sábado, 22 de dezembro de 2018

O Testamento de José

Da castidade





            Capítulo 1
            1 Transcrição do testamento de José. Quando ele jazia no seu leito de morte, convocou seus filhos e seus irmãos. E falou-lhes: "Meus irmãos, meus filhos! Ouvi José, o bem-amado de Israel! Escutai, filhos, o vosso pai! Em minha vida, eu vi a inveja e a morte; nunca porém me afastei da Verdade do Senhor.

            2 "Estes meus irmãos me odiaram; em contrapartida o Senhor me amava. Eles tencionaram matar-me; mas o Deus do meu pai protegeu-me. Atiraram-me numa cisterna; mas o Altíssimo tirou-me de lá. Fui vendido como escravo; o Senhor porém deu-me a liberdade. Fui preso; mas amparou-me a sua mão forte. Fui castigado pela fome; mas o próprio Senhor me alimentou.

            3 "Estive só e Deus ofereceu-me consolo; estive doente e o Altíssimo visitou-me. Estive no cárcere e Deus demonstrou-me sua benevolência; fui algemado e Ele libertou-me. Fui caluniado e Ele esteve do meu lado; fui invejado pelos meus companheiros de prisão e Ele fortaleceu-me.

            Capítulo 2
            1 "Então, o cozinheiro-mor do Faraó confiou-me a sua casa. Lutei contra uma mulher despudorada, que me pressionava para pecar com ela. Mas o Deus de Israel, meu Pai, resguardou-me dos ardores do fogo. Fui lançado ao calabouço, onde bateram-me e me vilipendiaram. Mas Deus fez com que o guarda da prisão fosse benevolente para comigo.

            2 "O Senhor não abandona aqueles que O temem, seja na escuridão, seja nas algemas, seja na aflição, seja na necessidade. Deus não se peja à guisa do homem, não é hesitante como os humanos, e muito menos fraco como um nascido sobre a terra.

            3 "Em toda parte Ele está presente. Consola de muitas maneiras, mesmo quando se afasta por algum tempo, para pôr uma alma à prova. Ele provou-me em dez diferentes tentações; em todas elas fui perseverante. A perseverança é uma força admirável; igualmente a paciência produz grande beneficio.

            Capítulo 3
            1 "Quantas vezes a egípcia ameaçou-me de morte! Quantas vezes ela mandava-me chamar e infligia-me castigos e ameaças quando eu me recusava a satisfazer a sua vontade! Depois ela me dizia: `Tu serás o meu senhor, e tudo o que é meu será teu, contanto que te entregues a mim. Tu serás como nosso líder'. Eu porém pensava nas palavras do meu pai Jacó, recolhia-me ao quarto e rezava a Deus.

            2 "Durante aqueles sete anos eu praticava o jejum, e no entanto aparecia aos egípcios como se estivesse vivendo regaladamente. Pois todos os que jejuam por amor de Deus conservam uma face radiosa. Davam-me vinho para beber, eu não bebia; e por três dias dei minha comida aos pobres e aos doentes. Levantava-me cedo todas as manhãs para orar ao Senhor e deplorava a egípcia de Memphis, pois ela me assediava constantemente. A pretexto de visita, procurava-me de noite.

            3 "Assumia a princípio uma atitude maternal, tomando-me como filho, pois ela não tinha nenhum. Eu rezei ao Senhor, então ela depois deu à luz um filho. E ela abraçava-me longamente como a um filho; e eu não suspeitava das suas verdadeiras intenções. Por fim, procurou excitar-me para a luxúria.

            4 "Quando percebi isso, fiquei perturbado à morte. Quando ela se afastou, caí em mim e lamentei o ocorrido durante muitos dias; percebi o seu ardil e sua fraude. Procurei esclarecê-la sobre as palavras do Altíssimo, tentando demovê-la do seu desejo pecaminoso.

            Capítulo 4
            1 "Quantas vezes também me lisonjeava como um homem santo, astutamente louvava a minha castidade diante do marido, unicamente para conquistar-me quando estivéssemos sós. Elogiava-me muitas vezes como um homem casto, e em segredo dizia-me: 'Não tenhas receio do meu marido! Ele está convencido da tua pureza, a ponto de se alguém disser algo sobre nós ele não acreditará'.

            2 "Em decorrência disso, passei a dormir sobre o chão nu, rezando a Deus que me protegesse contra as intrigas da mulher. Vendo que nada conseguia, procurou-me uma vez mais, agora com a desculpa de ser por mim instruída e aprender a palavra de Deus. Dizia-me: 'Se queres que eu abandone os ídolos, então vem para o meu lado! Convencerei também o meu marido para que se afaste dos falsos deuses. Adotaremos então a Lei do teu Senhor'.

            3 "Respondi-lhe: "O Senhor não quer que aqueles que o temem se comportem impura-mente; igualmente o adultério não é do seu agrado, principalmente em se tratando daqueles que O invocam com um coração puro e com uma boca sem mancha'. Em vista disso, ela ficou algum tempo em silêncio Em seguida, fez exigências para que eu satisfizesse o seu desejo. Então jejuei e rezei mais ainda, para que o Senhor me livrasse dos seus laços.

            Capítulo 5
            1 "Em outra ocasião, voltou a falar-me: Se não desejas o adultério, então envenenarei o meu marido, depois casarei contigo segundo a lei'. Ao ouvir isso, rasguei as minhas vestes e exclamei: `Mulher, tem temor a Deus! Não cometas esse ato criminoso, para não caíres em completa ruína! Vou denunciar todas as tuas más intenções'.

            2 "Então ela suplicou-me, cheia de medo, para que eu não revelasse o seu plano. Com isso, ela se afastou, mas tentou conquistar-me com presentes, e mandava-me todos os regalos possíveis e imagináveis.

            Capítulo 6
            1 "Em certa oportunidade, mandou oferecer-me uma comida que continha feitiço. Quando apareceu o eunuco para fazer-me a entrega, eu vi como que em visão um homem horrível que me apresentava uma espada numa bandeja. Percebi que se tratava de um ardil visando iludir-me. Quando o eunuco se afastou, eu chorei, não toquei a comida nem as demais iguarias. No dia seguinte, ela veio procurar-me uma vez

            Capítulo 7
            1 "Digo-vos, meus filhos, que era pela hora sexta quando ela se afastou de mim. Prostrei-me de joelhos diante do Senhor durante todo o dia e depois durante toda a noite. Pela manhã, levantei-me em lágrimas e supliquei pela minha libertação daquela mulher. Finalmente, ela agarrou-me pelas vestes e procurou deitar-se comigo à força.

            2 "Ao perceber que ela se agarrava alucinadamente às minhas roupas, consegui livrar-me e fugi nu. Então ela foi caluniar-me junto ao seu marido, e este lançou-me na prisão da casa. No dia seguinte mandou açoitar-me e depois enviou-me ao cárcere do Faraó. Enquanto eu jazia na prisão, a egípcia adoeceu de aflição. Ela chegou por perto e ouviu-me louvar a Deus na escuridão do calabouço com uma voz alegre, por ter-me livrado dela e de sua louca paixão.

            Capítulo 8
            1 "Inúmeras vezes mandou emissários para dizer-me: 'Aceita satisfazer o meu desejo! Então te livrarei das tuas cadeias e tirar-te-ei da escuridão'. Mas nem em pensamento eu estava disposto a concordar. Pois Deus ama muito mais aquele que jejua em castidade, num fosso escuro, do que aquele que se refestela num aposento. Pois àquele que vive casto, no desejo de alcançar a glória, o Altíssimo, sabendo que é para o seu bem, concede-lhe, como a concedeu a mim.

            2 "Quantas vezes ela chegava até perto de mim na calada da noite, levada por sua paixão, e escutava-me rezar. Eu porém calava quando ouvia os seus suspiros. Quando eu ainda me encontrava em sua casa, ela desnudava seus braços, seu peito e suas pernas, no intuito de atrair-me. Ela era muito bonita, e enfeitava-se admiravelmente, apenas para deixar-me alucinado. Mas o Senhor protegeu-me dos seus atrativos.

            Capítulo 9
            1 "Vede, meus filhos, como são grandiosas as obras da paciência, da oração e do jejum! Se guardardes a castidade e a pureza, na perseverança, na abstinência, na prece e na humildade de coração, o Senhor habitará entre vós. Ele ama a castidade. Quando mora o Altíssimo no coração de alguém, este pode ser alvo de inveja, pode ser escravizado, pode ser caluniado; o Senhor contudo, que nele habita, livra-o de todo mal por causa da sua castidade.

            2 "O homem fica enaltecido de todas as maneiras, seja mediante uma ação, seja por uma palavra, seja em pensamentos. Os irmãos sabem como o meu pai me amava. Em meu coração, eu não me exaltava. Eu ainda era uma criança e já o temor a Deus habitava em mim. Eu sabia que tudo neste mundo é passageiro. Nunca tomei uma atitude mal-intencionada. Honrava meus irmãos. Quando fui vendido, conservei toda consideração por eles e não disse aos ismaelitas que eu era filho de Jacó, um homem grande e poderoso.

            Capítulo 10
            1 "Guardai o temor de Deus em todos os vossos atos! Honrai os vossos irmãos, pois todo aquele que observa a lei do Senhor é amado por Ele! Assim cheguei junto aos indocolpitas, acompanhando aqueles ismaelitas. Eles perguntaram-me: 'Tu és um escravo?' Respondi-lhes que eu era um escravo da casa, unicamente para não envergonhar os meus irmãos.

            2 "Então disse o mais velho deles: 'A tua aparência te contradiz; não és nenhum escravo'. Mas eu insisti que era um escravo. Chegamos ao Egito. Eles então discutiram a meu respeito, sobre quem haveria de adquirir-me por dinheiro e ficar comigo. Decidiram pois que eu ficaria sob a guarda do seu comerciante, no Egito, até voltarem da próxima vez com suas mercadorias.

            3 "O Senhor fez com que eu encontrasse graça aos olhos do negociante, e este acolheu-me em sua casa de comércio. Deus, por minhas mãos, abençoou esse homem, concedendo-lhe copiosamente ouro, prata e escravos. Permaneci com ele pelo período de três meses e cinco dias.

            Capítulo 11
            1 "Naqueles dias, apareceu a mulher de Memphis, esposa de Pentephres, num carro ricamente adornado. Os seus eunucos haviam-lhe falado de mim. Ela comunicou ao seu marido que o negociante ficou rico, por obra de um jovem hebreu: 'Dizem que foi raptado em Canaã. Faze-lhe agora justiça e assume-o em tua casa! Então o Deus dos hebreus abençoará também a ti; pois sobre ele repousa a bênção do alto'.

            Capítulo 12
            1 "E Pentephres acreditou nas palavras da mulher e ordenou ao comerciante que lhe apresentasse o rapaz. Disse-lhe: 'Ouço dizer de ti que roubas gente da terra de Canaã, para vendê-los como escravos". Então o negociante atirou-se aos seus pés, suplicando em lamentos: 'Rogo-te, senhor. Não sei do que falas'.

            2 "Perguntou Pentephres: 'De onde vem o escravo hebreu?' Respondeu-lhe: `Ele foi-me confiado pelos ismaelitas, até a sua volta'. Não acreditou no que disse e ordenou que fosse despido e açoitado. O negociante porém sustentou o que dissera. Disse então Pentephres: 'Seja trazido o jovem!' Fui levado à sua presença e diante dele inclinei-me; ele era o terceiro dignitário do Faraó.

            3 "Conduziu-me à parte, e perguntou: 'Es um escravo ou és livre?' Respondi: 'Um escravo'. Perguntou ainda: 'Escravo de quem?' Retruquei: 'Dos ismaelitas'. Disse ele: 'E como te tomaste escravo deles?' Eu disse: "Compraram-me em Canaã'. Ele falou: `Mentes', e mandou que me despissem e açoitassem.

            Capítulo 13
            1 "E a mulher memphita espiou pela porta, no momento em que eu era açoitado. Mandou então dizer ao seu marido: 'Não é justa a tua sentença. Castigas um homem livre que foi roubado, como se tivesse cometido uma transgressão'. E, a despeito das chicotadas, mantive as minhas palavras. Então ele mandou que eu fosse levado à prisão, 'até que" — assim disse — 'estivessem de volta os donos do escravo'.

            2 "Disse-lhe então a sua mulher: 'Por que manténs na cadeia esse jovem nobre? Ele deveria ser libertado e ser servido'. Ela de fato queria olhar-me com desejos pecaminosos. Mas disso eu nada sabia. Respondeu-lhe ele: 'No Egito não é permitido subtrair algo de alguém, antes da apresentação das provas'. Disse isso em relação ao comerciante e a mim; e assim tive de permanecer na cadeia.

            Capítulo 14
            1 "Depois disso, passados vinte e quatro dias, estavam de volta os ismaelitas. Eles ouviram na terra de Canaã que o meu pais andava em grande tristeza, por minha causa. Disseram-me então: `Por que nos falaste que eras um escravo? Temos agora conhecimento que tu és o rebento de um homem poderoso de Canaã. Teu pai está sofrendo por ti, vestido de saco e coberto de cinzas'. Então senti vontade de chorar amargamente, mas contive-me, para não atrair a vergonha sobre os meus irmãos. E disse: 'De nada sei; sou um escravo'.

            2 "E assim decidiram vender-me, para que eu não fosse encontrado em suas mãos. Tinham medo do meu pai, porque poderia infringir-lhes pesada vingança. Ouviram dizer que ele era um homem de grande favor diante de Deus e diante dos homens. Disse-lhes então o comerciante: 'Livrai-me da sentença de Pentephres!' Assim eles vieram ter comigo, dizendo-me: `Afirmam que foste vendido a nós por dinheiro! Nesse caso, ele nos livrará'.

            Capítulo 15
            1 "Então disse a mulher memphita ao seu marido: 'Compra este jovem! Ouço dizer' — disse ela — 'que desejam vendê-lo'. E imediatamente ela enviou para junto dos ismaelitas um dos castrados, com o pedido de comprar-me. Todavia, o eunuco não aceitou o preço deles. Assim, após o contato, voltou para junto da sua ama e disse-lhe que eles pediam um preço muito alto pelo seu escravo.

            2 "Ela então enviou um segundo eunuco, recomendando-lhe: 'Peçam eles até dois mines de ouro, dá-lhes! Não poupes o ouro! Compra de qualquer maneira o escravo! E traze-o para cá!' Ele então pagou-lhes oitenta peças de ouro por mim, mas disse à mulher egípcia que haviam cobrado cem para a minha venda. Eu porém, embora sabendo, guardei silêncio para que o eunuco não caísse no opróbrio.

            Capítulo 16
            1 "Vede, filhos, como suportei coisas graves! Eu só desejava livrar os meus irmãos do vexame. Portanto, amai-vos uns aos outros! E perdoai-vos mutuamente, com benevolência, as vossas faltas! Deus se alegra com a união fraterna e com os corações que se querem bem. Quando meus irmãos voltaram pela segunda vez ao Egito, puderam constatar que eu lhes devolvi o seu dinheiro. Não lhes fiz qualquer censura, pedindo-lhes que ficassem completa-mente à vontade.

            2 "Após a morte de Jacó, amei-os mais ainda e cumpri com exatidão todas as suas obrigações. Não levei a mal de forma alguma a sua fraqueza e coloquei à sua disposição todos os meus bens. Seus filhos passaram a ser meus filhos; meus filhos passaram a ser seus escravos. Sua vida, a minha vida; sua dor, a minha dor; sua fraqueza, minha debilidade. Minha terra era sua terra; o meu alvitre, o seu. Não me exaltei, com orgulho, na minha posição. Eu era, entre eles, um dos últimos.

            Capítulo 17
            1 "Dessa forma, meus filhos, observai os Mandamentos do Senhor! Assim Ele vos exaltará e vos abençoará perpetuamente com os seus dons. Se alguém dentre vós praticar o mal, orai por ele! Assim o livrareis de todo mal diante do Senhor.

            2 "Como sabeis, pela minha humildade e perseverança, recebi por esposa a própria filha de um sacerdote de Heliópolis. E com ela foram-me dados cem talentos de ouro; o Senhor fez com que ela me servisse. Ele concedeu-me uma beleza esplêndida, superior à dos demais jovens de Israel. Conservou-me na beleza e na força até a idade avançada; em tudo eu me parecia com Jacó.

            Capítulo 18
            1 "Escutai, meus filhos, o que eu vi em sonho! Doze cervos pastavam. Depois nove deles se separaram e dispersaram-se pela terra; os outros três também se dispersaram. Eu vi como os três cervos se converteram em cordeiros. Eles gritavam ao Senhor. Então Ele os conduziu a um lugar verdejante e rico de águas; levou-os das trevas para a luz. Continuavam a gritar ao Senhor, até que Este juntou-os de novo com os nove cervos. E eram como doze ovelhas. Multiplicaram-se rapidamente e em pouco tomaram-se muitos rebanhos.

            2 "Então eu vi doze touros mamando numa vaca; e esta dava um mar de leite. Nela sugavam doze rebanhos, multidões sem número. Os chifres do quarto touro cresceram até ao céu e tomaram-se como um muro para os rebanhos; outro chifre nasceu-lhe no meio dos dois outros.

            3 "Eu vi um bezerro dando doze vezes a volta ao redor do muro; ele vinha em socorro de todos os touros. Eu vi no chifre do meio uma Virgem; ela vestia uma roupa esplêndida; dela procedia um cordeiro. A sua direita havia algo parecido com um leão. E todos os animais selvagens e as serpentes atacavam. O Cordeiro venceu-os e aniquilou-os. Com isso alegraram-se os touros e a vaca.

            4 "Tudo isso acontecerá no vosso tempo. Portanto, meus filhos, honrai Levi e Judá! Deles procederá a salvação de Israel. Minha realeza desmoronará convosco, como uma cabana na vinha, que após a safra é desfeita.

            Capítulo 19
            1 "Eu sei, depois da minha morte os egípcios vos perseguirão. Mas Deus vos vingará e conduzir-vos-á à Terra Prometida dos vossos Pais. Levai então o meu corpo convosco! Uma vez transportado lá para cima, o Senhor estará convosco na luz, e Belial nas trevas, juntamente com os egípcios. Transportai para lá também a vossa mãe Zelpa e depositai-a ao lado de Balla, nas proximidades de Rachel, junto ao caminho!"

            2 Após essas palavras, estendeu suas pernas e morreu, em idade avançada. Israel em peso pranteou-o e todo o Egito guardou grande luto. E quando os filhos de Israel (Jacó) saíram do Egito, levaram consigo os restos de José e enterraram-nos no Hebron com os seus Pais, e os anos de sua vida foram cento e dez.

            José (em hebraico יוֹסֵף, significando "Yahweh acrescenta"; Yôsēp em hebraico tiberiano; mais tarde designado como צפנת פענח, Tzáfnat panéach, em hebraico padrão ou Ṣāp̄ənaṯ paʿănēªḥ em hebraico tiberiano, do egípcio que significaria "Descobridor das coisas ocultas") foi o décimo primeiro filho de Jacó, nascido de Raquel, citado no Antigo Testamento, em Gênesis 37:, considerado o fundador da tribo de José, constituída, por sua vez, da tribo de Efraim e da tribo de Manassés (seus filhos). Quando foi coroado como um homem de confiança ao Faraó, foi-lhe concedida a mão de Azenate, filha de Potífera, sacerdote de Om.

            História
            Filho preferido de Jacó, apesar de não ser o seu primogênito (mas o primeiro filho de Raquel, a mulher que mais amava), José nunca escondeu a sua liderança. O favoritismo, de que era alvo por parte do pai, valeu-lhe a malquerença dos irmãos, que o venderam, ainda jovem, com apenas 17 para 18 anos, por 20 moedas (sheqel) de prata, como escravo a mercadores ismaelitas, que o levaram ao Egito do período da XVII dinastia.

            Já no Egito, foi comprado por Potifar (oficial e capitão da guarda do rei do Egipto), de quem conquistou a confiança e tornou-se o diligente dos criados e administrador da casa. Na casa de Potifar, acabou estudando com um escriba e aprendeu a língua egípcia. Foi preso após acusação injusta de tentativa de abuso da mulher do seu amo, depois de uma tentativa frustrada de sedução por parte desta.

            Na prisão
            Na prisão, tornou-se conhecido como intérprete dos sonhos. Lá, ele decifrou o sonho do copeiro-chefe e padeiro-chefe do palácio do Faraó, que foram presos acusados de conspiração. Segundo a interpretação de José, o sonho do padeiro-chefe indicava que este seria enforcado, mas o do copeiro-chefe indicava que este seria salvo, o que de fato aconteceu.

            José é constituído sobre todo o Egito
            Dois anos mais passaria José na prisão, até que o Faraó pediu para que interpretasse um sonho que tivera, aconselhado pelo copeiro-mor. Em parte do sonho, Faraó via subir do Nilo sete vacas gordas e em seguida outras sete vacas magras, que devoravam as sete vacas gordas. José interpretou o sonho do Faraó como sendo uma previsão de que viriam sobre o Egito sete anos de abundância, seguidos por mais sete de seca e fome. O Faraó, satisfeito com a interpretação dada ao seu sonho, dá a José um anel de seu dedo, o faz vestir vestes de linho fino, põe um colar de ouro no seu pescoço e o constitui sobre toda a terra do Egito. José tinha então a idade de trinta anos. O Faraó deu-lhe ainda Azenate por mulher.

            José, então, ordena que se construam celeiros para guardar a produção do Egito durante os anos de fartura. Em verdade, também, nos anos em que passou na prisão, havia se inteirado da situação política do Egito e sabia também que nos anos de seca que viriam, como se mostrou nos sonhos do Faraó, apenas o Baixo Egito teria mantimentos que tinham sido armazenados. E assim aconteceu. Nos sete anos de seca que vieram depois, havia fome em todas as terras, menos nas terras do Faraó. Todo o Egito clamava a Faraó por alimento e este mandava que fossem a José e este abriu todos os celeiros e vendia os mantimentos aos egípcios.

            José reencontra-se também com os seus irmãos, que vieram em busca de alimento e que, ao serem reconhecidos pelo irmão poderoso, tiveram medo de serem castigados pelo que tinham feito a ele, porém José os perdoou, chorando junto com eles.

            José enviou seus irmãos de volta a seu pai, com um recado: para que todos descessem ao Egito, sem demora, para habitar a Terra de Gósen e assim ficar perto dele. Pediu que viessem os filhos, netos, rebanhos e tudo quanto tivessem. José os sustentaria, pois ainda restavam cinco anos de fome.

            Quando Jacó (Israel) chegou ao Egito, José subiu ao seu encontro, abraçando-o e chorando demoradamente.

            Todos os onze irmãos a quem José ajudou, além de seu pai e todos os demais parentes (sendo ao todo sessenta e seis pessoas), foram: Zebulom, Issacar, Rúben, Naftali, Benjamim, Dã, Simeão, Levi, Judá, Gade e Aser.

            É assim que o povo israelita se instala no Egito, antes de ser escravizado e, mais tarde, libertado sob a liderança de Moisés.

            O fim do governo
            É possível que durante os anos de seca os sacerdotes tenham conseguido despertar a ira popular contra José e Apopi I, o faraó hicso, pois é durante esses anos que acontecem vários conflitos civis contra os governantes que terminaram com a vitória do faraó Taá II e seu exército, que tomaram primeiro Mênfis e depois a então capital Tânis. Vendo-se sem condições de vencer, Apopi e seus vassalos refugiam-se em Aváris, a cidade fortaleza construída pelos hicsos. Os hicsos acabaram finalmente vencidos, depois de aproximadamente 500 anos sobre as terras do Egito, por Amósis filho de Taá, na XVIII dinastia. É muito provável que José tenha morrido durante esses combates contra Taá II ou em um dos conflitos civis.

            Mesmo com a ascensão demorada de José, que era cárcere e, depois de Deus o usar como intérprete para os sonhos do Faraó Apopi I, se tornar o 2º na terra do Egito, nunca foi vista uma mudança de ego em José. Após o encontro com sua família, José arranjou a melhor terra no Egito para que sua família morasse. José viveu muitos anos no Egito até sua morte com 110 anos, mas nunca se esqueceu da aliança de Deus para o povo de Israel. Essa aliança foi a de que a terra de Canaã, onde morava seu pai Jacó, seria dada à Abraão e seus descendentes. Antes de sua morte, José pediu para que fosse enterrado na Terra de Canaã, pois era a Terra que Deus tinha dado a Abraão e seus descendentes por herança. O povo de Israel somente saiu da escravidão do Egito após 215 anos a contar da descida de Jacó ao Egito para encontrar-se com José, sendo libertados por Moisés.

            Na cultura popular
            A figura de José inspirou vários autores e artistas ao longo da história, devido à riqueza narrativa do relato que é, sem dúvida, uma das mais populares gestas bíblicas. Thomas Mann recontou a história em "Joseph und seine Brüder" (José e seus irmãos) e Andrew Lloyd Webber, com "José e o deslumbrante manto de mil cores", passou a história para um musical de sucesso. Um filme estadunidense, intitulado "Joseph: King of Dreams" foi lançado em 2000, pela Dreamworks.

            A história foi recontada entre Janeiro e Outubro de 2013 pela TV Record no seriado brasileiro de 38 episódios, José do Egito. A série televisiva foi um sucesso de audiência.

            José do Egito e a Jornada do Herói
            O primeiro livro da Bíblia, Gênesis, narra do capítulo 37 ao 50, a vida de José, também conhecido como José do Egito. A história de José é uma das mais conhecidas narrativas bíblicas e faz parte da civilização judaico-cristã. É possível encontrar na trajetória de José várias das funções básicas da narrativa enunciadas por Vladimir Propp.

            Apresentação e início da jornada
            Afastamento: vítima do ciúme e do ódio de seus irmãos por ser o filho predileto de Jacó, José é vendido aos ismaelitas para ser escravo no Egito, onde ele se torna mordomo na casa de Potifar.
            "Nó da Intriga"
            Fraude: atraída por José, a mulher de Potifar, Sati, tenta seduzi-lo. José resistiu e na graça de Deus deixou a mulher insatisfeita. (A mulher como tentação é um dos estágios da jornada do herói segundo Joseph Campbell.)
            Dano: em uma ocasião, irritada com a rejeição do servo e em posse de suas vestes, Sati acusa José de ter tentado violentá-la e mostra as roupas dele como prova. Potifar acredita nas falsas acusações da esposa e o "lança no cárcere" (Gn. 39: 20). Na prisão, José interpreta os sonhos de

            Designação da prova e vitória do herói
            Designação da prova: enquanto José estava na prisão, o Faraó se vê atormentado por sonhos que nenhum sábio do Egito é capaz de interpretar. Nos sonhos do rei, sete vacas magras devoravam sete vacas gordas e sete espigas de milho secas e mirradas devoravam sete espigas de milho cheias. O copeiro-chefe, já restituído de suas funções, conta ao Faraó sobre um hebreu com quem ele conviveu na prisão que é capaz de interpretar sonhos. O Faraó pede que tragam José à sua presença.

            Recebimento do adjuvante: sob inspiração divina, José interpreta os sonhos do Faraó, afirmando que as sete vacas gordas e as sete espigas de milho cheias simbolizavam sete anos de fartura no Egito, e as sete vacas magras e as sete espigas secas e mirradas simbolizavam sete anos de fome. A "inspiração divina" pode ser entendida como o artefato "mágico" que ajuda o herói a cumprir sua prova: o adjuvante.

            Estigma: impressionado com a sabedoria do hebreu, o Faraó dá um anel a José (símbolo da heroicidade) e o nomeia governador (ou Adon) do Egito.
Vitória do herói: José assume o posto como o mais poderoso homem do Egito, submisso apenas à autoridade do Faraó. O herói simboliza o pacto feito entre o hebreu e o Soberano do Egito. E ainda consegue perdoar os irmãos e trazer o seu povo para o país que adotou como casa.

            Tribo de José
            A tribo de José foi uma das tribos de Israel, embora desde Efraim e Manassés juntos tradicionalmente constituíssem a tribo de José, que era muitas vezes não listada como uma das tribos, em favor de Efraim e Manassés a listada em seu lugar. Consequentemente, foi muitas vezes chamado de "Casa de José", para evitar o uso do termo tribo. De acordo com o Targum Pseudo-Jonatha, o estandarte da tribo de José, e a tribo de Benjamim, foi a figura de um menino, com a inscrição: a nuvem do Senhor repousava sobre eles, até que saíram do campo ( uma referência para eventos em Êxodo ). Havia óbvias diferenças linguísticas entre pelo menos uma porção de José e as outras tribos israelitas, já que no momento em que Efraim estavam em guerra com os israelitas da Gileade, sob a liderança de Jefté, a pronúncia de shibboleth como sibboleth foi considerado evidência suficiente para destacar indivíduos de Efraim, para que pudessem ser submetido a morte imediata pelos israelitas da Gileade.

            No seu auge, o território de José atravessou o rio Jordão, a porção oriental sendo quase inteiramente adjacentes a partir da porção ocidental, a nordeste da porção oeste e sul ao oeste da porção oriental. A porção ocidental foi no centro de Canaã, a oeste do Jordão, entre a tribo de Issacar, ao norte, e a tribo de Benjamim, ao sul, a região que mais tarde foi chamado Samaria (para distinguir da Judeia ou Galileia ) consistia principalmente de a porção ocidental do José. A porção oriental de José foi o grupo israelita ao norte, a leste do Jordão, ocupando o norte terra do tribo de Gade, que se estende do Maanaim, no sul do Monte Hermon, no norte, e incluindo nele a toda a Basã. Esses territórios eram abundantes em água, um bem precioso em Canaã, e as porções montanhosas não só proteção, mas passou a ser altamente férteis; primeiros centros de religião israelita - Siquém e Shiloh - foram adicionalmente situado na região. O território de José foi, assim, uma das peças mais valiosas do país, e da Casa de José se tornou o grupo mais dominante no Reino de Israel.

            Origem
            De acordo com a Torá, a tribo composta por descendentes de José, filho de Jacó e Raquel , de quem teve o seu nome; no entanto, alguns estudiosos da Bíblia visualizam isto como "postdiction", uma metáfora homônima fornecendo uma etiologia da conexão da tribo para os outros na confederação israelita. Na narração bíblica, José foi o irmão de Benjamin, o outro filho de Raquel e Jacó, e do epônimo da tribo de Benjamin, que foi localizado no sul da tribo de José, o nascimento de Benjamin não aparece na passagem em que os nascimentos dos outros filhos de Jacó ocorrem, mas aparece em outros lugares, com Benjamin nascendo apenas uma vez Jacó voltou para Canaã. De acordo com vários estudiosos da Bíblia, Benjamin era originalmente parte da casa de José, mas o relato bíblico deste tornou-se perdido; a conta do nascimento dos outros filhos de Jacó é considerado por estudiosos textual como um complexo mistura de textos eloísta e javista, e muito corrupta, e é claro que partes do texto eloísta correspondente, e partes do texto javista correspondente, estão faltando. A explicação etiológica de Benjamin nasceu em Canaã é simplesmente que a tribo de Benjamin rompeu a partir do grupo José, uma vez que haviam se estabelecido em Canaã, unindo o Reino de Judá, em vez do que a de Israel.

            Embora as descrições bíblicas da fronteira geográfica da Casa de José são bastante consistentes, as descrições dos limites entre Manassés e Efraim não são, e cada um é retratado como tendo enclaves dentro do território do outro. Além disso, na bênção de Jacó, e em outros lugares atribuídos por estudiosos textuais para um período de tempo similar ou anterior, uma única tribo de José aparece onde passagens escritas mais tarde estão as tribos separadas de Efraim e Manassés. A partir disso, é considerado por estudiosos como óbvio que José foi inicialmente considerado uma única tribo, e somente dividida em Efraim e Manassés mais tarde.

            Uma série de estudiosos bíblicos suspeitam que a tribo de José (incluindo Benjamin) representam uma segunda migração dos israelitas para Israel, depois que as tribos principais, especificamente, que eram apenas a tribos José, que foi para o Egito e voltou, enquanto as principais tribos israelitas simplesmente surgiram como uma subcultura dos cananeus e permaneceram em Canaã; na narrativa no livro de Josué, que diz respeito à chegada (e conquista de) Canaã pelos israelitas do Egito, o líder é Josué, que era um membro da tribo de Efraim. De acordo com essa visão, a história da visita de Jacó para Labão para obter uma esposa começou como uma metáfora para a segunda migração, com nova família de Jacó, posses, e gado, obtido a partir de Labão, sendo representações da nova onda de migrantes; é notável que, de acordo com estudiosos textuais, na Jahwist versão da história é somente as tribos de José, que estão entre esses imigrantes, uma vez que apenas relata Jacó como tendo conhecido Raquel, e as matriarcas das outras tribos de Israel - Leia , Bila e Zilpa - não aparecem.