domingo, 7 de julho de 2019

O Evangelho de Maria Madalena II


            (O papiro cóptico - linguagem tradicional egípcia - do qual as primeiras seis páginas se perderam, começa no meio dos evangelhos)

            "...então, a questão será salva ou não?"
            O Salvador disse, "Todas as naturezas, todas as coisas formadas, todas as criaturas existem dentro e com um outro e será solucionado novamente em suas próprias raízes, porque a natureza do assunto será dissolvida apenas nas raízes de sua natureza. Aquele que tem ouvidos para ouvir, ouça." [cf. Mt. 11.15, etc.].

            Pedro lhe disse, "Desde que tu nos explicaste todas as coisas, conte-nos isto: qual é o pecado do mundo? "[cf. Jo 1.29]. O Salvador disse, "o pecado como tal não existe, mas tu cometes pecado quando fazes o que é da natureza de fornicação, que é chamada 'pecado.' Por esta razão o Bem entrou em seu meio, para a essência de cada natureza, para restabelecê-lo à sua raiz." Ele continuou a dizer, "por isto tu entras na existência e morre [...] todo o que sabe pode saber [...] um sofrimento que não tem semelhante, que surgiu do que é contrário à natureza. Então surge uma perturbação no corpo inteiro. Por isto eu vos disse, tendes bom ânimo [cf. Mt. 28.9], e se estiveres desanimado, ainda tenha coragem contra as várias formas da natureza. Aquele que tem ouvidos para ouvir, ouça." Quando o Santificado disse isto, ele cumprimentou todos eles, dizendo "a Paz esteja convosco [cf. Jo 14.271. Recebei minha paz. Prestai atenção para que ninguém vos desvie com as palavras, 'ei-lo, aqui! ' ou 'ei-lo, lá! ' [cf. Mt 24.5, 23; Lc 17.21] porque o Filho do Homem está dentro de ti [cf. Lc 17.21]. Siga-o;  aqueles que o buscam o acharão [cf. Mt 7.7]. Então, vá e pregue o Evangelho do Reino [cf. Mt 4.23; 9.15; Mc 16.15]. Eu não deixei nenhuma ordem senão o que eu lhe ordenei, e eu não vos dei nenhuma lei, como fez o legislador, para que não sejas limitada por ela."

            Eles afligiram e lamentaram grandemente, dizendo, "Como nós iremos aos Gentios e pregaremos o Evangelho do Reino do Filho do Homem? Se nem sequer ele foi poupado, como seremos nós?"

            Então Maria se levantou e cumprimentou a todos eles e disse aos seus irmãos, "não lamentem ou se aflijam ou sejam irresolutos, porque sua graça estará com todos vós e os defenderá. Louvemos sua grandeza, porque ele nos preparou e nos fez em homens."

            Quando Maria disse isto, os seus corações mudaram para melhor, e eles começaram a discutir as palavras do [Salvador].

            Pedro disse à Maria, "Irmã, nós sabemos que o Salvador a amou mais que a outras mulheres [cf. Jo 11.5, Lc 10.38-42]. Conte-nos as palavras do Salvador que tens em mente visto que as conhece; e nós não, nem ouvimos falar delas." Maria respondeu e disse, "o que está oculto de vós dividirei convosco." E ela começou a dizer as seguintes palavras. "Eu", ela disse, "vi o Senhor em uma visão e eu lhe disse, `Senhor, eu o vi hoje em uma visão.' Ele respondeu e me disse, `Bendita sois vós, visto que não oscilas-te ao me ver. Pois onde a mente está, existe seu semblante' [cf. Mt 6.21]. Eu lhe disse, 'Senhor, a mente que vê a visão, a vê através da alma ou do espírito?' O Salvador respondeu e disse, 'nem vê pela alma nem pelo espírito, mas a mente que está entre os dois, que vê a visão e é... '" "... e o Desejo disse, 'eu não o vi descer; mas agora eu o vejo subindo. Porque falas falsamente, quando tu pertences a mim?' A alma respondeu e disse, 'eu o vi, mas tu não me viste ou me reconheceste; eu o servi como uma roupa e tu não me reconheceste.' Depois que disse isto, foi alegre e contentemente embora. Novamente veio ao terceiro poder, a Ignorância. Este poder questionou a alma: 'para onde vais? Tu estavas limitado na impiedade, tu eras realmente limitado. Não julguei' [cf. Mt 7.1]. E a alma disse, `Por que me julgas, quando eu não julguei? Eu estava limitado, entretanto eu não me importei. Eu não fui reconhecido, mas eu admiti que todos se libertarão, coisas terrestres e divinas.' depois que a alma deixou para trás o terceiro poder, subiu para o alto, e viu o quarto poder, que tinha sete formas. A primeira forma é a escuridão, a segunda o desejo, a terceira a ignorância, o quarto o despertar da morte, o quinto é o reino da carne, o sexto é a sabedoria da loucura da carne, o sétimo é sabedoria colérica. Estes são os sete participantes em ira. Eles perguntam à alma, `De onde vens, assassina de homens, ou onde vais, conquistador do espaço? 'A alma respondeu e disse, 'o que me agarra é morto; o que se volta para mim é superado; meu desejo se acabou e a ignorância está morta. Em um mundo eu fui salva de um mundo, e em um "tipo", de um "tipo" mais alto e da corrente da impotência de conhecimento, a existência do que é temporal. Desde agora eu alcançarei descanso no tempo do momento do Eon no silêncio.' "

            Quando Maria disse isto, ela ficou em silêncio, visto que o Salvador tinha falado assim com ela. Mas André respondeu e disse aos irmãos, 'Diga o que pensas com relação ao que ela disse. Porque eu não acredito que o Salvador disse isto. Porque certamente estes ensinos são de outro tipo."

            Pedro também se opôs a ela com respeito a estes assuntos e lhes perguntou pelo Salvador. "Então falou secretamente com uma mulher [cf. Jo 4.27], de preferência a nós, e não abertamente? Nós voltamos e todos a escutaram? Ele a preferiu a nós? "Então Maria afligiu-se e disse a Pedro, "Meu irmão Pedro, o que pensas? pensas que eu pensei isto por mim mesmo em meu coração ou que eu estou mentindo com relação ao Salvador?"

            Levi respondeu e disse a Pedro, "Pedro, tu és sempre irascível. Agora vejo que disputas contra a mulher como a adversários. Mas se o Salvador a fez merecedora, quem és tu para a rejeitar? Seguramente o Salvador a conheceu muito bem [cf. Lc 10.38-42]. Por isso ele a amou mais que nós [cf. Jo 11.5]. E nós deveríamos estar bastante envergonhados e deveríamos nos revestir do Homem Perfeito, para nos formar [?] como ele nos ordenou, e proclamar o evangelho, sem publicar uma ordem ou uma lei adicional além daquela que o Salvador falou. Quando Levi disse isto, eles começaram a sair para proclamá-lo e pregá-lo.

            Maria Madalena (em grego: Μαρία ἡ Μαγδαληνή) é descrita no Novo Testamento como uma das discípulas mais dedicadas de Jesus Cristo. É considerada santa pelas diversas denominações cristãs e sua festa é celebrada no dia 22 de julho.

            A Igreja Católica, seguindo São Gregório Magno, além de a identificar como a "pecadora" de Lucas 8:2, algo que a moderna exegese desmente, também a identifica como sendo a mesma Maria de Betânia, irmã de Lázaro, e celebra as "Três Marias" em uma única festa. A Igreja Ortodoxa, ao contrário, seguindo Orígenes, distingue as três figuras, celebrando três festas diferentes, nomeadamente no segundo domingo após a Páscoa.

            "Madalena" não era o seu sobrenome, como popularmente se acredita. No seu tempo de vida o conceito de "sobrenome" não existia entre o povo judeu. O nome Madalena na realidade é um adjetivo que a descreve como sendo natural de Magdala, cidade localizada na costa ocidental do Mar da Galileia.

            Maria Madalena no Novo Testamento
            Ela acreditava que Jesus Cristo realmente era o Messias. (Lucas 8:2; Lucas 11:26; Marcos 16:9). Esteve presente na crucificação e no funeral de Cristo, juntamente com Maria de Nazaré e outras mulheres. (Mateus 27:56; Marcos 15:40; Lucas 23:49; João 19:25). Após o por do sol do dia sagrado judaico, o sábado, quando este findava, segundo o costume bíblico, ela comprou certos perfumes a fim de preparar o corpo de Cristo da forma como era de costume. Permanecera na cidade durante todo o sábado, e no dia seguinte, de manhã muito cedo, "quando ainda estava escuro" foi ao sepulcro. Maria estava da parte de fora, a chorar, debruçou-se para dentro do túmulo e viu dois anjos vestidos de branco sentados onde tinha estado o corpo de Jesus, um á cabeceira e outro aos pés. Perguntaram-lhe "Mulher por que choras?" E ela respondeu "porque levaram o meu Senhor e não sei onde O puseram", dito isto, voltou-se para trás e viu Jesus de pé, mas não O reconheceu. E Jesus disse-lhe: " Mulher, porque choras? Quem procuras? Ela pensando que era o encarregado do Horto disse-Lhe: Senhor se foste tu que O tiraste, diz-me onde O puseste, que eu vou busca-l'O. Disse-Lhe Jesus: "Maria!" Ela aproximando-se exclamou em hebraico: " Rabbuni!"- que quer dizer Mestre! Jesus disse-lhe; "Não me detenhas, pois ainda não subi para o Pai; mas vais ter com os meus irmãos e diz-lhes: "Subo para O meu Pai que é vosso Pai, para O meu Deus que é vosso Deus" :Maria Madalena foi e anunciou aos discípulos: "Vi o Senhor!" E contou o que Ele lhe tinha dito. (João 20:18; Mateus 28:1-10; Marcos 16:1-11; Lucas 24:1-10; João 20:1-2). Nada mais se sabe sobre ela a partir da leitura dos evangelhos canónicos.

            Em Lucas 8:2, faz-se menção, pela primeira vez, de "Maria, chamada Madalena, da qual saíram sete demônios". Não há qualquer fundamento bíblico para considerá-la como a prostituta arrependida dos pecados que pediu perdão a Cristo; também não há nenhuma menção de que tenha sido prostituta. Este episódio é frequentemente identificado com o relato de "Maria aos pés de Jesus" em Lucas, ainda que não seja referido o nome da mulher em causa.

            No livro Aos Pés de Jesus (2000), o escritor adventista Doug Batchelor levanta a hipótese de que Maria Madalena, Maria de Betânia (irmã de Marta e Lázaro), a pecadora de Lucas 7 e a adúltera de João 8 tenham todas sido a mesma pessoa.

            Teorias
            Alguns escritores e estudiosos contemporâneos, principalmente Margaret George, Henry Lincoln, Michael Baigent e Richard Leigh, autores do livro O Santo Graal e a Linhagem Sagrada (1982), e Dan Brown autor do romance O Código da Vinci (2003), narram Maria Madalena como uma apóstola, mulher de Cristo que teve com ele, inclusive, filhos. Nessas narrações, tais fatos teriam sido escondidos por revisionistas cristãos que teriam alterado os Evangelhos.

            Estes escritores teriam baseado suas afirmações nos Evangelhos Canônicos e nos livros apócrifos do Novo Testamento, além dos escritos gnósticos. Segundo os evangelhos aceitos pela Igreja Católica, Jesus Cristo, o "filho de Deus", não veio à Terra para se casar e muito menos ter filhos. Portanto, para os preceitos desta Igreja, Maria Madalena não foi e nem poderia ter sido a esposa de Jesus Cristo.