domingo, 22 de dezembro de 2019

Evangelho de Bartolomeu



            Jerônimo e Epifânio citam o Evangelho de Bartolomeu, onde se registra a conversa de Bartolomeu e Cristo com Belial, começando após a Ressurreição. Adão, o Diabo, o Inferno, Enoch e Elias são mencionados ao longo da narrativa, além de Maria comentar com os apóstolos detalhes da Concepção. Bastante significativo também é o trecho onde Belial comenta sua Queda.


            Capítulo 1
            DEPOIS QUE Nosso Senhor Jesus Cristo ressuscitou de entre os mortos, acercou-se dele Bartolomeu e abordou-o desta maneira: "Desvela-nos, Senhor, os mistérios dos céus."
            Jesus respondeu-lhe: "Se não me despojar deste corpo carnal não os poderei desvelar."
            Bartolomeu, pois, acercando-se do Senhor, disse-lhe: 'Tenho algo a dizer-lhe, Senhor."
            Jesus, por sua vez, respondeu: "Já sei o que me vais dizer. Dize-me, pois, o que quiseres. Pergunta e eu te darei a razão."
            Bartolomeu, então, falou: "Quando ias no caminho da cruz, eu te seguia de longe. E te vi a ti, dependurado no lenho, e aos anjos que, descendo dos céus, te adoraram. Ao sobrevirem as trevas...
            ...eu estava a tudo contemplando. E vi como desapareceste da cruz e só pude ouvir os lamentos e o ranger de dentes que se produziram subitamente das entranhas da terra. Dize-me, Senhor, aonde foste depois da cruz."
            Jesus, então, respondeu desta forma: "Feliz de ti, Bartolomeu, meu amado, porque te foi dado contemplar este mistério. Agora podes perguntar-me qualquer coisa que a ti ocorra, porque tudo dar-te-ei eu a conhecer.
            "Quando desapareci da cruz, desci aos Infernos para dali tirar Adão e a todos que com ele se encontravam, cedendo às súplicas do arcanjo Gabriel."
            Então disse Bartolomeu: "E o que significava aquela voz que se ouviu?"
            Responde-lhe Jesus: "Era a voz do Tártaro que dizia a Belial: 'A meu modo de ver, Deus se fez presente aqui'.
            "Quando desci, pois, com meus anjos ao Inferno para romper os ferrolhos e as portas de bronze, dizia ele ao Diabo: `Parece-me que é como se Deus tivesse vindo à terra'. E os anjos dirigiram seus clamores às potestades dizendo: `Levantai, ó príncipes, as portas e fazei correr as cortinas eternas, porque o Rei da Glória vai descer à terra'. E o Inferno disse: 'Quem é esse Rei da Glória que vem do céu a nós?'
            "Mas quando já havia descido quinhentos passos, o Inferno encheu-se de turbação e disse: 'Parece-me que é Deus que baixa à terra, pois ouço a voz do Altíssimo e não o posso agüentar.'
            "E o Diabo respondeu: 'Não percas o ânimo, Inferno; recobra teu vigor, que Deus não desce à terra.'
            "Quando voltei a baixar outros quinhentos passos, os anjos e potestades exclamaram: 'Alçai as portas ao vosso Rei e elevai as cortinas eternas, pois eis que está para entrar o Rei da Glória'. Disse de novo o Inferno: 'Ai de mim! Já sinto o sopro de Deus.'
            "E disse o Diabo ao Inferno: 'Para que me assustas, Inferno? Se somente é um profeta que tem algo semelhante a Deus... Apanhemo-lo e levemo-lo à presença desses que crêem que está subindo ao céu.'
            "Mas replicou o Inferno: 'E quem é entre os profetas? Informa-me. E, por acaso, Enoque, o escritor muito verdadeiro? Mas Deus não lhe permite baixar à terra antes de seis mil anos. Acaso te referes a Elias, o vingador? Mas este não poderá descer até o final do mundo. Que farei? Para nossa perdição, é chegado o fim de tudo, pois aqui tenho escrito em minha mão o número dos anos.'
            "Belial disse ao Tártaro: 'Não te perturbes. Assegura bem teus poderes e reforça os ferrolhos. Acredita-me: Deus não baixa à terra.'
            "Responde o Inferno: 'Não posso ouvir tuas belas palavras. Sinto que se me arrebenta o ventre e minhas entranhas enchem-se de aflição. Outra coisa não pode ser: Deus apresentou-se aqui. Ai de mim! Aonde irei esconder-me de seu rosto, da força do grande Rei? Deixa-me que me esconda em tuas entranhas, pois fui criado antes de ti.'
            "Naquele preciso momento, entrei. Eu o flagelei e o atei com correntes que não se rompem, Depois fiz sair a todos os Patriarcas e voltei novamente para a cruz."
            "Dize-me, Senhor, disse-lhe Bartolomeu, quem era aquele homem de talhe gigantesco a quem os anjos levavam em suas mãos?"
            Jesus respondeu: "Aquele era Adão, o primeiro homem que foi criado, a quem fiz descer do céu à terra. E eu lhe disse: `Por ti e por teus descendentes fui pregado na cruz.' Ele, ao ouvir isso, deu um suspiro e disse: 'As. sim, rendo-me a ti, Senhor'."
            De novo disse Bartolomeu: "Vi também os anjos que subiam diante de Adão e que entoavam hinos.
            "Mas um destes, o mais esbelto de todos, não queria subir. Tinha em suas mãos uma espada de fogo e fazia sinais somente a ti.
            "E os demais rogavam que ele subisse ao céu, mas ele não queria. Quando, porém, tu o mandaste subir, vi uma chama que saía de suas mãos e que chegava à cidade de Jerusalém."
            E disse Jesus: "Era um dos anjos encarregados de vingar o trono de Deus. E estava suplicando a mim. A chama que viste sair de suas mãos feriu o edifício da sinagoga dos judeus para dar testemunho de mim, por terem eles me sacrificado."
            E quando falou isto, disse aos apóstolos: "Esperai-me neste lugar, porque hoje se oferece um sacrifício no paraíso e ali hei de estar para recebê-los."
            E disse Bartolomeu: "Qual é o sacrifício que se oferece hoje no paraíso?" Jesus respondeu: "As almas dos justos, que saíram do corpo, vão entrar hoje no Éden e, se eu não estiver lá presente, não poderão entrar."
            Bartolomeu respondeu dizendo: "Quantas almas saem diariamente deste mundo?" Disse-lhe Jesus: "Trinta mil.
            Disse-lhe novamente Bartolomeu: "Senhor, quando te encontravas entre nós ensinando-nos tua palavra, recebi-as sacrifícios no paraíso?" Respondeu-lhe Jesus dizendo: "Em verdade te digo eu, meu amado, que, quando me encontrava entre vós ensinando-vos a palavra, estava simultaneamente sentado junto de meu Pai."
            Disse-lhe Bartolomeu: "Quantas almas nascem diariamente no mundo?" Responde-lhe Jesus: "Uma só a mais do que as que saem do mundo."
            E dizendo isto, deu-lhes a paz e desapareceu no meio deles.

            Capítulo 2
            Estavam os apóstolos em um lugar chamado Chiltura (Chiruvin, Chritir) com Maria, a Mãe de Deus.
            E Bartolomeu, acercando-se de Pedro, André e João, disse-lhes: "Por que não pedimos à cheia de graça que nos diga como concebeu ao Senhor e como pôde carregar em seu seio e dar à luz o que não pôde ser gestado?" Mas eles vacilaram em perguntar-lhe.
            E disse Bartolomeu a Pedro: "Tu, como corifeu e nosso mestre que és, acerca-te dela e pergunta-lhe."
            Mas, ao ver todos vacilantes e em desacordo, Bartolomeu acercou-se dela e disse: "Deus te salve, tabernáculo do Altíssimo; aqui viemos todos os apóstolos a perguntar-te como concebeste ao que é incompreensível, e como carregaste em teu seio aquele que não pôde ser gestado, ou como, enfim, deste à luz tanta grandeza."
            Mas Maria respondeu: "Não me interrogueis acerca deste mistério. Se começar a falar-vos dele, sairá fogo de minha boca e consumirá toda a terra."
            Mas eles insistiram e Maria, não querendo dar-lhes ouvidos, disse: "Oremos.
            Os apóstolos puseram-se de pé atrás de Maria. Esta disse a Pedro: "E tu, Pedro, quê és chefe e grande pilar, estás de pé atrás de nós? Pois não disse o Senhor que a cabeça do varão é Cristo e a da mulher é o varão?"
            Mas eles replicaram: "O Senhor plantou sua tenda em ti e em tua pessoa houve por bem ser contido. Tu deves ser nossa guia na oração."
            Maria, então, disse-lhes: "Vós sois estrelas brilhantes do céu. Vós sois os que devem orar."
            Dizem-lhe: "Tu deves orar, pois que sois a Mãe do Rei Celestial."
            Com o que Maria colocou-se diante deles e elevando as mãos aos céus começou a dizer: "O Deus, tu que és o Grande, o Sapientíssimo, o Rei dos séculos, inexplicável, inefável, aquele que com uma palavra deu consistência às magnitudes siderais, aquele que fundamentou em afinada harmonia a excelsitude do firmamento, aquele que separou a obscuridade tenebrosa da luz, aquele que alicerçou em um mesmo lugar os mananciais das águas; tu que deste base à terra, tu que não podendo ser contido nos sete céus, te dignaste a ser contido em mim sem dor alguma, sendo Verbo Perfeito do Pai, por quem todas as coisas foram feitas; da glória, Senhor, a teu magnífico nome, manda-me falar na presença de teus santos apóstolos."
            E terminada a oração disse: "Sentemo-nos no chão e vem tu, Pedro, que és o chefe. Senta-te à minha direita e apóia com tua esquerda meu braço. Tu, André, faz o mesmo do lado esquerdo. Tu, João, que és virgem, segura meu peito. E tu, Bartolomeu, põe-te de joelhos atrás de mim e apóia minhas costas para que, ao começar falar, meus ossos não se desarticulem."
            E quando fizeram isso, começou a falar desta forma: "Estando eu no templo de Deus, aonde recebia alimento das mãos de um anjo, apareceu-me certo dia uma figura que me pareceu ser angélica. Mas seu semblante era indescritível, e não levava nas mãos nem pão nem cálice, como o anjo que anteriormente tinha vindo a mim.
            "E eis que de repente, rasgou-se o véu do templo e sobreveio um grande terremoto. Joguei-me por terra, não podendo suportar o semblante do anjo.
            "Mas ele estendeu-me sua mão e levantou-me. Olhei para o céu e vi uma nuvem de orvalho que aspergiu-me da cabeça aos pés. Mas ele enxugou-me com o seu manto.
            "E disse-me: 'Salve, cheia de graça, cálice da eleição.' Então, deu um golpe com sua mão direita e apareceu um pão muito grande, que colocou sobre o altar do templo. Comeu em primeiro lugar e em seguida deu-o a mim também.
            "Deu outro golpe com a ourela esquerda de sua túnica e apareceu um cálice muito grande e cheio de vinho. Bebeu em primeiro lugar e em seguida deu-o a mim também. E meus olhos viram um cálice transbordante e um pão.
            "Então disse-me: 'Ao cabo de três anos, eu te dirigirei novamente minha palavra e conceberás um filho pelo qual será salva toda a criação. Tu és o cálice do mundo. A paz esteja contigo, minha amada, e minha paz te acompanhará sempre.'
            "E nisto desapareceu de minha presença, ficando o templo como estava anteriormente."
            Mas, ao terminar de falar, começou a sair fogo de sua boca. E, quando o mundo estava para ser destruído, apareceu o Senhor que disse a Maria: "Não desveles este mistério, porque se o fizerdes no dia de hoje sofrerá a criação inteira um cataclismo." Os apóstolos, consternados, temeram que o Senhor pudesse irar-se contra eles.

            Capítulo 3
            Então (o Senhor) caminhou com eles até o monte Moriá e se sentou no meio deles.
            Mas como tinham medo hesitavam em perguntar-lhe.
            E Jesus incitou-os: "Perguntai-me o que quiserdes, pois dentro de sete dias partirei para o meu Pai e já não estarei visível a vós nesta forma."
            E eles, vacilantes, lhe dizem: "Permite-nos ver o abismo, como nos prometeste."
            E disse-lhes Jesus: "Melhor seria para vós não verdes o abismo; mas, se o quereis, segui-me e o vereis."
            E os conduziu ao local chamado Cherudik, que significa "lugar de verdade",
            E fez um sinal aos anjos do Ocidente e a terra abriu-se como um livro e o abismo apareceu.
            E, ao vê-lo, os apóstolos prostraram-se em terra.
            Mas o Senhor os ergueu dizendo: "Não vos dizia, há pouco, que não vos faria bem verdes o abismo?"

            Capítulo 4
            E, tomando-os de novo, pôs-se a caminho do monte das Oliveiras.
            E Pedro dizia a Maria: "Oh tu, cheia de graça, roga ao Senhor que nos revele os arcanjos celestiais."
                                                         Maria respondeu a Pedro: "Oh tu, pedra escolhida, por acaso não prometeu ele fundar seus alicerces sobre ti?"
            Pedro insistiu: "A ti, que és um amplo tabernáculo, cabe perguntar."
            Disse Maria: 'Tu és a imagem de Adão e este não foi formado da mesma maneira que Eva. Observa o sol e vê que, tal qual Adão, ele se avantaja em brilho aos demais astros. Observa também a lua e vê como está enodoada pela transgressão de Eva. Porque o Senhor pôs Adão ao Oriente e Eva ao Ocidente, ordenando a ambos que ofereçam a face mutuamente."
            E quando chegaram ao cimo do monte o Senhor afastou-se um pouco deles, e Pedro disse a Maria: 'Tu és aquela que desfez a infração de Eva, transformando-a de vergonha em regozijo."
            E, tornando o Senhor, disse-lhe Bartolomeu: "Senhor, mostra-nos o inimigo dos homens para que vejamos quem é e quais são suas obras, já que nem mesmo de ti se apiedou, fazendo-te pender do patíbulo."
            E Jesus, fixando nele seu olhar, disse-lhe: "Teu coração é duro. Não te é dado ver isso que pedes."
            Então, Bartolomeu, todo agitado, caiu aos pés de Jesus, dizendo: "Jesus Cristo, chama inextinguível, criador da luz eterna, tu que hás dado a graça universal a todos os que te amam e que nos hás outorgado por meio da Virgem Maria o fulgor perene da tua presença neste mundo, concede-nos o nosso desejo."
            Quando Bartolomeu acabou de falar, o Senhor ergueu-se, dizendo: "Vejo que é teu desejo ver o adversário dos homens. Mas lembra-te que, ao fitá-lo, não apenas tu mas também os demais apóstolos e Maria caireis por terra e ficareis como mortos."
            Mas todos lhe disseram: "Senhor, vejamo-lo!"
            Então fê-los descer do monte das Oliveiras. E, havendo lançado um olhar enfurecido aos anjos que custodiavam o Tártaro, ordenou a Michael que fizesse soar a trombeta fortemente. Quando este o fez, Belial subiu aprisionado por anjos e atado com correntes de fogo.
            O dragão tinha de altura mil e seiscentos côvados e de largura, quarenta. Seu rosto era como uma centelha e seus olhos, tenebrosos. Do seu nariz saía uma fumaça mal-cheirosa, e sua boca era como a fauce de um precipício.
            Ao vê-lo, os apóstolos caíram por terra sobre os rostos e ficaram como que mortos.
            Mas Jesus acercou-se deles, ergueu-os e infundiu-lhes ânimo. E disse a Bartolomeu: "Pisa com teu próprio pé sua cerviz e pergunta-lhe quais foram suas obras (até agora) e como engana os homens."
            Jesus estava de pé com os demais apóstolos.
            E Bartolomeu, temeroso, ergueu a voz e disse: "Bendito seja desde agora e para sempre o nome de teu reino imortal." Quando ele acabou de dizer isso, Jesus o exortou de novo: "Anda, pisa a cerviz de Belial." Então Bartolomeu caminhou apressadamente para Belial e pisou-lhe o pescoço, deixando-o a tremer.
            E Bartolomeu fugiu assustado, dizendo: "Deixa-me pegar a borda de tuas vestes para que me atreva a aproximar-me dele."
            Jesus respondeu-lhe: "Não podes tocar a fimbria das minhas vestes porque não são as mesmas que eu tinha antes de ser crucificado."
            Disse-lhe Bartolomeu: "Tenho medo, Senhor, de que,assim como não se compadeceu dos anjos, da mesma maneira me esmague também a mim."
            Respondeu Jesus: "Mas por acaso não se acertaram todas as coisas graças à minha palavra e à inteligência de meu Pai? A Salomão se submeteram os espíritos. Vai tu, pois, em meu nome, e pergunta-lhe o que quiseres."
            E, ao fazer Bartolomeu o sinal da cruz e orar a Jesus, irrompeu um incêndio e as vestes do apóstolo foram tomadas pelas chamas. Disse-lhe então Jesus de novo: "Pisa-o, como te disse, na cerviz, de maneira que possas perguntar-lhe qual é o seu poder." Bartolomeu, pois, se foi e pisou-lhe a cerviz, que trazia oculta até as orelhas,
            dizendo-lhe: "Dize-me quem és tu e qual é teu nome.
            E ele, Bartolomeu, afrouxou-lhe um pouco as ligaduras e lhe disse: "Conta tudo quanto tens feito."
            Respondeu Belial: "A princípio me chamava Satanail, que quer dizer mensageiro de Deus. Mas, desde que não reconheci a imagem de Deus, meu nome foi mudado para Satanás, que quer dizer anjo guardião do Tártaro."
            E Bartolomeu falou de novo: "Conta-me tudo sem nada ocultar."
            E ele responde: "Juro-te pela glória de Deus que, ainda que quisesse ocultá-lo, ser-me-ia impossível. Está aqui presente aquele que me acusa. E se me fosse possível vos faria desaparecer a todos da mesma maneira que o fiz com aquele que pregou para vós.
            "Também fui chamado primeiro anjo porque, quando Deus fez o céu e a terra, apanhou um punhado de fogo e formou-me a mim primeiro.
            "E o segundo foi Michael, e o terceiro Gabriel, e o quarto Rafael, e o quinto Uriel, o sexto Natanael e assim outros seis mil anjos, cujos nomes me é impossível pronunciar, pois são os lictores de Deus e me flagelam sete vezes a cada dia e sete vezes a cada noite. Não me deixam um momento e são os encarregados de minar minhas forças. Os dois anjos vingadores são estes que estão diante do trono de Deus. Eles foram criados primeiro.
            "Depois destes foi criada a multidão dos anjos: no primeiro céu há cem miríades; no segundo, cem miríades; no terceiro, cem miríades; no quarto, cem miríades; no quinto, cem miríades; no sexto, cem miríades; no sétimo, cem miríades. Fora do âmbito dos sete céus está o primeiro firmamento, onde residem as potestades que exercem sua atividade sobre os homens.
            "Há também outros quatro anjos: um é Bóreas, cujo nome é ...vroil Cherum, tem na mão uma vara de fogo e neutraliza a força que a umidade exerce sobre a terra, para que esta não chegue a secar.
            "Outro anjo está no Aquilon e seu nome é Elvisthá."
            "Etalfatha tem a seu cargo o Aquilon. E ambos — ele e Mauch, que está no Bóreas — mantêm em suas mãos tochas incendiadas e varas de fogo para neutralizar o frio, o frio dos ventos, de maneira que a terra não se resseque e o mundo não pereça.
            "Cedor cuida do Austro, para que o sol não perturbe a terra, pois Levenior apaga a chama que sai da boca daquele, para que a terra não seja abrasada.
            "Há outro anjo que exerce domínio sobre o mar e reduz o empuxo das ondas.
            "O mais não estou disposto a revelar."
            Então disse-lhe Bartolomeu o apóstolo: "Anda, dize-me, malfeitor e mentiroso, ladrão desde o berço, cheio de amargura, engano, inveja e astúcia, velho réptil, trapaceiro, lobo rapace, como te arrumas para induzir os homens a deixar o Deus vivo, criador de todas as coisas, que fez o céu e a terra e tudo que neles está contido? Pois és sempre inimigo do gênero humano."
            E disse-lhe o Anticristo: "Dir-te-ei. Eis aqui uma roda que sobe do abismo e tem sete facas de fogo. A primeira delas tem doze canais."
            E lhe perguntou Bartolomeu: "Quem está nas facas?"
            Respondeu o Anticristo: "No canal ígneo da primeira faca ficam os inclinados ao sortilégio, à adivinhação e à arte de encantamento, e também os que neles crêem e os buscam, já que por malícia de seu coração buscaram adivinhações falsas. No segundo canal de fogo vão os blasfemos, que maldizem de Deus, de seu próximo e das Escrituras. Também ficam aí os feiticeiros e os que os buscam e lhes dão crédito. Entre os meus encontram-se também os suicidas, os que se lançam à água, ou se enforcam, ou se ferem com a espada. Todos esses estarão comigo. No terceiro canal vão os homicidas, os que se entregam à idolatria e os que se deixam dominar pela avareza ou pela inveja, que foi o que me arrojou do céu à terra. Nos demais canais vão os perjuros, os soberbos, os ladrões, os que desprezam os peregrinos, os que não dão esmolas, os que não ajudam os encarcerados, os que servem com tibieza à palavra do Pai, os caluniadores, os que não amam ao próximo e os demais pecadores que não buscam a Deus ou o servem debilmente. A todos esses eu os submeto ao meu arbítrio."
            Disse-lhe então Bartolomeu: "Dize-me, diabo mentiroso e insincero: fazes tu essas coisas pessoalmente ou por intermédio de teus iguais?"
            Responde-lhe o Anticristo: "Oh se eu pudesse sair e fazer essas coisas por mim mesmo! Em três dias destruiria o mundo inteiro. Desgraçadamente, porém, nem eu nem nenhum dos que foram arrojados juntamente comigo podemos sair. Temos, todavia, outros ministros mais fracos que, por sua vez, atraem outros colegas aos quais emprestamos nossa vestimenta e mandamos semear insídias que enredem as almas dos homens com muita suavidade, afagando-as, para que se deixem dominar pela embriaguez, a avareza, a blasfêmia, o homicídio, o furto, a fornicação., a apostasia, a idolatria, o abandono da palavra do Pai, o desprezo da Cruz, o falso testemunho, enfim, tudo o que Deus abomina. Isso é o que nós fazemos. A uns os deitamos ao fogo, a outros os lançamos das árvores para que se afoguem; a uns rompemos pés e" mãos, a outros lhes arrancamos os olhos. Estas e outras coisas são o que fazemos. Oferecemos ouro e prata e tudo mais que é cobiçável no mundo e àqueles que não conseguimos que pequem despertos fazemo-los pecar adormecidos.
            "Também te direi os nomes dos anjos de Deus que nos são contrários. Um deles chama-se Mermeoth, que é o que domina as tempestades. Meus satélites o conjuram e ele lhes dá permissão para que habitem onde queiram; mas ao voltar se incendeiam. Há outros cinqüenta anjos que têm debaixo do seu poder o raio. Quando algum espírito, dentre os nossos, quiser sair pelo mar ou pela terra, esses anjos desferem contra ele uma descarga de pedra. Com isso ateiam o fogo e fazem fender as rochas e as árvores. E quando conseguem dar conosco nos perseguem, obedecendo ao mandato daquele a quem servem. Graças a esse mandato, tu podes exercer poder sobre mim, pelo que me vejo obrigado, muito a meu pesar, a revelar-te o segredo e as coisas que não pensava dizer-te."
            Pergunta-lhe de novo Bartolomeu: "Que tens feito e o que continuas fazendo ainda? Revela-me." Satanás responde: "Tinha pensado não confessar-te todo o segredo, mas, por aquele que preside ao Universo, cuja cruz me lançou ao cativeiro, não posso ocultar-te nada."
            E disse o Senhor Jesus a Bartolomeu: "Afrouxa-lhe as ligaduras e ordena-lhe que retorne a seu lugar até a vinda do Senhor. Quanto ao mais, já me encarregarei eu mesmo de revelar-vos a vós. Porque é necessário nascer de novo para que aqueles que passaram pela prova possam entrar no reino dos céus, de onde foi expulso este inimigo por sua soberba, juntamente com aqueles de cujo conselho se servia."
            Depois disso, disse o apóstolo Bartolomeu ao Anticristo: "Volta, condenado e inimigo dos homens, ao abismo até a vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo, o qual há de vir julgar a vivos e mortos e ao mundo inteiro por meio do fogo e a condenar-te a ti e a todos os teus semelhantes. Não tentes daqui em diante continuar praticando isso que foste obrigado a revelar."
            Então, Satanás, lançando, como um leão, vozes misturadas com rugidos e gemidos, disse: "Ai de mim, que tenho me servido de mulheres para enganar a tantos e acabei por ser burlado por uma virgem! Agora vejo-me aferrolhado e atado com cadeias de fogo pelo seu Filho e estou ardendo de péssima maneira. O virgindade, que estás sempre contra mim! Ainda não se passaram os sete mil anos. Como, pois, me vi condenado a confessar as coisas que acabo de dizer?"
            Então o apóstolo Bartolomeu, admirando a audácia do inimigo e confiando no poder do Salvador, disse a Satanás: "Dize-me, imundíssimo demônio, a causa pela qual foste banido do mais alto do céu. Pois prometeste revelar-me tudo."
            Respondeu o Diabo dizendo: "Quando Deus se propôs formar Adão, pai dos homens, à sua imagem, ordenou a quatro anjos que trouxessem terra das quatro partes do globo e água dos quatro rios do paraíso. Eu estava no mundo naquela ocasião e o homem passou a ser um animal vivente nos quatro rincões da terra onde eu não estava. Então Deus o abençoou porque era sua imagem. Depois vieram render-lhe suas homenagens Michael, Gabriel e Uriel.
            "Quando voltei ao mundo disse-me o arcanjo Michael: 'Adora essa figura que Deus fez segundo sua vontade'. Eu me dei conta de que a criatura havia sido feita de barro e disse: `Eu fui feito de fogo e água, e primeiro do que este; eu não adoro o barro da terra.'
            "De novo me disse Michael: 'Adora-o, antes que o Senhor se aborreça contigo.' Eu repliquei: 'O Senhor não se irritará comigo. Eu vou colocar meu trono contra o dele.' Então Deus enfureceu-se comigo, mandou abrir as comportas do céu e me arrojou à terra.
            "Depois que fui expulso, perguntou o Senhor aos demais anjos que estavam às minhas ordens se dispunham-se a render-se diante da obra que havia feito com suas mãos. Mas eles disseram: `Assim corno vimos que nosso chefe não dobrou sua cerviz, da mesma maneira não adoraremos um ser inferior a nós.' Naquele momento mesmo foram eles expulsos corno eu.
            "E ficamos adormecidos durante um período de quarenta anos. Eu, ao despertar, percebi que dormiam os que estavam abaixo de mim. E os despertei seguindo meu capricho. Depois discuti com eles urna forma de lograr o homem por cuja causa fui expulso do céu.
            "E, tornada a resolução, descobri como podia seduzi-lo: tornei em minhas mãos urnas folhas de figueira, enxuguei com elas o suor do meu peito e das minhas axilas e atirei-as ao rio. Eva, então, ao beber daquela água, conheceu o desejo carnal e o ofereceu ao marido. A ambos pareceu doce seu sabor e não se deram conta do amargo de haverem prevaricado. Se não houvessem bebido dessa água jamais poderia eu enredá-los, pois outro meio eu não tinha para poder superá-los senão esse."
            Então o apóstolo Bartolomeu pôs-se a orar dizendo: "Oh Senhor Jesus Cristo! Ordena-lhe que entre no Inferno porque se mostra insolente comigo." E diz Jesus Cristo a Satanás: "Vai, desce ao abismo e fica ali até minha chegada." E no mesmo instante o Diabo desapareceu.
            Bartolomeu, então, caindo aos pés de Nosso Senhor Jesus Cristo, começou a dizer, banhado em lágrimas: "Abba! Pai! Tu que continuas sendo o único e glorioso Verbo do Pai, por quem foram feitas todas as coisas; tu, a quem quase não te puderam conter os sete céus e que tiveste por bem habitar o seio de uma Virgem; a quem a Virgem gerou e deu à luz sem dor. Tu, Senhor, elegeste aquela a quem verdadeiramente pudeste chamar mãe, rainha e escrava. Mãe, porque por ela te dignaste descer e dela tomaste carne mor-tal. E rainha porque a constituíste rainha das virgens.
            "Tu que chamaste os quatro rios e eles obedecem tuas ordens e se apressam a servir-te. O primeiro, o rio dos Filósofos, para a unidade da palavra do Pai e da Fé, que foi revelada no mundo. O segundo, o Géon, porque o homem foi feito de terra, ou também pelos dois testamentos. O terceiro, o Tigre, porque aos que cremos no Pai, no Filho e no Espírito Santo, Deus único por quem foram feitas todas as coisas no céu e na terra, nos foi revelada a Trindade sempiterna, que está nos céus. O quarto, o Eufrates, porque tu te dignaste saciar toda alma vivente por meio do banho da regeneração, que representava a imagem dos Evangelhos que correm por toda a órbita da Terra, e que te dignaste anunciar por teus servos, para que, por meio da confissão e da fé, sejam salvos todos os que crêem em teu nome grande e terrível e em teus santos Evangelhos, de maneira que possam alcançar a vida que ainda não possuem."
            Disse então Bartolomeu: "È lícito revelar estas coisas a todos os homens?"
            Disse-lhe Jesus: "Podeis dá-las a conhecer a todos que sejam crentes e observem este mistério que acabo de desvelar-vos. Pois entre os gentios há alguns que são idólatras, ébrios, fornicadores, perjuros, blasfemos, detratores, invejosos, maldosos, feiticeiros, malvados, que seguem as artimanhas do inimigo e que odeiam o próximo. Todos esses não são dignos de ouvir esse mistério.
            "Mas são dignos de ouvi-lo todos os que guardam meus mandamentos, os que recebem em si as palavras de vida eterna que não têm fim, e todos os que têm parte nos céus com os santos, justos e fiéis no reino do meu Pai. Todos aqueles que se hajam conservado imunes ao erro da iniqüidade e hajam seguido o caminho da salvação e da justiça, devem ouvir este mistério. E tu, Bartolomeu, és feliz, juntamente com a tua geração."
            Então, Bartolomeu, ao escrever todas essas coisas que ouviu dos lábios de Nosso Senhor Jesus Cristo, mostrou toda a sua alegria no rosto e bendisse o Pai, o Filho e o Espírito Santo, dizendo: "Glória a Ti, Senhor, redentor dos pecadores, vida dos justos, fé dos crentes, ressurreição dos mortos, luz do mundo, amante da castidade."
            Então, batendo no peito, disse: "Eu sou bom, manso e benigno, misericordioso e clemente, forte e justo, admirável e santo, médico e defensor de órfãos e viúvas, remunerador dos justos e fiéis, juiz de vivos e mortos, luz de luz e resplendor da claridade; consolador dos atribulados e cooperador dos pupilos. Alegrai-vos comigo, amigos meus, e recebei meu presente. Hoje vou dar-vos um dom celeste. A todos os que em mim tenham depositado sua aspiração e sua fé, e a vós, estou galardoando com a vida eterna."
            Disse-lhe de novo Bartolomeu: "Senhor, e se alguém comete um pecado carnal, como será julgado?"
            Responde-lhe Jesus: "É certo que o neófito deve observar tudo aquilo a que o batismo o obriga e, portanto, que guarde castidade e permaneça nela. Mas, se lhe sobrevém a concupiscência carnal, deve casar-se com uma única mulher; de maneira que a mulher não conheça outro marido e este recuse qualquer outra esposa. E se observarem a castidade segundo seu estado, da mesma maneira como o fez meu servo Abraão, que sempre acatou meus mandamentos, eu lhes darei o cêntuplo e seu matrimônio estará livre de pecado. E se ocorresse a necessidade de tomar uma segunda mulher ou um segundo marido poderiam fazê-lo contanto, vestissem o desnudo, dessem comida e bebida ao faminto e ao sedento, dessem hospedagem aos peregrinos, ao invés de os desprezar, visitassem os enfermos, servissem aos encarcerados, dissessem sempre a verdade, recebessem com toda veneração o sacerdote e todo aquele que teme a Deus, e, como disse antes, fizessem as demais boas ações de modo a agradecer a Deus.
            Então, Bartolomeu, e com ele os demais apóstolos, pôs-se a glorificar o Senhor Jesus, dizendo: "Glória a ti, pai dos céus, rei da vida eterna, foco de luz inextinguível, sol radiante e resplendor da claridade perpétua, rei dos reis, senhor dos senhores. A ti seja dada a magnificência, a glória, o império, o reino, a honra e o poder, juntamente com o Pai e o Espírito Santo. Bendito seja o Senhor Deus de Israel porque nos visitou e redimiu seu povo da mão de seus inimigos e usou conosco de misericórdia e justiça. Louvai a Nosso Senhor Jesus Cristo todas as nações e crede que ele é o juiz de vivos e mortos e o salvador dos fiéis. O qual vive e reina, juntamente com o Pai e o Espírito Santo, por todos os séculos dos séculos. Amém."

            Bartolomeu foi um dos apóstolos de Jesus Cristo. Seu nome vem do aramaico, com uma referência patronímica: Bar Talmay - filho de Talmay. Há historiadores que também mantêm uma referência patronímica, mas dá outro significado para o nome: Bar Ptolomeu - Filho de Ptolomeu. Esta última hipótese não é inverossímil, visto que Ptolomeu (suposto pai de Bartolomeu) possuía um prenome grego, e a cultura grega tinha uma grande influência na Judeia da época e em todo território.

            Nenhuma narração bíblica trata dele especialmente, e seu nome consta apenas nas listas dos doze. No entanto, segundo a tradição, ele é o Natanael de que falam outras passagens, e isso fica evidente através da comparação entre os quatro Evangelhos. Natanael significa "Deus deu" - o significado desse nome fica claro levando-se em conta que ele vinha de Caná, onde deve ter testemunhado a ação de Jesus nas Bodas de Caná (Jo 2, 1-11).

            Como narra a Bíblia, São Filipe comunicou a Natanael (São Bartolomeu) que havia encontrado o Messias, e que esse provinha de Nazaré, ao que Natanael responde dura e preconceituosamente: "De Nazaré pode vir alguma coisa boa?" (Jo 1, 46a). Essa observação é importante indicador das expectativas judaicais quanto à vinda do Messias, então tidas.

            No seu primeiro encontro com Jesus, recebe um elogio: "Aqui está um verdadeiro Israelita, em quem não há fingimento" (Jo 1, 47), ao qual o apóstolo responde: "Como me conheces?". Jesus responde de forma que não podemos compreender claramente somente através das Escrituras: "Antes que Filipe te chamasse, eu te vi quando estavas sob a figueira". Com certeza se tratava de um momento crítico e decisivo na vida de Natanael. Após essa revelação de Jesus, Natanael faz a sua adesão ao Mestre com a seguinte profissão de fé: "Rabi, tu és o filho de Deus, tu és o Rei de Israel".

            Segundo fontes históricas, São Bartolomeu teria pregado o cristianismo até na Índia. Outra tradição diz que o apóstolo morreu por esfolamento em Albanópolis, atual Derbent, na província russa de Daguestão junto ao Cáucaso, a mando do governador, tanto que na Capela Sistina ele é pintado segurando a própria pele na mão esquerda e na outra o instrumento de seu suplício, um alfange. Segundo a Igreja Católica, mais tarde suas relíquias foram levadas para a Europa e jazem em Roma, na Igreja a ele dedicada.

            O Papa Bento XVI na audiência do dia 4 de outubro de 2006 disse estas palavras que concluem o ensinamento da vida de São Bartolomeu: "Para concluir, podemos dizer que a figura de São Bartolomeu, mesmo sendo escassas as informações acerca dele, permanece contudo diante de nós para nos dizer que a adesão a Jesus pode ser vivida e testemunhada também sem cumprir obras sensacionais. Extraordinário é e permanece o próprio Jesus, ao qual cada um de nós está chamado a consagrar a própria vida e a própria morte".

domingo, 6 de outubro de 2019

Evangelho da Verdade



            O EVANGELHO da Verdade é alegria para aqueles que receberam do Pai da verdade a graça de conhecê-lo através da força do Logos, que veio do Pleroma[1] e que está no pensamento e na mente do Pai; Ele é o chamado "Salvador", pois é o nome da obra que Ele deve realizar pela redenção daqueles que não conheceram o Pai. O nome do evangelho é a manifestação da esperança, porque é a descoberta daqueles que o buscam, pois o Todo buscou aquele de quem emanou. Vejam, o Todo estava dentro dele, esse uno ilimitado, inconcebível, que é superior a qualquer pensamento.

            Esta ignorância a respeito do Pai trouxe terror e medo. E o terror se tornou denso como neblina, de modo que ninguém podia enxergar. Por causa disso, o erro se fortaleceu. Mas o erro trabalhou em sua substância hylica[2] em vão, porque não conhecia a verdade. Estava numa forma moldada enquanto preparava, em poder e em beleza, uma imitação da verdade. Isto, porém, não humilhou o ilimitável e inconcebível. Pois este terror e esta ignorância e esta figura falsa eram nada, enquanto que esta verdade estabelecida é imutável, imperturbável e perfeitamente bela.

            Por esta razão, não levem muito à serio o erro. Pois, como não possuía raiz, estava imerso na neblina com respeito ao Pai, ocupado na preparação de obras, esquecimentos e medos, a fim de, por meio deles, enganar os do meio e os aprisionar. O esquecimento do erro não foi revelado. Não se tornou luz ao lado do Pai. O esquecimento não existia com o Pai, embora tenha se originado por causa dele. O que existe nele é o conhecimento, que foi revelado para que o esquecimento pudesse ser destruído e para que o Pai pudesse ser conhecido. Como o esquecimento existia porque o Pai não era conhecido, quando o Pai chegar a ser conhecido, a partir deste momento o esquecimento deixará de existir.

            Este é o evangelho daquele que é buscado, que Ele revelou aos perfeitos, como o mistério oculto, Jesus Cristo. Por seu intermédio, Ele iluminou aqueles que estavam na escuridão por causa do esquecimento. Ele os iluminou e indicou-lhes um caminho. E esse caminho é a verdade que Ele lhes ensinou. Por esta razão, o erro se enfureceu com Ele, e por isso o perseguiu. Ele foi perturbado por Ele, e por isso lhe tirou a força. Ele foi pregado numa cruz. Ele se tornou fruto do conhecimento do Pai. Ele, porém, não os destruiu por terem comido o fruto. Em vez disso, fez com que aqueles que o comeram se alegrassem com a descoberta.

            E quanto a Ele, encontrou-os nele mesmo, e eles O encontraram neles mesmos, o uno ilimitado e inconcebível, esse Pai perfeito que criou o Todo, em quem o Todo está, e de quem o Todo necessita, já que Ele reteve em si a perfeição deles, a qual não deu ao Todo. O Pai não tinha inveja. Em verdade, que inveja poderia existir entre Ele e seus membros? Pois, mesmo se o éon tivesse recebido sua perfeição, eles não seriam capazes de se aproximar da perfeição do Pai, porque Ele reteve sua perfeição em si mesmo, dando-a a eles como uma forma de voltar para Ele e como um conhecimento único em perfeição. Foi Ele quem ordenou o Todo e em quem o Todo existia e de quem o Todo necessitava. Como alguns não O conhecem, ele deseja que eles O conheçam e que O amem. Pois do que é que o Todo precisaria, senão do conhecimento do Pai?

            Ele se tornou um guia, tranqüilo e paciente. Dentro de uma escola Ele apareceu e falou a palavra, como um mestre. Aqueles que se consideravam sábios, quiseram testá-lo. Mas ele os dispensou como pessoas de cabeça vazia. Eles o odiaram porque na realidade não eram sábios. Depois de todos estes, vieram também as criancinhas, que possuem o conhecimento do Pai. Quando se fortaleceram, foram lhes ensinados os aspectos da face do Pai. Elas reconheceram e foram reconhecidas. Elas foram glorificadas e glorificaram. O livro vivo dos viventes se manifestou no coração delas, o livro que foi escrito no pensamento e na mente do Pai e, desde antes da fundação do Todo, está naquela parte incompreensível dele.

            Este é o livro que ninguém considerou possível pegar, pois estava reservado para aquele que, ao pegá-lo, seria morto. Nenhum daqueles que acreditavam na salvação foi capaz de manifestar-se antes que aquele livro aparecesse. Por essa razão, Jesus, o misericordioso e fiel, aceitou pacientemente o sofrimento para pegar esse livro, pois sabia que sua morte significaria vida para muitos. Assim como no caso de um testamento que ainda não foi aberto, a fortuna do falecido senhor da casa permanece oculta, assim também acontece com o Todo, que esteve oculto enquanto o Pai do Todo estava invisível e único em si mesmo, foi quem todo o espaço se origina. Por esta razão Jesus apareceu. Ele tomou aquele livro para si. Ele foi pregado na cruz. Ele afixou o édito do Pai à cruz.

            Oh, que ensinamento grandioso! Ele até se sujeita à morte, apesar de estar revestido de vida eterna. Tendo se despojado desses farrapos perecíveis, ele vestiu a incorruptibilidade, que ninguém seria capaz de lhe tirar. Tendo penetrado no território vazio dos medos, ele passou diante daqueles que estavam nus por causa do esquecimento, sendo tanto conhecimento como perfeição, proclamando as coisas que estão no coração do Pai, Ele se tornou a sabedoria daqueles que foram instruídos. Mas aqueles que ainda devem ser ensinados, os vivos que estão inscritos no livro dos viventes, aprendem sobre si mesmos, recebendo ensinamentos do Pai, para voltar para Ele novamente.

            Já que a perfeição do Todo está no Pai, é necessário que o Todo suba até Ele. Portanto, se alguém possui o conhecimento, recebe o que lhe pertence, atraindo-o para si. Pois aquele que é ignorante, é deficiente, e é uma grande deficiência, pois lhe falta aquilo que o tornaria perfeito. Como a perfeição do Todo está no Pai, é necessário que o Todo suba até Ele para que cada um receba as coisas que lhe pertencem. Ele as registrou antecipadamente, tendo-as preparado para serem dadas àqueles que vieram dele.

            Aqueles cujo nome Ele conhecia primeiro foram, por fim,chamados, portanto aquele que possui conhecimento é aquele cujo nome o Pai pronunciou. Pois aquele cujo nome não foi pronunciado é ignorante. Em verdade, como é que alguém ouvirá se seu nome não foi pronunciado? Pois aquele que permanece ignorante até o fim é uma criatura do esquecimento e perecerá assim. Se não fosse assim, por que estes miseráveis não têm nome, por que não foram chamados? Portanto, se alguém possui conhecimento, é um ser que vem do alto. Se ele foi chamado, ele ouve, responde, e se volta para aquele que o chamou e sobe até Ele e sabe de que maneira é chamado. Possuindo o conhecimento, faz a vontade daquele que o chamou. Ele deseja agradá-lo e encontra a paz. Ele recebe um determinado nome. Aquele que, portanto, tiver conhecimento, sabe de onde veio e para onde vai. Ele sabe isso como uma pessoa que, tendo ficado embriagada, rejeitou sua embriaguez e, ao voltar a si, restaurou aquilo que lhe pertencia.

            Ele desviou muitos dos erros. Ele foi na frente deles para os lugares aos quais pertenciam, de onde eles haviam saído quando erraram por causa da profundidade daquele que cerca todos os lugares, enquanto não há nada que o cerque. Foi uma grande maravilha que eles estivessem no Pai sem o conhecerem e que fossem capazes de partir por sua própria vontade, já que não eram capazes de conter e conhecer aquele em quem estavam, pois em verdade a vontade dele não saiu dele. Pois Ele a revelou como um conhecimento com o qual todas as suas emanações concordam, ou seja, o conhecimento do livro dos vivos que Ele revelou aos éons como suas letras, expondo-lhes que não são meramente vogais nem consoantes, como uma leitura sem sentido; ao contrário, são letras que transmitem a verdade. São pronunciadas somente quando conhecidas. Cada letra é uma verdade perfeita como um livro perfeito, pois são letras escritas pela mão da unidade, já que o Pai as escreveu para os éons, para que eles, por meio das letras, pudessem vir a conhecer o Pai.

            Enquanto sua sabedoria medita sobre o Logos, e já que seu ensinamento o expressa, seu conhecimento foi revelado. Sua honra é uma coroa sobre sua cabeça. Como sua alegria concorda com o conhecimento, sua glória o exaltou. E revelou sua imagem. Obteve sua paz. Seu amor tomou forma corpórea. Sua confiança o abraçou. Portanto, o Logos do Pai vai para o Todo, sendo o fruto de seu coração e a expressão de sua vontade. Ele sustenta o Todo. Ele escolhe e também toma a forma do Todo, purificando-o e fazendo com que volte ao Pai e à Mãe, a Jesus da suprema doçura. O Pai abre seu peito, mas seu peito é o Espírito Santo. Ele revela seu ser oculto que é o seu filho, para que, através da compaixão do Pai, os éons possam conhecê-lo, concluir sua busca esgotante pelo Pai e repousar nele, sabendo que isto é o repouso. Depois que Ele completou aquilo que estava incompleto, dispensou a forma. A forma disto [isto é, aquilo que estava incompleto] é o inundo, aquilo que Ele ser-viu. Pois onde existe a inveja e a luta, existe imperfeição; mas onde existe unidade, existe perfeição. Como esta imperfeição aconteceu porque o Pai não era conhecido, quando o Pai for conhecido, a imperfeição no mesmo instante cessará de existir. Como a ignorância de alguém desaparece quando obtém conhecimento, e como as trevas desaparecem quando aparece a luz, assim também a imperfeição é eliminada pela perfeição. Certamente, a partir desse momento, a forma não se manifesta mais, mas será dissolvida na fusão com a unidade, pois agora suas obras estão misturadas. Com o tempo, a unidade completará o espaço. Por meio da unidade cada um se entenderá. Por meio do conhecimento se purificará da diversidade com uma visão da unidade, consumindo a matéria dentro de si mesmo como o fogo e a escuridão são devorados pela luz, a morte pela vida.

            Certamente, se essas coisas aconteceram a cada um de nós, cabe-nos pensar sobre o Todo para que a casa se torne santa e silenciosa para acolher a unidade. Da mesma maneira que pessoas que se mudaram de uma vizinhança, se elas possuem vasos imprestáveis, normalmente os quebram. No entanto, o dono da casa não sofre com a perda, mas se rejubila, pois no lugar desses vasos defeituosos terá aqueles que são completamente perfeitos. Pois este é o julgamento que veio do alto e que julgou cada pessoa, uma espada desembainhada de dois gumes que corta deste e daquele lado. Quando Ele apareceu, isto é, o Logos, que está no coração daqueles que o pronunciam — não era apenas um som mas se tornou um corpo — uma grande perturbação ocorreu no meio dos vasos, pois alguns tinham sido esvaziados, outros enchidos; alguns foram guardados, outros descartados; alguns foram purificados, outros quebrados. Todos os espaços foram abalados e perturbados pois não possuíam ordem nem estabilidade. O erro foi perturbado sem saber o que fazer. Ficou preocupado; lamentou-se, ficou fora de si porque não sabia de nada. Quando o conhecimento, que é sua abolição, aproximou-se dele com todas as suas emanações, o erro ficou vazio, já que não havia nada dentro dele. Apareceu a verdade; todas as suas emanações o reconheceram. Saudaram o Pai com um poder que é completo e que as liga a Ele. Pois cada um ama a verdade porque a verdade é a boca do Pai. Sua língua é o Espírito Santo, que o liga à verdade, afixando-o à boca do Pai pela sua língua, na ocasião em que ele receberá o Espírito Santo.
Esta é a manifestação do Pai e sua revelação a seus éons. Ele revelou seu ser oculto e o explicou. Pois quem é que existe senão o próprio Pai? Todos os espaços são suas emanações. Eles sabiam que se originam dele como filhos de um homem perfeito. Eles sabiam que ainda não haviam recebido a fora nem um nome, cada um destes gerados pelo Pai. Se eles, nesta ocasião, recebem forma através de seu conhecimento, embora estejam realmente nele, não o conhecem. Mas o Pai é perfeito. Ele conhece cada espaço que há nele. Se for de seu agrado, Ele revela quem Ele quiser, dando-lhe uma forma e um nome; e Ele lhe dá um nome e o traz para a existência. Aqueles que ainda não existem ignoram aquele que os criou. Eu não digo, portanto, que aqueles que ainda não existem são nada. Mas estão nele que irá querer que existam quando for de seu agrado, como o acontecimento que ainda está por vir. Por um lado, Ele sabe, antes que qualquer coisa seja revelada, o que Ele produzirá. Por outro lado, o fruto que ainda não foi revelado não sabe de nada e é nada. Assim, cada espaço que, por sua parte, está no Pai provém do existente, que, por sua parte, o estabeleceu do não-existente... aquele que não existe, jamais existirá.

            O que é, então, que Ele quer que ele pense? "Eu sou como as sombras e os fantasmas da noite". Quando chega a manhã, este sabe que o medo que ele sentiu era nada. Assim eles eram ignorantes a respeito do Pai; Ele é aquele que eles não viam. Como houve medo e confusão e falta de confiança e duplicidade de pensamento e divisão, havia muitas ilusões concebidas por Ele, o primeiro, bem como ignorância vazia — como se eles estivessem profundamente adormecidos e se vissem vítimas de sonhos. Ou existe um lugar para onde eles fogem, ou lhes falta força quando vêm, tendo perseguido coisas não identificadas. Ou eles desferem golpes, ou eles mesmos recebem arranhões. Ou eles caem de lugares altos, ou saem voando pelo ar, embora não tenham asas, outras vezes, é como se determinadas pessoas estivessem tentando matá-los, mesmo que não haja ninguém os perseguindo; ou, eles mesmos matam aqueles que estão a seu lado, pois estão manchados com o sangue deles. Até o momento em que aqueles que estão passando por todas estas coisas - quero dizer aqueles que vivenciaram todas estas confusões — despertam, eles nada vêem porque os sonhos são nada. E assim que aqueles que se desfazem da ignorância como ovelhas, não consideram que seja alguma coisa, nem consideram suas propriedades serem algo real, mas renunciam a elas como um sonho noturno e consideram o conhecimento do Pai como a aurora. E assim que cada um tem agido, como se estivesse adormecido, durante o tempo em que foi ignorante e então chega a entender, como se estivesse despertando. E bem-aventurado é o homem que recupera seus sentidos e desperta. Em verdade, abençoado é aquele que abriu os olhos dos cegos.

            E o Espírito se apressou até ele e o despertou. Deu a mão àquele que estava deitado inerte no solo, colocou-o firme nos seus pés, pois ele ainda não havia se erguido. Ele lhes deu meios de ter o conhecimento do Pai e a revelação de seu Filho. Pois quando eles O viram e ouviram, Ele lhes permitiu provar e cheirar e tocar o Filho amado.

            Ele apareceu, informando-os sobre o Pai, o uno ilimitável. Ele inspirou-os com aquilo que está na mente, enquanto fazia sua vontade. Muitos receberam a luz e se voltaram para Ele. Mas os homens materiais são estranhos a Ele e não discerniram sua imagem nem O reconheceram. Pois Ele veio na aparência da carne e nada impediu seu caminho porque era incorruptível e incoercível. Além do mais, enquanto anunciava coisas novas, falando sobre aquilo que está no coração do Pai, Ele proclamou a palavra infalível. A luz falou através de sua boca, e sua voz emitia luz. Ele lhes deu pensamento e entendimento e misericórdia e salvação e o Espírito da força, derivado da infinitude do Pai, e doçura. Ele fez cessar os castigos e os suplícios, pois eram estes que faziam com que muitos necessitados de misericórdia se desgarrassem dele no erro e em correntes — e Ele os destruiu poderosamente e zombou deles com o conhecimento. Ele se tornou o caminho para aqueles que se desgarraram e conhecimento para aqueles que eram ignorantes, descoberta para aqueles que buscavam, e apoio para aqueles que vacilavam, pureza para aqueles que foram maculados.

            Ele é o pastor que deixou as noventa e nove ovelhas que não se haviam desgarrado e foi em busca daquela que estava perdida. Ele se alegrou quando a encontrou. Pois noventa e nove é um número contido na mão esquerda. O momento em que encontra aquela perdida, porém, o número inteiro é transferido para a mão direita. Assim é aquele a quem falta o um, isto é, a mão direita toda atrai aquilo que lhe falta, pega-o do lado esquerdo e o transfere para o direito. Desta maneira, portanto, o número se torna cem. Este número significa o Pai.

            Ele trabalhou até no Sabbath por causa da ovelha que encontrou caída no abismo. Ele salvou a vida desta ovelha, tirando-a do abismo para que vós possais entender totalmente o que é esse Sabbath, vós que possuís total entendimento. E o dia no qual não é apropriado que se deixe de lado a salvação, para que vós possais falar desse dia celeste que não tem noite e do sol que não se põe porque é perfeito. Dizei então em vosso coração que sois este dia perfeito e que em vós mora a luz que não falha.

            Falai a respeito da verdade àqueles que a buscam e do conhecimento àqueles que, no seu erro, cometeram pecados. Firmai o passo daqueles que tropeçam e estendei vossas mãos para os enfermos. Alimentai os famintos e aquietai aqueles que estão perturbados. Cuidai dos homens que amais. Erguei e despertai aqueles que dormem. Pois vós sois o entendimento que encoraja. Quando os fortes seguem este caminho, eles se tornam mais fortes ainda. Voltai vossa atenção para vós mesmos. Não vos preocupeis com outras coisas, ou seja, com aquilo que lançastes fora de vós mesmos, aquilo que dispensastes. Não Volteis a comer destas coisas. Não sejais comidos por traças. Não sejais comidos por vermes, pois vós já vos livrastes deles. Não sejais local para o demônio, pois já o destruístes. Não fortaleceis vossos últimos obstáculos, porque isso é repreensível. Pois o homem sem lei é nada. Ele se prejudica mais do que a lei. Pois realiza suas obras porque é uma pessoa sem lei. Mas este, porque é uma pessoa justa, realiza suas obras entre os outros. Portanto, fazei a vontade do Pai, porque procedeis dele.

            Pois o Pai é doce e sua vontade é boa. Ele conhece as coisas que são vossas, portanto, podeis descansar nelas. Pois é pelos frutos que são conhecidas as coisas que são vossas, que são os filhos do Pai, e se conhece seu aroma, que vós vos originais da graça de seu semblante. Por esta razão, o Pai amou seu aroma; e este se manifesta em todos os lugares; e quando se mistura com a matéria, Ele dá seu aroma para a luz; e em seu repouso Ele faz com que este se eleve em cada forma e em cada som. Pois não há narinas que cheirem o aroma, mas é o Espírito que possui o sentido de olfato e este o atrai para si por si mesmo e mergulha no aroma do Pai. Ele é, realmente, o lugar próprio para o aroma, e leva-o para o lugar de onde veio, no primeiro aroma que é frio. E algo em forma psíquica, semelhante à água fria que é... pois está no solo que não é duro, sobre o qual aqueles que o vêem pensam "E terra". Depois, se torna mole novamente. Quando se faz uma inspiração, normalmente esta é quente. os aro-mas frios, portanto, provêm da divisão. Por esta razão, Deus veio e destruiu a divisão e trouxe o Pleroma quente do amor, para que o frio não volte, mas prevaleça a unidade do pensa-mento perfeito.

            Esta é a palavra do Evangelho acerca do encontro do Pleroma para aqueles que esperam pela salvação que vêm do alto. Quando a esperança deles, pela qual aguardam, está acesa — aqueles cuja imagem é a luz na qual não há sombra — então o Pleroma está prestes a vir. A deficiência da matéria, porém, não é por causa da ilimitação do Pai. E no entanto ninguém é capaz de dizer que o Uno incorruptível virá desta maneira. Mas a profundeza do Pai está aumentando, e o pensamento do erro não está com Ele. E uma questão de cair e uma questão de ser prontamente erguido ao encontrar aquele que veio e aquele que quer voltar.
Pois esta volta é chamada "arrependimento". Por esta razão, respirou a incorrupção. Ela seguiu aquele que pecou, para que ele encontre a paz. Pois o perdão é aquilo que permanece para a luz na deficiência, a palavra do pleroma. Pois o médico se apressa para o lugar no qual existe a doença, porque este é o seu desejo. O doente está numa condição deficiente, mas ele não se esconde porque o médico possui aquilo que lhe falta. Desta maneira, a deficiência é preenchida pelo Pleroma, que não possui deficiência, que se deu a si mesmo para preencher aquele que é deficiente, para que a graça possa levá-lo, então, da região que é deficiente e nau possui graça. Por causa disto uma diminuição ocorreu no lugar em que não há graça, a região onde aquele que é pequeno, que é deficiente, fica preso.
Ele se revelou como um Pleroma, isto é, a descoberta da luz da verdade que luziu para Ele, porque Ele é imutável. Por esta razão, aqueles que foram perturbados falaram sobre Cristo no seu meio para que pudessem receber uma resposta e para que Ele pudesse ungi-los com ungüento. O ungüento é a piedade do Pai, que terá misericórdia deles. Mas aqueles que Ele ungiu são os perfeitos. Pois os frascos cheios são aqueles que costumam ser usados para ungir. Mas quando se conclui uma unção, normalmente o frasco fica vazio, e a causa de sua deficiência é o consumo do ungüento. Pois então uma inspiração se produz apenas por meio da força que se tem. Mas aquele que não tem deficiência — não confia em ninguém além dele nem despeja nada. Aquele que é deficiente volta a ser preenchido pelo Pai perfeito. Ele é bom. Ele conhece suas plantações porque foi Ele quem as plantou em seu Paraíso. E seu Paraíso é seu lugar de repouso.
Esta é a perfeição no pensamento do Pai e estas são as palavras de sua reflexão. Cada uma de suas palavras é obra de sua única vontade para revelação de seu Logos. Como estavam na profundeza de sua mente, o Logos, que foi o primeiro a surgir, fez com que elas aparecessem, junto com um intelecto que fala a palavra única por meio de uma grande graça. Foi chamado "Pensamento", pois as palavras estavam nele antes de se manifestarem. Aconteceu, então, que o pensamento foi o primeiro à surgir — no momento agradável à vontade daquele que o desejou; e está na vontade o repouso do Pai, com o que se compraz. Nada acontece sem o Pai, nem ocorre algo sem a vontade do Pai. Mas Sua vontade é incompreensível. Sua vontade é seu sinal, mas ninguém pode conhecê-la, nem é possível que alguém se concentre nela para possuí-la. Mas o que Ele quer acontece no momento que Ele o quer — mesmo quando o espetáculo não agrada a ninguém: é a vontade de Deus. Pois o Pai conhece a origem de todos eles, bem como seu fim. Pois quando o fim deles Chega, Ele os questionará diretamente. O fim, ora, é o reconhecimento daquele que está oculto, isto é, o Pai, de quem surgiu o início e para quem retornam todos os que vieram dele. Pois eles foram manifestados para a glória e a alegria de seu nome.
E o nome do Pai é o filho. Foi Ele quem, no início, deu um nome para aquele que emanou dele — Ele próprio — e o gerou como filho. Ele lhe deu o nome que lhe pertencia — Ele, o Pai que possui tudo que existe ao seu redor. Dele é o nome; dele é o filho. Eles podem vê-1o. O nome, porém, é invisível, pois Ele sozinho é o mistério do invisível, destinado a penetrar nos ouvidos que são completamente preenchidos por Ele, por meio da ação do Pai. Além do mais, quanto ao Pai, seu nome não é pronunciado, mas é revelado através do filho. Portanto, seu nome é grande.
Quem, então, seria capaz de pronunciar um nome para Ele, seu grande nome, a não ser aquele a quem o nome pertence e os filhos em quem o nome do Pai repousa, e que, por sua vez repousam em seu nome, já que o Pai não tem início? Ele sozinho gerou um nome para si no início, antes de ter criado os éons, para que o nome do Pai pairasse acima de suas cabeças como um senhor — isto é, o nome verdadeiro, firme em sua autoridade e no seu poder perfeito. Pois o nome não é tirado de categorias de palavras nem é derivado do modo comum de nomear, porque é invisível. Ele deu um nome para si mesmo, porque somente Ele o viu e porque somente Ele era capaz de dar-se um nome. Pois àquele que não existe não tem nome. Que nome lhe daria alguém que não existe? No entanto, aquele que existe, existe também com seu nome e somente Ele o conhece, e somente para ele o Pai deu um nome. O filho é seu nome. Ele, portanto, não o guardou escondi do secretamente, mas mostrou  o no filho. Ele mesmo lhe deu um nome. O nome, portanto, é o do Pai, assim como o nome do Pai é o filho. Pois de outra maneira, onde a compaixão encontraria um nome — fora do Pai? Mas alguém provavelmente dirá a seu companheiro: "Quem daria um nome a alguém que existiu antes dele, como se, em verdade, os filhos não recebessem seu nome daqueles que os fizeram nascer?"
Acima de tudo, então, cabe a nós repensar este ponto: o que é o nome? E o nome verdadeiro. E, na realidade, o nome que veio do Pai, pois é Ele quem possui o nome. Ele não tomou o nome emprestado, como no caso de outros, de acordo com a maneira particular como cada um é gerado. Este, então, é o nome de autoridade. Não há ninguém mais a quem Ele o tenha dado. Mas permaneceu não nomeado, não pronunciado, até o momento em que Ele, que é perfeito, o pronunciou; e somente Ele teve o poder de pronunciar seu nome e vê-lo. Quando lhe agradou, então, que seu filho fosse seu nome pronunciado e quando Ele deu-lhe este nome, aquele que veio da profundeza falou de seus segredos, porque sabia que o Pai era a bondade absoluta. Por esta razão, de fato, Ele o enviou para que ele pudesse falar a respeito do lugar de repouso do qual Ele havia surgido, e que pudesse glorificar o Pleroma, a grandeza de seu nome e a doçura do Pai.
Cada um falará a respeito do lugar do qual surgiu, e se apressará a voltar uma vez mais à região da qual recebeu seu ser essencial. E saiu daquele lugar — o lugar onde estava - porque provou daquele lugar, enquanto era alimentado e crescia. E seu próprio lugar de repouso é seu Pleroma. Todas as emanações do Pai, portanto, são Pleromas, e todas as suas emanações têm suas raízes naquele que fez com que todas elas crescessem dele. Ele determinou um limite. Elas, então, se manifestaram individualmente para que pudessem ser em seu próprio pensamento, pois aquele lugar para o qual elas estendem seu pensamento é sua raiz, que as eleva por todas as alturas até junto ao Pai. Elas alcançam sua cabeça, que é repouso para elas, e permanecem ali perto, dizendo assim que compartilharam de sua face por meio de abraços. Mas as desse tipo não foram manifestadas, porque não se superaram. Nem foram privadas da glória do Pai nem o consideravam pequeno, nem amargo, nem irado, mas absolutamente bom, imperturbável, doce, conhecedor de todos os espaços antes de eles terem existido e sem necessidade de ser esclarecido. Assim são aqueles que possuem do alto alguma coisa desta grandiosidade imensurável, enquanto se esforçam em direção desse uno único e perfeito que lá está para eles. E eles não descem ao Hades. Eles não têm dentro deles nem inveja nem lamentação, nem a morte. Mas repousam naquele que repousa, sem se esgotar nem se enredar na busca da verdade. Mas eles, de fato, são a verdade, e o Pai está neles, e eles estão no Pai, pois são perfeitos, inseparáveis dele que é verdadeiramente bom. Não lhes falta nada, mas repousam e são revigorados pelo Espírito. E ouvem sua raiz; e se comprazem em si mesmos, aqueles em quem Ele encontrará sua raiz, e não sofrerá dano para sua alma.

            Assim é o lugar dos abençoados; este é o lugar deles. Quanto ao resto, então, que saibam, cada um no seu lugar, que não me convém, depois de ter estado no lugar de repouso, dizer nada mais. Mas eu estarei nele para me dedicar, por todos os tempos, ao trai do Todo e aos verdadeiros irmãos, sobre quem o amor do Pai jorra, e onde nada falia. São eles que se manifestam verdadeiramente, pois estão nessa vida verdadeira e eterna e falam da luz perfeita preenchida da semente do Pai, e que está em seu coração e no Pleroma, enquanto seu Espírito se rejubila nela e glorifica aquele em quem existe, porque o Pai é bom. E seus filhos são perfeitos e dignos de seu nome, porque ele é o Pai. Estes são os filhos que ele ama.


[1] Pleroma (Grego πλήρωμα) geralmente se refere à totalidade dos poderes divinos. A palavra significa plenitude (do grego πληρόω, "Eu preencho"), comparável a πλήρης que significa "cheio"[1] e é usada em contextos teológicos cristãos, tanto Gnósticos quanto por Paulo de Tarso em Colossenses 2:9.
[2] O Homem-Arquétipo degradou-se, pois ao tentar igualar-se a Deus. Seu novo mundo ou domínio foi chamado Mundo Hylico pela Gnosis, nosso universo material, mundo cheio de imperfeições e de males. 

domingo, 7 de julho de 2019

O Evangelho de Maria Madalena II


            (O papiro cóptico - linguagem tradicional egípcia - do qual as primeiras seis páginas se perderam, começa no meio dos evangelhos)

            "...então, a questão será salva ou não?"
            O Salvador disse, "Todas as naturezas, todas as coisas formadas, todas as criaturas existem dentro e com um outro e será solucionado novamente em suas próprias raízes, porque a natureza do assunto será dissolvida apenas nas raízes de sua natureza. Aquele que tem ouvidos para ouvir, ouça." [cf. Mt. 11.15, etc.].

            Pedro lhe disse, "Desde que tu nos explicaste todas as coisas, conte-nos isto: qual é o pecado do mundo? "[cf. Jo 1.29]. O Salvador disse, "o pecado como tal não existe, mas tu cometes pecado quando fazes o que é da natureza de fornicação, que é chamada 'pecado.' Por esta razão o Bem entrou em seu meio, para a essência de cada natureza, para restabelecê-lo à sua raiz." Ele continuou a dizer, "por isto tu entras na existência e morre [...] todo o que sabe pode saber [...] um sofrimento que não tem semelhante, que surgiu do que é contrário à natureza. Então surge uma perturbação no corpo inteiro. Por isto eu vos disse, tendes bom ânimo [cf. Mt. 28.9], e se estiveres desanimado, ainda tenha coragem contra as várias formas da natureza. Aquele que tem ouvidos para ouvir, ouça." Quando o Santificado disse isto, ele cumprimentou todos eles, dizendo "a Paz esteja convosco [cf. Jo 14.271. Recebei minha paz. Prestai atenção para que ninguém vos desvie com as palavras, 'ei-lo, aqui! ' ou 'ei-lo, lá! ' [cf. Mt 24.5, 23; Lc 17.21] porque o Filho do Homem está dentro de ti [cf. Lc 17.21]. Siga-o;  aqueles que o buscam o acharão [cf. Mt 7.7]. Então, vá e pregue o Evangelho do Reino [cf. Mt 4.23; 9.15; Mc 16.15]. Eu não deixei nenhuma ordem senão o que eu lhe ordenei, e eu não vos dei nenhuma lei, como fez o legislador, para que não sejas limitada por ela."

            Eles afligiram e lamentaram grandemente, dizendo, "Como nós iremos aos Gentios e pregaremos o Evangelho do Reino do Filho do Homem? Se nem sequer ele foi poupado, como seremos nós?"

            Então Maria se levantou e cumprimentou a todos eles e disse aos seus irmãos, "não lamentem ou se aflijam ou sejam irresolutos, porque sua graça estará com todos vós e os defenderá. Louvemos sua grandeza, porque ele nos preparou e nos fez em homens."

            Quando Maria disse isto, os seus corações mudaram para melhor, e eles começaram a discutir as palavras do [Salvador].

            Pedro disse à Maria, "Irmã, nós sabemos que o Salvador a amou mais que a outras mulheres [cf. Jo 11.5, Lc 10.38-42]. Conte-nos as palavras do Salvador que tens em mente visto que as conhece; e nós não, nem ouvimos falar delas." Maria respondeu e disse, "o que está oculto de vós dividirei convosco." E ela começou a dizer as seguintes palavras. "Eu", ela disse, "vi o Senhor em uma visão e eu lhe disse, `Senhor, eu o vi hoje em uma visão.' Ele respondeu e me disse, `Bendita sois vós, visto que não oscilas-te ao me ver. Pois onde a mente está, existe seu semblante' [cf. Mt 6.21]. Eu lhe disse, 'Senhor, a mente que vê a visão, a vê através da alma ou do espírito?' O Salvador respondeu e disse, 'nem vê pela alma nem pelo espírito, mas a mente que está entre os dois, que vê a visão e é... '" "... e o Desejo disse, 'eu não o vi descer; mas agora eu o vejo subindo. Porque falas falsamente, quando tu pertences a mim?' A alma respondeu e disse, 'eu o vi, mas tu não me viste ou me reconheceste; eu o servi como uma roupa e tu não me reconheceste.' Depois que disse isto, foi alegre e contentemente embora. Novamente veio ao terceiro poder, a Ignorância. Este poder questionou a alma: 'para onde vais? Tu estavas limitado na impiedade, tu eras realmente limitado. Não julguei' [cf. Mt 7.1]. E a alma disse, `Por que me julgas, quando eu não julguei? Eu estava limitado, entretanto eu não me importei. Eu não fui reconhecido, mas eu admiti que todos se libertarão, coisas terrestres e divinas.' depois que a alma deixou para trás o terceiro poder, subiu para o alto, e viu o quarto poder, que tinha sete formas. A primeira forma é a escuridão, a segunda o desejo, a terceira a ignorância, o quarto o despertar da morte, o quinto é o reino da carne, o sexto é a sabedoria da loucura da carne, o sétimo é sabedoria colérica. Estes são os sete participantes em ira. Eles perguntam à alma, `De onde vens, assassina de homens, ou onde vais, conquistador do espaço? 'A alma respondeu e disse, 'o que me agarra é morto; o que se volta para mim é superado; meu desejo se acabou e a ignorância está morta. Em um mundo eu fui salva de um mundo, e em um "tipo", de um "tipo" mais alto e da corrente da impotência de conhecimento, a existência do que é temporal. Desde agora eu alcançarei descanso no tempo do momento do Eon no silêncio.' "

            Quando Maria disse isto, ela ficou em silêncio, visto que o Salvador tinha falado assim com ela. Mas André respondeu e disse aos irmãos, 'Diga o que pensas com relação ao que ela disse. Porque eu não acredito que o Salvador disse isto. Porque certamente estes ensinos são de outro tipo."

            Pedro também se opôs a ela com respeito a estes assuntos e lhes perguntou pelo Salvador. "Então falou secretamente com uma mulher [cf. Jo 4.27], de preferência a nós, e não abertamente? Nós voltamos e todos a escutaram? Ele a preferiu a nós? "Então Maria afligiu-se e disse a Pedro, "Meu irmão Pedro, o que pensas? pensas que eu pensei isto por mim mesmo em meu coração ou que eu estou mentindo com relação ao Salvador?"

            Levi respondeu e disse a Pedro, "Pedro, tu és sempre irascível. Agora vejo que disputas contra a mulher como a adversários. Mas se o Salvador a fez merecedora, quem és tu para a rejeitar? Seguramente o Salvador a conheceu muito bem [cf. Lc 10.38-42]. Por isso ele a amou mais que nós [cf. Jo 11.5]. E nós deveríamos estar bastante envergonhados e deveríamos nos revestir do Homem Perfeito, para nos formar [?] como ele nos ordenou, e proclamar o evangelho, sem publicar uma ordem ou uma lei adicional além daquela que o Salvador falou. Quando Levi disse isto, eles começaram a sair para proclamá-lo e pregá-lo.

            Maria Madalena (em grego: Μαρία ἡ Μαγδαληνή) é descrita no Novo Testamento como uma das discípulas mais dedicadas de Jesus Cristo. É considerada santa pelas diversas denominações cristãs e sua festa é celebrada no dia 22 de julho.

            A Igreja Católica, seguindo São Gregório Magno, além de a identificar como a "pecadora" de Lucas 8:2, algo que a moderna exegese desmente, também a identifica como sendo a mesma Maria de Betânia, irmã de Lázaro, e celebra as "Três Marias" em uma única festa. A Igreja Ortodoxa, ao contrário, seguindo Orígenes, distingue as três figuras, celebrando três festas diferentes, nomeadamente no segundo domingo após a Páscoa.

            "Madalena" não era o seu sobrenome, como popularmente se acredita. No seu tempo de vida o conceito de "sobrenome" não existia entre o povo judeu. O nome Madalena na realidade é um adjetivo que a descreve como sendo natural de Magdala, cidade localizada na costa ocidental do Mar da Galileia.

            Maria Madalena no Novo Testamento
            Ela acreditava que Jesus Cristo realmente era o Messias. (Lucas 8:2; Lucas 11:26; Marcos 16:9). Esteve presente na crucificação e no funeral de Cristo, juntamente com Maria de Nazaré e outras mulheres. (Mateus 27:56; Marcos 15:40; Lucas 23:49; João 19:25). Após o por do sol do dia sagrado judaico, o sábado, quando este findava, segundo o costume bíblico, ela comprou certos perfumes a fim de preparar o corpo de Cristo da forma como era de costume. Permanecera na cidade durante todo o sábado, e no dia seguinte, de manhã muito cedo, "quando ainda estava escuro" foi ao sepulcro. Maria estava da parte de fora, a chorar, debruçou-se para dentro do túmulo e viu dois anjos vestidos de branco sentados onde tinha estado o corpo de Jesus, um á cabeceira e outro aos pés. Perguntaram-lhe "Mulher por que choras?" E ela respondeu "porque levaram o meu Senhor e não sei onde O puseram", dito isto, voltou-se para trás e viu Jesus de pé, mas não O reconheceu. E Jesus disse-lhe: " Mulher, porque choras? Quem procuras? Ela pensando que era o encarregado do Horto disse-Lhe: Senhor se foste tu que O tiraste, diz-me onde O puseste, que eu vou busca-l'O. Disse-Lhe Jesus: "Maria!" Ela aproximando-se exclamou em hebraico: " Rabbuni!"- que quer dizer Mestre! Jesus disse-lhe; "Não me detenhas, pois ainda não subi para o Pai; mas vais ter com os meus irmãos e diz-lhes: "Subo para O meu Pai que é vosso Pai, para O meu Deus que é vosso Deus" :Maria Madalena foi e anunciou aos discípulos: "Vi o Senhor!" E contou o que Ele lhe tinha dito. (João 20:18; Mateus 28:1-10; Marcos 16:1-11; Lucas 24:1-10; João 20:1-2). Nada mais se sabe sobre ela a partir da leitura dos evangelhos canónicos.

            Em Lucas 8:2, faz-se menção, pela primeira vez, de "Maria, chamada Madalena, da qual saíram sete demônios". Não há qualquer fundamento bíblico para considerá-la como a prostituta arrependida dos pecados que pediu perdão a Cristo; também não há nenhuma menção de que tenha sido prostituta. Este episódio é frequentemente identificado com o relato de "Maria aos pés de Jesus" em Lucas, ainda que não seja referido o nome da mulher em causa.

            No livro Aos Pés de Jesus (2000), o escritor adventista Doug Batchelor levanta a hipótese de que Maria Madalena, Maria de Betânia (irmã de Marta e Lázaro), a pecadora de Lucas 7 e a adúltera de João 8 tenham todas sido a mesma pessoa.

            Teorias
            Alguns escritores e estudiosos contemporâneos, principalmente Margaret George, Henry Lincoln, Michael Baigent e Richard Leigh, autores do livro O Santo Graal e a Linhagem Sagrada (1982), e Dan Brown autor do romance O Código da Vinci (2003), narram Maria Madalena como uma apóstola, mulher de Cristo que teve com ele, inclusive, filhos. Nessas narrações, tais fatos teriam sido escondidos por revisionistas cristãos que teriam alterado os Evangelhos.

            Estes escritores teriam baseado suas afirmações nos Evangelhos Canônicos e nos livros apócrifos do Novo Testamento, além dos escritos gnósticos. Segundo os evangelhos aceitos pela Igreja Católica, Jesus Cristo, o "filho de Deus", não veio à Terra para se casar e muito menos ter filhos. Portanto, para os preceitos desta Igreja, Maria Madalena não foi e nem poderia ter sido a esposa de Jesus Cristo.