram na tristeza, ressuscitarão na alegria. Os que se tornaram pobres por causa do Senhor, serão feitos ricos; os que morreram pelo Senhor, despertarão para a vida. Os cabritos de Jacó saltarão de alegria; em júbilo voarão as águias de Israel. Os povos todos louvarão ao Senhor por toda a eternidade.

            Capítulo 26
            1 "Portanto, meus filhos, observai em tudo a Lei do Senhor! Ela é uma esperança para todos aqueles que se mantêm firmemente nos seus caminhos. Disse-lhes depois: Vou morrer hoje sob os vossos olhos, aos cento e dezenove anos de idade. Não me sepulteis com vestes luxuosas e não retireis minhas entranhas. Isso é próprio dos reis. Levai-me convosco para Hebron!"

            2 "E assim, após essas palavras, Judá adormeceu. E os seus filhos cumpriram de acordo com as suas ordens, e sepultaram-no em Hebron, junto dos seus Pais.

            Judá (em hebraico: יְהוּדָה, hebraico moderno: Yəhuda, hebraico tiberiano Yəhûḏāh) era o quarto filho de Jacó e de Léa, e a raiz hebraica de seu nome, Yah hu Dah, é uma expressão de agradecimento a Deus. A história do homem chamado Judá restringe-se ao relato bíblico e às fontes tradicionais do judaísmo.

            Judá teve participação na trama que visava o desaparecimento de seu meio-irmão mais novo José. Mais tarde, Judá e seus irmãos foram ao Egito pedir alimento durante um período de sete anos de escassez. Seu irmão, Simeão, foi mantido cativo pelo administrador daquele país (secretamente, o próprio José), e os demais irmãos se viram obrigados a levar em sua presença seu irmão mais moço, Benjamim. Após estes eventos, os doze irmãos reuniram-se em paz novamente, e juntamente com seu pai Jacó, tomaram residência na margem leste do delta do Rio Nilo.

            Antes de morrer, Jacó abençoou cada um de seus filhos. Acerca de Judá, Jacó lhe prometeu que seus irmãos lhe prestariam homenagem, e que o cetro não se arredaria de sua mão, e o legislador não se apartaria de seus pés, predizendo assim o destino da descendência de Judá sobre todo Israel.

            O primeiro livro de Crônicas relata que Judá casou-se com a filha de Suá, e teve três filhos: Er, Onã e Selá, dos quais Er e Onã vieram a falecer. Mais tarde, Judá teve mais dois filhos com sua nora Tamar: Perez e Zerá. É dito que, a partir destes descendentes, formou-se a tribo de Judá.

            Importante ressaltar que o termo judeu origina-se da tribo de Judá, sendo a única tribo de Israel que foi preservada da descaracterização depois da invasão dos assírios. Enquanto as demais tribos foram forçadamente miscigenadas com os povos pagãos, os descendentes de Judá, preservaram suas tradições durante o exílio babilônico. Assim, pode-se dizer que nem todos os israelitas primitivos poderiam ser considerados judeus no sentido étnico.

            O filho mais velho de Judá e de Tamar, Perez, foi ancestral do rei Davi, quem segundo São Mateus, foi ancestral de José, o pai de Jesus Cristo, o filho de Deus. Por isso Jesus é citado várias vezes como “filho de Davi” ou como o “Leão de Judá”.


            Tribo de Judá
            De acordo com a Bíblia Hebraica, a Tribo de Judá (שֵׁבֶט יְהוּדָה, Shevet Yehudah, "Louvor") foi uma das doze tribos de Israel.

            Descrição Biblica
            A Tribo de Judá, as suas conquistas e a centralidade de sua capital em Jerusalém para a adoração do deus Yahweh figuram proeminentemente na história Deuteronomista, abrangendo os livros de Deuteronômio a II Reis, que a maioria dos estudiosos concorda que foi reduzida a forma escrita, embora sujeito a alterações e emendas exílicas e pós-exílicas, durante o reinado do reformador Judaico Josias de 641–609 AEC.

            De acordo com o relato no Livro de Josué, após uma conquista parcial de Canaã pelas tribos Israelitas (os jebuseus ainda mantinham Jerusalém), Josué alocou a terra entre as doze tribos. A porção divinamente ordenada de Judá é descrita em Josué 15 como abrangendo a maior parte do sul da Terra de Israel, incluindo o Neguev, a Região Selvagem de Sim e Jerusalém. No entanto, o consenso dos estudiosos modernos é que isso nunca ocorreu. Outros estudiosos apontam para referências extra-bíblicas a Israel e Canaã como evidência para a potencial historicidade da conquista.

            Nas palavras de abertura do Livro dos Juízes, após a morte de Josué, os israelitas "perguntaram ao Senhor" qual tribo seria a primeira a ocupar o seu território, e a tribo de Judá foi identificada como a primeira tribo. De acordo com a narrativa no Livro dos Juízes, a tribo de Judá convidou a tribo de Simeão para lutar com eles em aliança para assegurar cada um dos seus territórios atribuídos. Como é o caso de Josué, muitos estudiosos não acreditam que o livro dos juízes contenha uma história confiável.

            O Livro de Samuel descreve o repúdio de Deus a uma linha monárquica surgida da Tribo de Benjamim do norte devido à pecaminosidade do Rei Saul, que foi então concedida à Tribo de Judá para sempre na pessoa do Rei Davi. No relato de Samuel, após a morte de Saul, todas as outras tribos, além de Judá, permaneceram leais à Casa de Saul, enquanto Judá escolheu Davi como seu rei. No entanto, depois da morte de Isboset, filho de Saul e sucessor do trono de Israel, todas as outras tribos de Israel fizeram Davi, que era então o rei de Judá, rei de um unificado Reino de Israel. O Livro dos Reis segue a expansão e glória incomparável da Monarquia Unida sob o Rei Salomão. A maioria dos estudiosos acredita que os relatos sobre o território de Davi e Salomão na "monarquia unida" são exagerados, e uma minoria acredita que a "monarquia unida" nunca existiu. Discordando desta última visão, o estudioso do Antigo Testamento Walter Dietrich sustenta que as histórias bíblicas dos monarcas do século 10 AC contêm um núcleo histórico significativo e não são apenas ficções tardias.

            Sobre a ascensão de Roboão, filho de Salomão, em c. 930 AEC, as dez tribos do norte, sob a liderança de Jeroboão, da Tribo de Efraim, separaram-se da Casa de Davi para criar o Reino de Israel (ao Norte) com capital em Samaria. O Livro dos Reis é inflexível em sua baixa opinião de seu vizinho maior e mais rico do norte, e compreende sua conquista pela Assíria em 722 AC como retribuição divina para o retorno do Reino à idolatria.

            As tribos de Judá e Benjamim permaneceram leais à Casa de Davi. Essas tribos formaram o Reino de Judá, que existiu até que Judá foi conquistada pela Babilónia em c. 586 AC e a população deportada.

            Quando os judeus retornaram do exílio babilónico, afiliações tribais residuais foram abandonadas, provavelmente por causa da impossibilidade de restabelecer os antigos terrenos tribais. No entanto, os papéis religiosos especiais decretados para os levitas e os Cohen foram preservados, mas Jerusalém tornou-se o único lugar de culto e sacrifício entre exilados, nortistas e sulistas que voltavam.

            Território e principais cidades
            De acordo com o relato bíblico, no auge, a tribo de Judá era a principal tribo do Reino de Judá e ocupava a maior parte do território do reino, exceto por uma pequena região no nordeste ocupada por Benjamim e um enclave. em direção ao sudoeste que foi ocupado por Simeão. Belém e Hebrom foram inicialmente as principais cidades dentro do território da tribo.

            O Leão é o símbolo da Tribo de Judá. É frequentemente representado na Arte Judaica, como esta escultura fora de uma sinagoga

            O tamanho do território da tribo de Judá significava que, na prática, ele tinha quatro regiões distintas:
·         O Neguev (hebraico: sul) - a parte sul da terra, que era altamente adequada para pastagens
·         A Sefelá (hebraico: planície) - a região costeira, entre as terras altas e o mar Mediterrâneo, que foi usada para a agricultura, em particular para grãos.
·         O deserto - a região árida imediatamente ao lado do Mar Morto e abaixo do nível do mar; era selvagem e quase inabitável, na medida em que animais e pessoas que não eram bem-vindas em outros lugares, como ursos, leopardos e foras da lei, o tornavam a casa deles. Nos tempos bíblicos, esta região foi subdividida em três seções - o deserto de Ein Gedi, o deserto de Judá, e o deserto de Maon.
·         A região montanhosa - o planalto elevado situado entre a Sefelá e o deserto, com encostas rochosas mas solo muito fértil. Esta região foi usada para a produção de grãos, azeitonas, uvas e outras frutas e, portanto, produzia óleo e vinho.

            Origem
            De acordo com o Torá, a tribo consistia de descendentes de Judá, o quarto filho de Jacó e de Lea. Alguns estudiosos da Bíblia vêem isso como um mito etiológico criado em retrospectiva para explicar o nome da tribo e conectá-lo às outras tribos da confederação Israelita. Com Lea como matriarca, os estudiosos da Bíblia consideram a tribo como tendo sido acreditada pelos autores do texto como parte da confederação Israelita original.

            Como as outras tribos do reino de Judá, a tribo de Judá está totalmente ausente da antiga Canção de Débora, em vez de presente, mas descrita como não disposta a ajudar na batalha entre os Israelitas e o seu inimigo. Tradicionalmente, isso foi explicado como sendo devido ao fato de o reino do sul estar muito longe para se envolver na batalha, mas Israel Finkelstein et al. reivindicam a explicação alternativa de que o reino do sul era simplesmente um insignificante reino rural na época em que o poema foi escrito.

            Caráter
            Conforme representado pelos Deuteronomistas e escritores pós-exílicos, a tribo de Judá era a principal tribo do Reino de Judá. Davi e a linhagem real pertenciam à tribo, e a linha continuou mesmo depois da queda do Reino de Judá e seus lideres. A crença judaica tradicional é que o Messias (judeu) será da linhagem Davídica, baseado na promessa do Senhor a Davi de um trono eterno para a sua descendência (Isaías 9:6–7, Jeremias 33:15-21, 2 Samuel 7:12–16, Salmos 89:35–37).

            De fato, muitos dos líderes e profetas Judeus da Bíblia Hebraica reivindicavam pertencer à tribo de Judá. Por exemplo, os profetas literários Isaías, Amós, Habacuque, Joel, Miqueias, Obadias, Zacarias e Sofonias, todos pertenciam à tribo. Mais tarde, durante o Exílio Babilônico, os Exilarchs (líderes comunitários oficialmente reconhecidos) reivindicaram a linhagem de Davídica, e quando o Exilio terminou, Zorobabel (o líder dos primeiros judeus a retornar à província de Yehud) também foi dito ser da linhagem Davídica, como eram Selatiel (uma figura um tanto misteriosa) e Neemias (um dos primeiros e mais proeminentes governadores de Yehud, nomeados por Aquemênida). Na época do domínio romano, todos os detentores do cargo de Nasi (príncipe) depois de Semaías, reivindicaram a linhagem davídica, através de Hilel, que segundo rumores, tinha linhagem materna de linhagem davídica.

            Em Mateus 1:1–6 e Lucas 3:31–34 do Novo Testamento, Jesus é descrito como membro da tribo de Judá por linhagem. Apocalipse 5:5 também menciona uma visão apocalíptica do Leão da tribo de Judá.

            Destino
            Como parte do reino de Judá, a tribo de Judá sobreviveu à destruição de Israel pelos Assírios e em vez disso foi submetida ao Cativeiro Babilónico; quando o cativeiro terminou, a distinção entre as tribos foi perdida em favor de uma identidade comum. Como Simeão e Benjamim tinham sido os sócios menores do Reino de Judá, foi Judá quem deu nome à identidade - a dos Judeus.

            Após a queda de Jerusalém, a Babilónia (atual Iraque) tornaria-se o foco da vida Judaica por 1000 anos. As primeiras comunidades Judaicas na Babilónia começaram com o exílio da Tribo de Judá para a Babilónia por Jeconias em 597 AC, bem como após a destruição do Templo em Jerusalém em 586 AC. Muitos outros Judeus migraram para a Babilónia em CE 135 após a revolta de Barcoquebas e nos séculos seguintes.

            As tradições da Etiópia, registadas e elaboradas numa dissertação do século XIII, o "Kebra Negast", afirmam descendência de uma comitiva de Israelitas que retornou com a Rainha de Sabá de sua visita ao Rei Salomão em Jerusalém, com quem ela concebeu o fundador da dinastia Salomônica, Menelik I. Tanto a tradição Cristã como a Judaica Etíope diz que esses imigrantes eram na maioria das Tribos de Dã e Judá; daí o lema Ge'ez Mo`a 'Anbessa Ze'imnegede Yihuda ("O Leão do Tribo de Judá conquistou "), um de muitos nomes para Jesus de Nazaré. A frase "O Leão da Tribo de Judá conquistou" também é encontrada no Livro do Apocalipse.


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